Cinema

A Loteria: ritual macabro em livro e filme

Published

on

Quando a escritora americana Shirley Jackson publicou o conto A loteria no The New Yorker, em 1948, as reações foram as piores possíveis. Leitores indignados mandaram cartas, putos com aquela atrocidade e aquela violência “gratuita”. Muita gente avisou que iria cancelar a assinatura. Na África do Sul, a história foi censurada e proibida.

Por outro lado, ele ganhou fãs. Dá pra falar que tamanha rejeição foi sinal de que conseguiu mobilizar muita gente, seja lá o que estivesse passando pela cabeça dessa galera. E depois A loteria virou livro e ganhou versões em novela de rádio, filme, curta-metragem etc.

Se você nunca leu A loteria, tem uma tradução em português aqui, feita por Ana Resende. O texto é realmente assustador, por falar do diabo que mora em qualquer um de nós – e que é capaz de cometer violências com outras pessoas, a troco de nada.

É a história de uma cidadezinha de 300 habitantes, nos Estados Unidos, que vive da agricultura. O lugar tem um ritual macabro, que se repete todo dia 27 de junho, e que é chamado de “loteria”. A cada ano, papéis são sorteados e uma família da localidade fica com um papelzinho com um círculo preto desenhado. Isso indica que um membro da família é o escolhido para ser apedrejado até a morte por todos os presentes, incluindo seus parentes. A morte de uma das pessoas da comunidade é uma oferta anual feita a Deus, para ajudar na colheita.

Em A loteria, a simpática mãe de família Tessie Hutchinson é a “sorteada”. Tessie, por sua vez, reclama o tempo todo que “não foi justo” e que todo o sorteio foi feito com pressa. “Leve na esportiva, Tessie. Todos nós tivemos a mesma chance”, ela escuta de outras pessoas.

Se você quiser ter uma experiência mais complexa do que é o conto, o departamento de filmes educativos da Enciclopédia Britânica produziu um curta-metragem com a história em 1969. Segue aí embaixo, com legendas automáticas em inglês. Dica: o conteúdo é o mesmo do conto traduzido em português, sem muitas diferenças.

Desde o começo do vídeo, é possível ver que as pedras da região estão bem presentes na vida de todos. Inclusive das crianças, que brincam com elas. Antes do apredrejamento, uma criança bem pequena ganha uma pedra de sua mãe, para ajudar no ritual.

Após o filme, que dura 18 minutos, um professor da Universidade da Carolina do Sul chamado James Durbin faz uma discussão sobre A loteria. Explica que a violência partiu de pessoas que pareciam comuns. Só que elas “pegaram pedras e jogaram em Tessie. E ela não era culpada de crime nenhum”, diz. “Pode ser que o que acontece na história de Shirley Jackson seja um reflexo de nós mesmos. Ou de aspectos de nossa vida comunitária que não aprovamos e que tentamos esconder”.

Trending

Sair da versão mobile