Cinema

Aquela vez em que Salvador Dalí criou um sonho para um filme de Hitchcock

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O criador surrealista Salvador Dalí (1904-1989) e o diretor de filmes de suspense Alfred Hitchcock (1899-1980) tinham mais a ver um com o outro do que se imagina. Tanto que acabaram se encontrando e trabalhando juntos durante um dos filmes mais sui generis da história do cineasta americano, Spellbound (1945), que no Brasil ficou conhecido como Quando fala o coração. E que alguém colocou inteiro no YouTube, com legendas.

O filme surgiu de um favor de Hitchcock ao produtor David O. Selznick, que estava animadíssimo com a ideia de fazer um filme que girava em torno da psicanálise. Pôs uma baita grana no projeto, e Hitchcock sugeriu comprar os direitos do romance The House of Dr Edwardes, lançado em 1927 pela dupla John Palmer e Hilary A. Saunders (que assinou o livro como Francis Beeding), para que o filme se baseasse nele.

A história de Quando fala o coração (que em Portugal passou como A casa encantada) gira em torno da Dra. Constance Petersen (Ingrid Bergman), que trabalha como psicanalista no Green Manors, um hospital psiquiátrico comunitário em Vermont, e que costuma ser julgada pelos colegas homens como “pessoa desprovida de emoção”. O rolo começa quando o diretor do hospital, Dr. Murchison, decide se aposentar por exaustão nervosa.

Para substituí-lo, aparece um médico bem jovem chamado Anthony Edwardes (Gregory Peck), que tem amnésia dissociativa, não consegue se lembrar direito de quem é e, enfim, descobre-se depois que o verdadeiro Edwardes foi assassinado. Ao contrário de qualquer filme hollywoodiano em que o macho alfa protege a mocinha ou toma a iniciativa, Constance passa a cuidar do falso Edwardes (que na real se chama John Ballantyne) e os dois se apaixonam. Bom, na vida real, Ingrid e Peck tinham seus próprios relacionamentos e iniciaram um caso que chocou todo mundo.

Aparentemente, Quando fala o coração é um desses filmes cujas histórias internas são tão curiosas e malucas quanto o roteiro do próprio filme. Selznick pôs seu próprio psicanalista para dar consultoria para o filme – Hitchcock não estava muito feliz com isso e volta e meia barrava alguns pitacos do doutor. O diretor, por sua vez, convidou ninguém menos que Salvador Dalí para criar uma sequência de sonho de Edwardes. Que durava, na concepção inicial de Hitchcock, vinte minutos (e por sinal, deixou o produtor meio puto).

Selznick acabou sendo convencido a deixar Salvador Dalí trabalhar no filme porque, ora bolas, isso iria trazer muita publicidade para Quando fala o coração. Só que reduziu a sequência de sonho para dois minutos. O lance tem cenários típicos de Dalí, com vários olhos, uma roda “derretendo” e cenas numa casa de apostas. A ideia de Hitchcock era que o sonho virasse um condimento especial no filme e que as imagens não aparecessem borradas, como era de costume. “Dalí foi o melhor homem para fazer os sonhos, porque é assim que os sonhos deveriam ser”, afirmou o diretor anos depois.

Pega a sequência aí.

Via Another Mag

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