Crítica
Ouvimos: Bella e o Olmo da Bruxa – “Afeto e outros esportes de contato”
RESENHA: O Bella e O Olmo da Bruxa une emo, shoegaze e até pagode em Afeto e outros esportes de contato, disco intenso sobre amor, dor e vulnerabilidade.
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Com experimentalismos musicais, guitarras circulares e vibe trevosa herdada de uma mescla de emo, shoegaze e guitar rock noventista, a banda gaúcha Bella e O Olmo da Bruxa chega a uma receita bastante provocadora em seu segundo disco, Afeto e outros esportes de contato. Julia Garcia, Felipe Pacheco, Ricardo De Carli e Pedro Acosta mexem em sonoridades que aludem a bandas como Pixies, Turnstile e até os emos veteranos do American Football, mas que em vários momentos mostram que a banda está firme na mistura de emo e música brasileira.
Essa união transparece nas linhas vocais em no desenho melódico da faixa Bem no seu aniversário, que abre o álbum – mas é jogada de vez na cara do/da ouvinte na música de encerramento, Teu pra vida toda/Uma rosa sem espinhos, que é nada menos que um pagode feito por Acosta, vocalista e principal compositor da banda. E sim, absoutely pagode, no romantismo, na letra derramada e nos corais da música.
Só por esse detalhe, já dá para perceber que o Bella tem três coisas: 1) coragem; 2) total descompromisso com as normas do “rock brasileiro”; 3) paixão em falar sobre os afetos, amores e vulnerabilidades da vida. Afeto e outros esportes de contato é um disco que fala basicamente sobre marcas doloridas do que se foi, em faixas como a weezeriana E as frases?, o power pop Briga de irmãos e outras cadeias de violência, o quase grunge Hematomas no campo do nada e o emo sinuoso Mesmo assim – esta, com participação de Sophia Chablau. Já Eu sei, é foda, segue o alto-quieto-alto receitado pelos Pixies.
Nem tudo é desilusão em Afeto, vale dizer. Nova paixão, rock altamente batido na guitarra, traz sopros de renovação na letra – com versos como “nada muda sem deixar algumas de suas partes para trás” e “nada muda se o conforto ficar”. Deus, gay, rock com estileira folk, pega em fios de alta tensão falando de religião e homossexualidade (“se deus não existe mesmo / então qual é o mal da gente se amar?”).
O grupo também mexe em um vespeiro importante ao abordar saúde mental, descaso e falta de comunicação numa faixa chamada Vou me matar. Um pós-punk em alto volume, que tranquiliza: “vou me matar / na verdade não vou não” – e avisa para quem finge não enxergar a dor do outro: “eu apareceria no seu jornal / e todo setembro / vocês iam lembrar de mim”.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 25 de agosto de 2025.