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4 discos: Tina Turner (1974-1979)

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Tina Turner não estreou solo com Private dancer, álbum de 1984, que já era o quinto disco dela. Quando ela ainda se apresentava com o ex-marido Ike Turner já havia um começo de carreira solo, sempre ofuscada pelo sucesso da dupla. E ofuscada mais ainda pela violência física e psicológica de Ike – um assunto que causava muita tristeza em Tina, morta nesta quarta (24).

Sozinha, Tina conseguiu projeção em 1975 como a Acid Queen do filme Tommy (a ópera-rock do Who levada para as telonas, dirigida por Ken Russell), o que não foi suficiente para atrair atenção para os discos que ela lançava na época. Após o divórcio em 1976, ela foi tentando se reerguer cantando em lugares pequenos, abrindo shows, fazendo outras aparições cinematográficas, mas a coisa só engrenou de verdade nos anos 1980, que é a fase que todo mundo encontra hoje nas plataformas digitais. Os primeiros álbuns, que perfazem um período bastante variado musicalmente, estão fora dos aplicativos de música e pelo menos um deles jamais saiu em CD. Relembre (ou conheça) essa fase abaixo…

“TINA TURNS THE COUNTRY ON” (United Artists, 1974). Apesar de produzido por um cara chamado Tom Thacker, o primeiro álbum solo de Tina foi uma ideia de Ike Turner, e acabou sendo gravado em seu estúdio, Bolic Sound. Ao que consta, Ike estava motivado pelo recente sucesso das Pointer Sisters com uma gravação country, Fairytale, que rendeu um Grammy para elas.

Mais do que não ter conseguido sucesso, a (ótima) estreia de Tina é um álbum desconhecido para muita gente: não rendeu singles, tinha apenas uma canção inédita (Bayou song, de P.J. Morse) e o repertório é composto por músicas de Bob Dylan (He belongs to me, Tonight I’ll be staying here with you), Dolly Parton (There’ll always be music), James Taylor (Don’t talk now) e Kris Kristofferson (Help me make it through the night) e outros. Foi lançado numa época em que a dupla vendia pouco e Ike, além de todo mal que já causava a esposa, estava viciadíssimo em cocaína. Nunca saiu em CD (mas saiu em vinil no Brasil na época).

“ACID QUEEN” (United Artists, 1975). O segundo disco de Tina foi o disco “de rock” dela nos anos 1970. Era uma mescla poderosa de soul, rock e disco, inspirada pela aparição dela no filme Tommy. E foi justamente uma ideia da United Artists para aproveitar o sucesso do filme, com a concordância parcial de Ike, que impôs um lado B com quatro músicas de autoria dele, incluindo um single da dupla, Baby get it on. O lado A, por sua vez, tinha Tina cantando Rolling Stones (Under my thumb, Let’s spend the night together), The Who (Acid queen, I can see for miles) e Led Zeppelin (Whole lotta love).

O disco chegou ao posto 155 da Billboard, aumentou o interesse pela carreira de Tina (e reduziu mais ainda o interesse em qualquer coisa que Ike fizesse) e pôs mais ainda a cantora no corredor do rock. Em meio à divulgação do álbum, Tina tentava de tudo quanto era jeito separar-se de Ike, e as separações sempre ganhavam caráter de fuga – mas ele sempre a localizava e era cada vez mais violento com ela.

“ROUGH” (United Artists, 1978). Depois do divórcio – que envolveu mais uma fuga de Tina, a ajuda de parentes e amigos e até empregos fora da música  – a cantora cortou o cabelo, mudou o guarda-roupa e lançou o terceiro disco. O primeiro, aliás, em que ela trabalhava sem nenhuma supervisão do ex-marido: Bob Monaco, um ex-A&R do selo ABC/Dunhill, cuidou da produção e a própria Tina selecionou material.

Rough era basicamente um disco de pop adulto unindo rock e disco music – na mistura, entravam músicas de Elton John (The bitch is back), Allen Toussaint (Viva la money), Bob Seger (Fire down below), Gary Jackson (Root, toot undisputable rock’n’roller). Tinha ainda a feminista A woman in a man’s world (Hal David e Archie Jordan), dos versos “tenho um sonho próprio/eu carrego meu próprio peso/mas ainda assim eles tentam me derrubar”.

“LOVE EXPLOSION” (United Artists, 1979). A quarta tentativa de Tina não animou muitos consumidores, não chegou sequer a ser editada nos Estados Unidos e representou o fim do contrato dela com a United Artists. Love explosion tinha bastante a ver com seu tempo: era um álbum basicamente de soul e disco music, produzida por um sujeito ligado em batidas dançantes (Alec R. Costandinos, ligado à Casablanca Records, produtor de eurodisco).

No álbum, Love explosion e Music keeps me dancing eram disco tracks bacanas, mas talvez soassem pouco originais numa época em que esse tipo de som dava sinais de esgotamento. Havia duas baladas já gravadas anteriormente por outras cantoras, I see home (por Patti Labelle) e Just a little lovin’ (por Dusty Springfield e Barbra Streisand). Enquanto Tina corria atrás, o desacreditado Ike vendia sobras de estúdio da dupla para gravadoras, e liberava o lançamento de coletâneas, para arrumar grana. Ike jamais voltaria ao mercado, Tina virou (como é público e notório) uma popstar de linha de frente.

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