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A MPB do ano de 1979 em livro: descubra!

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1979 foi, depois de 1973, o ano mais significativo para a música brasileira da década de setenta. A palavra “abertura”, como distensão da ditadura militar, virou tema de discussão naquele ano. Além disso, a música independente conseguiu virar até sucesso de vendagens (graças ao Boca Livre), a MPB foi invadida por um número significativo de cantoras-compositoras, Rita Lee virou o jogo com Mania de você (e o LP epônimo lançado naquele ano), o pop brasileiro ganhou o reforço do 14 Bis – um intermediário entre a MPB mineira e o rock brasileiro dos anos 1980 – entre outras novidades.

O pesquisador Célio Albuquerque já tinha convocado uma turma de jornalistas, escritores e músicos para falar de discos de 1973 no fundamental 1973: O ano que reinventou a MPB (Editora Sonora) e agora viaja seis anos à frente em 1979: O ano que ressignificou a MPB, que sai em julho de 2022 pela Garota FM Books e já está em crowdfunding pelo Catarse. No livro, mais de 90 LPs desse ano ganham histórias escritas por artistas e jornalistas, incluindo álbuns como Frutificar (A Cor do Som, por Ricardo Puggiali), Na Terra a mais de mil (Pepeu Gomes, por Leandro Souto Maior), Sol de primavera (Beto Guedes, por Daniella Zupo), Senhora da Terra (Elza Soares, por Gilberto Porcidonio), Sorriso de criança (Dona Ivone Lara, por Kamille Viola) e a estreia epônima do 14 Bis (por Emilio Pacheco). Este que vos escreve, contribui com um texto sobre o disco de Fabio Jr daquele ano (o que tem Pai).

Bati um papo com Celio sobre o livro, sobre o ano de 1979, sobre a música da época, e aproveito para convocar você para colaborar no crowdfunding.

Qual é a do ano de 1979, musicalmente falando?

A música popular brasileira é rica, e como diz Joyce Moreno a “MPB tem resposta pra tudo, e sempre prova”. E a música, em particular no Brasil, é um reflexo do país e suas aspirações. Ao mesmo tempo que a moda das discotecas ainda balança a galera o samba se fazia presente, resistindo, com pilares como Nelson Sargento e Cartola lançando seus discos e João Nogueira formalizando a resistência com seu Clube do samba.

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A MPB estava numa transição. E o disco da Fafá de Belém, por exemplo, é um referencial a isso. Ela que surgiu com o Tamba tajá, em 1976, mais raiz, migrava para algo mais linguagem radiofônica. Curiosamente, tocava-se muito brasileira instrumental nas rádios (algo que já acontecia um pouco antes) e a produção independente, iniciada oficialmente por Antonio Adolfo em 1977, com o LP Feito em casa, desabrocha com o primeiro disco do Boca Livre, sucesso de rádio. E tudo isso, com os grandes dos festivais, como Caetano, Gil e Milton por exemplo, lançando discos em que propunham novos caminhos.

Vale dizer que a produção independente ganharia tanto gás, sinalizando oportunidades, que até Emilinha Borba, uma das rainhas da era de ouro do rádio, lança em 1981 o disco independente Força positiva.

Uma impressão que eu tenho é que a produção nacional feita entre 1978 e 1981 (e 1979 meio que balizou isso) foi o auge da música “inclassificável” no Brasil, daquele som que podia passar como “rock”, ou “pop” porque tinha atitude, mas que não tinha rompido os elos com a MPB. Como você vê isso?

Creio que seja por aí. É um momento de transição política e musical. A indústria passa a direcionar o cenário mais para o pop. Porém, também é mais do que isso porque a música do Brasil é muito mais do que consumimos nos grandes centros, a explosão sertaneja das últimas décadas aponta pra isso.

Foi o ano do início do governo Figueiredo e um ano em que a palavra “abertura” virou palavra de ordem – tanto que Glauber Rocha a usou para batizar seu programa na TV Tupi. No que você acha que isso repercutiu na música?

A Abertura política, ou a sensação de abertura política, dá ares de esperança de novos amanhãs e a produção musical mesmo cantando as mazelas desse país tão maltratado, ganha sopros de jovialidade. Rita Lee e Ronaldo Resedá, por exemplo, dão um toque dançante e alegre. Mulheres como Fátima Guedes e Sueli Costa, sangram corações e ao mesmo tempo mostram-se fortes. E como o Brasil não é um só, nesse mesmo ano tem o fenômeno do disco em parceria do Agnaldo Timóteo e da Ângela Maria, que vendeu muito.

É um disco que não está no livro. Explico: havíamos combinado com um autor, que sabe tudo e mais um pouco do tema. Mas, ele teve que declinar por questões profissionais. Como não conseguimos um autor para tecer o texto, acabamos citando o disco no livro, não em um capítulo. Claro que entre os mais de 90 autores tem alguns que teriam competência para escrever sobre esse disco, mas já estavam comprometidos com outros LPs.

Nos EUA-Europa, o punk afrontou o rock de arena e as maquinações do showbusiness. No Brasil, quem você acha que teve esse papel?

Pessoalmente não consiga perceber nesse período alguém que tivesse esse papel de afronto com a indústria. Mesmo não tendo algo como movimentos, a cultura musical seguia vertentes, como sempre seguiu e criava suas perguntas e ela mesmo respondia.

A palavra “ressignificou”, que está no título, tem a ver com novos significados, como por exemplo para a participação da mulher compositora na música brasileira. Isso já vinha surgindo, principalmente com a Rita Lee, com a Joyce. Mas a mulher explode em 1979 com nomes como o de Fátima Guedes e da Angela Ro Ro, e da própria Joanna, que tem as parcerias, como a Sarah Benchimol. O momento político é o das pessoas discutirem política, mas há também uma esperança em novos tempos.

O movimento independente surgiu porque o sucesso do Boca Livre fez com que as pessoas percebessem que não é porque é independente que não pode ser vendável. Tanto que fazer música de forma independente, hoje, é uma coisa comum. Mas até 1977, 1979, não era. 1979 marca isso por causa da explosão do Boca Livre. Tanto que eles foram considerados “os musos” do verão de 1980.

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