Lançamentos
Aloysio Letra: subjetividades de um homem negro e periférico em EP
Entre referências de nomes como Salif Keita e Sade Adu, o cantor Aloysio Letra estreia com o EP Depois, com quatro faixas que, ele ressalta no texto de apresentação, são guiadas “por temas como saúde mental, luto e fé, sempre retratados a partir das subjetividades de um homem negro e periférico”.
“Este é um trabalho que fala sobre quem se foi e o que pensa, quer e sente quem ficou nesse sumidouro de gente preta que é o território brasileiro. Tento responder como é a sensibilidade de pessoas pretas sobreviventes do genocídio da população negra. Falo de futuridades. Reflito sobre como lidar com as perdas e, sobretudo, como buscar forças para prosseguir”, conta.
“Penso novas manhãs… Novos e velhos aquilombamentos que façam a solidão passar e as feridas sararem. Este é um acalanto musical afetivo e intimista. Aqui homenageio o grande amigo e parceiro na cultura, que perdi em 2017, Daniel Marques Sundiata. Foi esse registro que me abraçou em tempos que, para mim, foram muito difíceis”, complementa.
O disco de Aloysio tem bastante a ver com a diversidade da MPB dos anos 1990 – lembrando, em alguns casos, a fase acústica de Caetano Veloso na década anterior. Tem vocais sensíveis, baladas acústicas (Flor de baobá) misturadas a sambas (a bela Sundiata, do verso “poeta é deboche que samba na cara da ofensa/é a flecha que espanta tanta indiferença”), além da delicadeza de Depois e do balanço de Áfrika (essa, com Luedji Luna).
“É importante se vestir de ternura para enfrentar as lutas. Ter amor em si, afetos diversos que podem ser celebrados. Celebrar as lutas de outres, torcer pelo bem viver coletivo da população preta periférica. Desejo passar um legado coletivo de sobrevivência, porque apesar de ser um trabalho solo há uma preocupação de pluri-protagonismo, ou seja, de transmitir que para um trabalho como esse ser possível e partir das periferias para o mundo, os trabalhos de várias pessoas foram necessários ao longo da construção. Esse é um trabalho de uma pessoa que é cria (expoente) dos saraus das periferias e dos movimentos de cultura das periferias das últimas duas décadas”, diz Aloysio no texto de lançamento do EP.
O músico vai fazer shows em São Paulo em setembro pra divulgar o disco – começando no dia 17 pelo Centro de Culturas Negras do Jabaquara Mãe Sylvia de Oxalá, a partir das 18h (foto Joyce Prado | Oxalá Produções/Divulgação).