Cinema

Aquela vez em que Christiane F. virou cantora

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Lembra daquela adoração que Christiane Felscherinow, a popular Christiane F, tinha por David Bowie? E que ocupa algumas páginas do livro Eu, Christiane F, 13 anos, drogada e prostituída, dos jornalistas Kai Hermann e Horst Rieck? Aliás, ocupa também vários minutos do filme de mesmo nome, dirigido por Uli Edel (e que, impossível você não saber, acaba de ser relançado nos cinemas)?

Foi pro saco. Pelo menos é o que ela contou no livro Eu, Christiane F.: A vida apesar de tudo, escrito por ela ao lado de Sonja Vukovic. Quando o filme estava sendo feito, Christiane – já com 19 anos, longe da prostituição e pegando tão leve quanto possível nas substâncias ilícitas – foi chamada para assistir o copião do filme e dar sugestões. E a tal cabine aconteceria em Lausanne, na Suíça, na casa de… David Bowie, que também daria seus pitacos.

Só que Chris ficou extremamente decepcionada ao ver que seu ídolo era baixinho, magrelo, ensimesmado e usava bigode – sim, ele usou um no comecinho dos anos 1980. E sentiu-se mais vendida ainda quando Bowie fez a virada para o pop maduro no disco Let’s dance (1983). “Eu tinha gostado do artista, o homem-cão exótico da capa de Diamond dogs. O louco fora das normas. Mas isso tudo tinha passado, e ele não era mais o que a garotinha que fui havia visto nele”, recorda, dando voz a uma decepção que muita gente também sentiu, mas não contou pra ninguém.

Bom, seja lá como for, Bowie e Christiane F foram colegas de profissão (!) durante um curto período no começo dos anos 1980. Primeiro porque, vivendo em Hamburgo num apartamento onde havia um estúdio de alta rotatividade, ela começou a ficar amiga de vários nomes importantes das cenas punk e industrial da Alemanha, inclusive integrantes de grupos como Einstürzende Neubauten. Com o filme lançado, Christiane foi aos EUA fazer divulgação e acabou sendo entrevistada no programa de rádio do DJ Rodney Bingenheimer – diz ela que apresentou Nena e o hit 99 luftbaloons a ele, o que colaborou para o estouro do grupo fora da Alemanha. E o contato com tanta gente da música acabou deixando-a animada para virar cantora.

Olha aí as músicas do EP Final church, lançado por ela em 1982 com o nome artístico de Christiana. Nesse disco ela contou com a colaboração de músicos como o guitarrista Alexander Von Borsig, integrante de bandas como Mekanik Destruektiw Komandoe. O som lembra Public Image Ltd do começo e tem os dois pés no dub e na manipulação de tapes.

No mesmo ano saiu o EP Gesundheit!, com essa pérola synthpop cantada em inglês e alemão, Wunderbar.

O EP tinha também esse pesadelinho pós-punk-robótico, que mais parece um desdobramento experimental do Joy Division, Heimweh.

No livro, Christiane F recorda que o material de Gesundheit! foi gravado durante uma temporada alegre em Pasadena, região de Los Angeles, para onde havia ido com uns novos amigos que conhecera em Berlim. O enrosco com a música não durou muito, não, já que ela diz nem ter levado nada a sério. “Eu sabia que não era nenhuma supercantora ou uma atriz genial”, disse. Mas, na época, Suchtig, a primeira faixa do EP Final church, ganhou até clipe.

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