Cultura Pop
As sobras de Ziggy Stardust
The rise and fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars, disco de David Bowie que faz 50 anos no dia 16 de junho, não se resume apenas à sua lista de faixas: muitas músicas foram cortadas, deixadas de lado e até mesmo houve um título anterior, que foi descartado. Ao mesmo tempo, muita coisa foi composta na mesma época (ou até gravada) e se relaciona com o disco.
Fizemos uma listinha de músicas aí embaixo e você pode escutar tudo (menos uma das faixas, mais sumida que chapéu velho) na mixtape que a gente subiu no Mixcloud.
ARNOLD CORNS. Já falamos num passado bem próximo do projetinho que Bowie criou, com esse nome. Era o próprio cantor soltando a voz, ao lado de sua banda (Mick Ronson, Mick Woodmansey e Trevor Bolder), mas quem levava a fama de frontman era um estilista chamado Freddie Burretti, que usava o pseudônimo de Rudi Valentino. Músicas como Moonage daydream e Hang on to yourself, que apareceriam em Ziggy, foram gravadas nessas sessões, das quais participaram ainda músicos como Mark Carr-Pritchard (guitarra e alguns vocais) e Tim Broadbent (baixo).
“ROUND AND ROUND”. Originalmente intitulada Around and around, a música de Chuck Berry (lançada em 1958 como B-side do single de Johnny B. Goode) estava na primeira lista de faixas bolada por Bowie para Ziggy Stardust. Por muito pouco, o disco que seria Ziggy Stardust não se chamou Round and round, aliás. Só que o executivo da RCA Dennis Katz reclamou com Bowie que não havia um single no álbum, o cantor pensou, e tirou Round and round em favor de Starman.
“IT’S GONNA RAIN AGAIN”. No dia 15 de novembro de 1971, no Trident, Bowie e sua banda gravaram essa música, que vinha sendo apresentada em alguns shows. O livro The complete David Bowie, de Nicholas Pegg, diz que a canção acabou ficando de fora do disco porque mais parecia uma paródia do Bowie de antigamente, inclusive na referência a Bob Dylan (e sua A hard rain is a-gonna fall) do título. A letra, por outro lado, traz aquela que é a primeira referência a cocaína na obra do artista. A versão gravada nesse dia ficou sem final, e ninguém mais quis incluí-la. Nunca saiu nem em piratas e, claro, não está na mixtape acima.
“SHADOW MAN”. Há fontes que afirmam que essa música, possivelmente inspirada pelos estudos do psicanalista Carl Jung, foi uma das músicas gravadas nas mesmas sessões do dia 15 de novembro – e que logo em seguida ela foi descartada. Existe uma demo, que está até no YouTube. Foi resgatada anos depois para o disco Toy.
“VELVET GOLDMINE”. “Mesmo depois de John Lennon ter posado nu para a capa de um álbum, o mundo pop não estava preparado para um astro que confessava ter banhado o rosto do amante com sêmen”, diz Peter Doggett sobre essa canção cheia de referências a sexo oral, gravada nas sessões do disco, e que sobrou para o lado B do relançamento britânico de Space oddity em 1975.
“SWEET HEAD”. Gravada no Trident no dia 11 de novembro de 1971, tinha trechos ainda mais claros a respeito de sexo oral (note o título) e referências um tanto ofensivas a personagens negros e latinos. A música foi realmente escrita para Ziggy e estava na lista inicial, mas tanto Bowie quanto a RCA acharam que aquilo podia dar merda, e tiraram a música do álbum. Sweet head foi totalmente esquecida, mas foi relembrada quando saiu a versão em CD-com-bônus do álbum lançada pela Rykodisc em 1990.
“JOHN I’M ONLY DANCING”. Gravada depois de Ziggy (em setembro de 1972), é mesmo assim uma canção associada ao álbum, soando quase como uma continuação. A letra já suscitou várias discussões – se ela é sobre uma relação hetero em que um namorado tem ciúmes de uma garota, se é sobre um trisal bissexual, se é sobre ciumeira no mundo LGBTQIA+. Seja como for a RCA americana achou tudo pesado demais e o single só saiu na Inglaterra – e mesmo assim o Top of the pops baniu o clipe da faixa. Lou Reed está na guitarra base.
“LADY STARDUST”/”ZIGGY STARDUST”. Criadas, como diz o pesquisador Peter Doggett, para serem canções irmãs, essas duas músicas foram gravadas numa demo simples em março de 1971, com Bowie cantando e tocando piano (na primeira) e violão (na segunda). Essas duas versões apareceram quando saiu a versão em CD-com-bônus do álbum lançada pela Rykodisc em 1990.
“HOLY HOLY”. Essa música é praticamente um caroço na obra de Bowie: foi lançada em janeiro de 1971 como o último material inédito do contrato do cantor com a Mercury, e apesar de uma campanha massiva da gravadora, não deu nada certo. Foi regravada nas sessões de Ziggy. Mick Ronson (guitarra) fez os arranjos e deu mais ânimo à música, mas ainda assim ela ficou de fora do disco, apesar de ter entrado até na lista inicial de canções Só reapareceu em 1974 como B-side de Diamond dogs.
“AMSTERDAM”. A cover do cantor francês Jacques Brel foi inspirada pela versão da mesma música feita por um dos ídolos de Bowie, Scott Walker, e foi considerada para lançamento no disco de 1972. Só em 1973 sairia uma versão feita por Bowie, como lado B do single Sorrow.
“THE SUPERMEN”. Uma versão alternativa dessa música do disco The man who sold the world foi gravada em 1971 nas sessões de Ziggy, mas foi deixada de lado. Ressurgiu em 1972 num LP especial do festival de Glastonbury, e muito tempo depois, na versão com bônus de Hunky dory, lançada pela Rykodisc em 1990.
“ALL THE YOUNG DUDES”. Bowie tocou essa música para o Mott The Hoople, quando a banda estava por se separar, e ofereceu ao grupo – após ter oferecido Suffragette city, faixa que apareceria em Ziggy, e que acabou rejeitada pela banda. Com Dudes foi diferente: os integrantes ficaram extremamente animados quando ouviram a faixa e gravaram rapidamente. Bowie gravou uma demo em 1972 e apresentou a canção na turnê Ziggy Stardust.