Cultura Pop
Dez horas do solo de sax de Baker Street, de Gerry Rafferty
Se você já se divertiu muito ao som de Baker street, sucesso de 1978 do cantor escocês Gerry Rafferty, saiba que a culpa de metade da graça da canção é de um sujeito chamado Raphael Ravenscroft. Foi ele o saxofonista que tocou o riff que marca a canção.
Esse riff tem certa polêmica por trás. Raphael diz que criou a parte de sax da música como algo “para ser cantado”, e que resolveu fazê-la porque a canção original que foi entregue a ele por Gerry tinha “um monte de buracos”. Raphael tinha aparecido com um sax soprano na hora da gravação, a pedido dos produtores (o instrumento pode ser escutado no comecinho da faixa), e sugeriu que, no riff principal, fosse usado um sax alto que ele tinha guardado em seu carro.
Mesmo com a alegação do músico de que a canção tinha espaços vazios, quando o disco City to city foi relançado em CD em 2011, surgiu uma versão demo com Rafferty tocando o riff “de sax” em sua guitarra, bem antes de Raphael entrar na jogada.
O livro The Cambridge companion to the saxophone, de Richard Ingham e Jonathan Cross, diz que por causa de Baker Street, o saxofone voltou a virar moda – começou a aparecer em comerciais de TV, em gravações de música pop. E, subitamente, o instrumento começou a virar uma opção bem bacana para músicos iniciantes. Tão bacana, que os saxofones ganharam uma disparada de vendas como não se via desde os anos 1920.
Baker Street representou uma enorme mudança para a carreira de Rafferty, um sujeito que já tinha conseguido sucesso como integrante do Stealers Wheel, banda do hit Stuck in the middle of you, mas cuja carreira solo permanecia parada – problemas contratuais o haviam deixado longe dos estúdios por três anos.
Ele nunca mais conseguiu outro sucesso igual. Seus problemas com álcool o afastaram da vida profissional e o colocaram numa espiral de auto-destruição que culminou em sua morte, em 2011. Jon Brewer, que empresariou Rafferty durante seu período de sucesso, recorda que o amigo odiava dinheiro e bens materiais. “Ele se recusava a andar nos meus Rolls Royces, ele não se sentava nos meus escritórios, nós tínhamos que nos encontrar em pubs”, contou aqui.
Em 1992, você deve lembrar, o grupo britânico de dance music Undercover regravou a música e levou Baker Street de volta às paradas. Essa versão tocou tanto no rádio e nas pistas de dança que muita gente que nasceu bem depois de 1978 acredita piamente que a música é do Undercover.
Os Simpsons já usaram a música nas aulas de sax de Lisa.
Baker Street também apareceu no quadro do Padre Gato do Hermes & Renato.
Um outro hit de Gerry, Right down the line, ganhou uma versão brega não-oficial feita por um cara chamado Ronny Nascimento. O nome é Explosão do amor.
Mas o que interessa mesmo pra gente é que um sujeito com muito tempo livre fez uma versão de DEZ HORAS do solo de saxofone da música. De nada!