Cultura Pop
Chocando geral: quando Cher e Gregg Allman casaram e lançaram um disco juntos
Musicalmente, parecia não haver nada mais fora de esquadro do que Cher (uma das damas do pop norte-americano, eternamente preocupada com aparência e a jovialidade) e Gregg Allman (um dos nomões do rock sulista, drogado até a medula, homem-problema milenar, morto em 2017). Só que os dois formaram um casal que durou três anos e, para o espanto de fãs de ambas as partes, ainda rendeu um disco: Two the hard way, de 1977, creditado a nada menos que… Allman and Woman.
O disco ficou pouco tempo em catálogo na época e nunca nem sequer foi reeditado em CD. Cher ficou com os masters do álbum e nunca fez nada com ele. O encontro do rock sulista de Allman com o pop de Cher deu numa sonoridade mais voltada para o soul e para o blues, com o guitarrista tomando à frente dos vocais e da produção. Sim, a capa do disco é brega e saiu retocada de maneira cafona. O disco saiu em novembro de 1977 e iniciou uma turnê que duraria 29 shows – só que, enfim, o casal se separou no começo da tour.
Na época, quem ouviu, falou mal: o guia de discos da Rolling Stone classificou o LP como “o fundo do poço”. No Spotify, Deezer, etc, não tem. Procurando por “Allman and Woman” no Spotify dá para achar Can you fool, uma das faixas do disco. No YouTube, até o momento, tem o disco inteiro.
O casal Gregg Allman e Cher se juntou numa época em que a vida andava estranha para os dois. A cantora tinha se separado havia um ano de Sonny Bono, com quem, além do casamento, fizera real sucesso na TV e nos discos. Em 1974, estava namorando o homem de disco David Geffen, tentava voltar a emplacar hits e estava prestes a gravar uma série de discos pela Warner que acabariam ignorados (e assim como Two the hard way, nunca mais foram reeditados).
Já Allman havia tido uma separação bizarra de sua própria Allman Brothers Band – sendo chamado de delator pelos colegas de banda após testemunhar em juízo contra um gerente de turnê de quem havia comprado drogas (“era isso ou ir para a cadeia”, chegou a declarar o músico). Estava tão afundado em drogas pesadas que, logo no primeiro encontro com Cher, usou heroína na frente da cantora (o casal saíra para jantar e acabou na casa da atriz Judy Carne, onde rolou uma sessãozinha de drogas) e… apagou no sono. Gregg ligou para Cher para pedir desculpas, rolou um segundo encontro e aí deu certo.
Nunca foi uma relação das mais tranquilas. Cher e Allman casaram-se em 1975, foram morar em Hollywood e viraram queridinhos das revistas de fofocas – um público para quem o roqueiro sulista não significava nada além de “o novo marido de Cher”. Gregg prometeu se endireitar mas continuou fraquejando nas drogas. Certa vez foi buscar na escola a filha de Cher, Chastity, mas estava tão doidão que se perdeu no caminho.
Cher teve que interromper as gravações de seu programa de variedades na CBS porque o estresse do casamento a deixou com um problema sério de acne. Resolveu encerrar a relação e ligou para Gregg para comunicar que estava tudo acabado. Em vão: o guitarrista estava tão chapado que nem entendeu o que ela disse.
O casal continuou mesmo assim, mas em 1976 quem desistiu da relação (temporariamente) foi Gregg. O motivo: Cher resolveu aceitar fazer novamente o Sonny and Cher Show ao lado do ex-marido, e o músico ficou enciumado. Uma novidade acabou fazendo com que a separação não acontecesse: Cher descobriu que estava grávida de Elijah Blue, único filho do casal, nascido em 1976.
Gregg poderia respirar aliviado: o novo show de Sonny e Cher provocou tanta confusão na cabeça dos antigos fãs da dupla que não durou muito tempo. Mas o enlace também não resistiria às baixas vendagens de Two the hard way e ao abuso de álcool e drogas por parte de Gregg. No fim daquele mesmo ano de 1977, Cher e Gregg já não eram mais um casal.
O relacionamento deixou, er, marcas na vida de Cher. Em 1979, depois de um namoro com ninguém menos que Gene Simmons, do Kiss, ela chegou a falar numa entrevista à People que Gregg era “um excelente marido e pai, mas ele depois se esquece disso e tudo vira uma merda”, contou. O músico Elijah, filho dos dois, passou um bom tempo tendo contato dosado com o pai, estudando em um colégio interno. Numa entrevista, contou que aos 11 anos já ia comprar drogas no Harlem e que começou a desenvolver dependência química. Hoje está bem.
Ah, sim, Cher prestou uma homenagem a Gregg quando ele morreu, em 2017, após desenvolver vários problemas de saúde por causa do uso de drogas.
never forget….gui
??chooch pic.twitter.com/q3BWnnNohp— Cher (@cher) May 27, 2017