Cultura Pop
A comunidade (er) hippie do B-52’s em Nova York
Logo que seu primeiro (e epônimo) disco fez sucesso, em 1979, o B-52’s começou a crescer o olho para o cenário novaiorquino. Criados em Athens (Georgia), Kate Pierson, Cindy Wilson, Ricky Wilson, Fred Schneider e Keith Strickland estavam prestes a embarcar para uma turnê no Japão e também estavam em busca de um lugar para ensaiar diariamente.
A solução para o grupo (que talvez tenha sido o nome mais hippie e comunitário da new wave americana) foi, por intermédio de uma grana investida pela gravadora, alugar uma casa enorme em Nova York para todos os integrantes morarem juntos e trabalharem o dia inteiro. Só que a tal casa era em Mahopac, um subúrbio novaiorquino, distante 76 quilômetros da cidade que nunca dorme.
Todos os integrantes do B-52’s sempre lembraram em entrevistas que a casa era enorme, e que tinha espaço suficiente para todo tipo de loucura que eles imaginassem. Desde ensaiar o dia inteiro até dar festas que nunca acabavam. O material de Wild planet, o segundo disco (de 1980), foi todo ensaiado por lá. “Quando tocávamos juntos, ficávamos nus durante tempestades, envoltos em lençóis e brincadeiras. Você escolhe, nós fizemos”, contou Kate Pierson numa entrevista ao site Milk.xyz, sobre a ocasião (rara) em que houve cinco passos entre o B-52’s e os Novos Baianos.
Numa das festas da turma, justamente o aniversário de Kate, a cantora precisou se desdobrar em três: ajudou pessoas que estavam sufocadas por causa de um incêndio no local, foi prestar socorro a um amigo doidão em seu quarto e ainda teve que auxiliar um grupo de crianças que tinha saído para dar um passeio de barco no lago (havia um lago do lado da propriedade). “Tudo isso depois de quatro doses de tequila”, recordou.
Com o tempo, a ideia de manter uma casa para a banda morar e ensaiar foi fazendo água. Primeiro porque, justamente por causa da distância, o grupo começou a se sentir mais num exílio do que numa comunidade. Segundo, porque a vizinhança começou a reclamar dos ensaios, das festas e do dia a dia da galera.
“A comunidade inteira sacou que havia uma banda de rock morando lá e começou a pensar em festas selvagens com uma tonelada de garotas circulando pela casa”, contou Keith num papo com a revista Spin, em 1990. Um advogado que morava do lado da casa ficou particularmente irritado com o fato de lá viverem homens e mulheres que não eram casados, e passava boa parte do tempo tentando impedir o grupo de montar um estúdio no local.
“E mais, era como o meio do nada. Você realmente tinha que dirigir para chegar a algum lugar. E era conhecida por ser uma cidade não muito amigável”, contou Schneider numa entrevista com o Bandcamp.
A animação do B-52’s com Mahopac durou três anos. Foi o tempo suficiente para as diferenças musicais começarem a aflorar na banda, e para o grupo começar a se desentender com o empresário, o novaiorquino Gary Kurfirst (também empresário de Ramones e Talking Heads). Ainda em Mahopac, B-52’s iniciou uma colaboração zicada com David Byrne, dos Talking Heads, que produziu o EP-que-devia-ter-sido-um-LP Mesopotamia, de 1982 – você já leu sobre isso aqui no POP FANTASMA. Depois veio o terceiro disco, Whammy!, de 1983. Integrantes da banda estão convencidos até hoje de que o clima de isolamento invadiu Mesopotamia, por causa de músicas como Throw that beat in the garbage can.
“Para mim, isso foi uma lição de vida. Keith, Ricky e eu compramos um local em Nova York mais tarde. Fred e Kate também encontraram apartamentos em Nova York, ficou uma situação muito mais saudável”, atalhou Cindy no tal papo com o Bandcamp.
Não achamos vídeos do B-52’s em Mahopac. Em compensação, fica aí com o clipe de Love shack, de 1989, filmado em outro matagal ali pelos arredores de Nova York (o estúdio dos ceramistas Philip Maberry e Scott Walker em Highland).