Cultura Pop
Charlie Watts: dez músicas dos Rolling Stones para querer tocar bateria
Pode não parecer, mas os Rolling Stones não são feitos de aço. As piadas sobre “precisamos pensar em que mundo vamos deixar para os Stones” e “no fim do mundo só sobrevivem as baratas e o Keith Richards” escondem muita tristeza e amargura. Heróis do rock não são personagens de desenho animado, do tipo que são esmagados por um trator e saem transformados em borracha. Eles são pessoas reais, têm que lidar com idas ao geriatra, com sequelas da idade (Mick Jagger já adiou turnê por causa de desordens no coração), depressão, questões familiares, etc. E, sim, quando o fardo é pesado demais, eles vão embora. Desde esta terça (24), o baterista Charlie Watts é o terceiro stone a morrer (o segundo foi o fiel escudeiro Ian Stewart, integrante da primeira formação da banda, em 1985; o primeiro, você talvez saiba, foi o fundador Brian Jones, em 1969).
O toque de Watts, tido como “elegante e discreto” (adjetivos usados por meio mundo) formou escolas de músicos. Aliás, até mesmo em estilos como rock progressivo e heavy metal, é possível achar bateristas que criam espaços para os músicos se soltarem, e que têm visão de grupo – características que sempre foram típicas do som dele. A receita de Watts também é uma grande escola para quem começa a se aventurar no instrumento e quer conhecer o som de um baterista preciso, eficiente e que, lá de trás, dita todo o andamento de sua banda. Ao contrário de deuses da bateria como Neil Peart (Rush) e Keith Moon (Who), Watts não parecia que estava sendo engolido pelo instrumento, mas destacava-se no palco como quem estava no controle absoluto dos tambores.
E se você está aproveitando a pandemia para começar a ensurdecer os vizinhos, seguem aí dez músicas dos Stones para você colocar numa playlist e treinar em casa.
“PAINT IT BLACK” (da versão americana do disco Aftermath, de 1966). Com um arranjo surgido de experimentações de Bill Wyman com um órgão e de Brian Jones com música indiana, essa canção é de Mick Jagger & Keith Richards, mas poderia ser creditada a todo mundo da banda (bom, Wyman já reclamou da falta de crédito algumas vezes). Watts contribuiu com a percussão e com a batida intermitente da música.
“(I CAN’T GET NO) SATISFACTION” (na versão do disco Got live if you want it!, de 1966). A ideia de fazer um disco ao vivo dos Stones numa época em que pouca gente fazia discos ao vivo parecia absurda: gravar shows era complicado e as plateias faziam muito barulho. Para compensar, os Stones viraram quase uma banda de hardcore, em versões energéticas de várias canções do grupo, como Under my thumb e Satisfaction. Mal dá para enxergar o Watts “elegante” aqui.
“RUBY TUESDAY” (do disco Between the buttons, de 1967). Pra você ver que até bateristas podem ser delicados: unindo estilos que vão do soul ao jazz, Watts praticamente redefiniu a bateria na era psicodélica, deixando um legado enorme para todos os futuros bateristas discretos e bons de ritmo.
“HONKY TONKY WOMEN” (single, 1969). O produtor Jimmy Miller puxa o ritmo num cowbell, e lá vai Watts dando o andamento da música, composta pelos Stones durante uma temporada em Matão, São Paulo. E que serviu como berro do parto do hard rock setentista (e do glam rock).
“BROWN SUGAR” (do disco Sticky fingers, de 1971). Poucas coisas combinam mais do que a marcação cerrada entre todos os integrantes dos Stones nessa faixa, com Keith dando uma de capitão do time, e Watts preciso como um relógio.
“IF YOU CAN’T ROCK ME” (do disco It’s only rock´n roll, de 1974). O encarte do décimo-segundo disco dos Stones traz o cast do álbum “em ordem de entrada”. Apesar do primeiro nome a constar da ficha ser o de Keith Richards, o primeiro som que se ouve no disco é o de Charlie Watts dando uma virada rápida e ditando o ritmo.
“HANG FIRE” (do disco Tattoo you, de 1981). Charlie Watts, antes de qualquer coisa, tocava bateria para fazer o público dançar. Isso fica bastante claro nessa curta faixa, uma das mais alegres da banda – presente no repertório de um disco que completou 40 anos nesta terça (24), justamente o dia em que o baterista do grupo morreu.
“UNDERCOVER OF THE NIGHT” (do disco Undercover, de 1983). Os Stones aderindo à moda do clipe de aventuras, com tiros, perseguição policial, muita porrada e Mick Jagger de bigode falso. Charlie Watts consegue soar, simultaneamente, moderninho, suingado, robótico e pesado
“MIXED EMOTIONS (do disco Steel wheels, de 1989). Música tocada no bom e velho estilão de Watts, com espaços para o baixo seguir o bumbo e a guitarra base encaixar sons e ritmos.
“I GO WILD” (do disco Voodoo lounge, de 1994). Quase uma composição Jagger-Watts, apesar de ser creditada ao vocalista e seu parceiro de sempre. O cantor criou quase toda a melodia na guitarra, com o baterista fazendo os grooves.