4 discos
4 discos: Seymour Stein
Em 1998, a banda escocesa Belle and Sebastian gravou uma música chamada Seymour Stein, uma suposta homenagem-zoação com o dono da gravadora Sire, morto no último domingo aos 80 anos. O executivo que lançou Madonna e Ramones sempre teve fama de “salvador de projetos”, capaz de investir em grupos que à primeira vista não pareciam que seriam grandes sucessos, e igualmente capaz de lançar tendências. Tanto que é geralmente atribuída a ele a criação do termo new wave, como definidor da leva norte-americana, mais palatável, do punk.
Na real, a canção do Belle fala mais a respeito de uma tentativa frustrada da banda escocesa de se lançar nos Estados Unidos, do que sobre uma real intenção de ser contratado pela Sire. “Em 1996, uma gravadora nos contratou e nos mostrou para a cena de Nova York, mas não fizemos show nenhum”, lamentou o vocalista Stuart Murdoch à Rolling Stone. Seymour entra na canção como um símbolo de uma Nova York historicamente tida como repleta de clubes, de cenas, de bandas novas e de (vá lá) oportunidades que poderiam mudar a vida de um monte de bandas novas.
Nem tudo foram flores para o executivo: Seymour, que já trabalhava na Billboard desde bem novo, iniciou a Sire em 1966 e esperou até 1973 pelo primeiro sucesso da empresa. Esse sucesso foi o lançamento americano do LP Moving waves, da banda progressiva holandesa Focus – o disco do hit Hocus pocus. A gravadora teve lançamentos de peso imediatamente depois disso, mas começou a marcar época de verdade quando fuçou no novo rock independente americano e saiu de lá com bandas como Ramones, Dead Boys, Richard Hell & The Voidoids e Talking Heads. Nos anos 1980, contratou Madonna, licenciou discos de bandas indies britânicas para os EUA (Smiths, Depeche Mode e Echo & The Bunnymen entre elas). Seymour já havia se aposentado há alguns anos, mas o selo se mantém até hoje, equilibrado entre a arte e o capitalismo (enfim).
E pega aí quatro discos para lembrar Seymour Stein. De propósito, não tem nada de Ramones, Talking Heads, mas tem uma certa rainha do pop aí 🙂
THE DEVIANTS – “DISPOSABLE” (Stable/Sire, 1968). Uma das primeiras apostas da Sire foi o lançamento nos EUA dessa banda pré-punk britânica, liderada pelo futuro jornalista de música e escritor Mick Farren. O segundo disco é considerado por muita gente como um dos melhores deles, antes de uma época em que Mick passou a querer mergulhar cada vez mais no caos sonoro e seus colegas preferirem (segundo ele) “virar uma banda como o Led Zeppelin”. Imortalizou músicas como Somewhere to go e Let’s loot the supermarket, e garantiu conexão com os hippies radicais dos Estados Unidos – tanto que os Deviants têm um jeitão de banda do Michigan ou até da Califórnia. Mas esteve longe de ser “o” hit que a gravadora precisava.
CLIMAX BLUES BAND – “COULDN’T GET IT RIGHT” (single) (BTM/Sire, 1977). Um dos maiores sucessos da gravadora de Seymour nos anos 1970 não foram os Ramones ou os Talking Heads: foi o lançamento norte-americano deste single da Climax Blues Band – uma banda britânica, de Stafford, apesar de terem adotado o nome de The Climax Chicago Blues Band no começo da carreira. A CBB era uma banda de muitos discos, muitos shows e poucos hits de verdade até então. Aliás, Couldn’t get it right foi composta quando a gravadora britânica BTM achou que o disco Gold plated (1976) não tinha nenhum hit, e cobrou uma faixa de destaque. Deu certo a ponto da música chegar ao número 3 do hot 100 da Billboard.
SHANGRI-LAS – “SHANGRI-LAS” (nunca lançado, 1977). Em 1977, as três integrantes vivas do grupo vocal feminino Shangri-Las – Mary Weiss, Betty Weiss e Margie Ganser – voltaram para alguns ensaios e shows, motivadas pelo sucesso do relançamento do hit Leader of the pack. Fizeram uma data no clube novaiorquino CBGB’s (na plateia, estavam Lou Reed e Debbie Harry, entre outros) e houve planos para um disco novo: as três gravaram canções com o produtor Andy Paley, e foi gravada uma demo de 8 faixas que foi apresentada à Sire.
A fita tinha canções como I’m not Lisa (Jessi Colter) e Bony Moronie (de Larry William, gravada havia pouco por Kohn Lennon), com Mary fazendo a maioria dos vocais. Nada foi lançado porque Stein – que havia trabalhado com elas nos anos 1960 – não gostou do material e, conta-se, as garotas do Shangri-Las não pareciam mais tão unidas quanto antigamente. “Elas não se viam nem cantavam juntas. Mary e Liz eram irmãs, então elas se viam, mas Margie não as via muito”, recorda Paley, que viu naquele trabalho mais um reencontro e uma diversão em grupo do que um disco.
MADONNA – “EVERYBODY” (single) (Sire, 1982). Composta em 1981, a primeira música lançada de Madonna passou por um teste inicial na pista de dança, quando a cantora pediu ao DJ Mark Kamins para tocá-la na boate novaiorquina Danceteria. O hit fez sucesso e Kamins prometeu a Madonna que iria apresentá-la a algum selo.
Antes que a Sire se interessasse, a canção chegou a ser apresentada à Island Records, que não curtiu. A assinatura de contrato da cantora com Seymour mostrou que, sim, tem coisas que não dá para esperar. Seymour estava internado, recuperando-se de um problema cardíaco, quando ouviu a demo de Madonna, e mandou chamá-la. A cantora assinou o contrato com a Sire durante uma visita ao hospital. “Ela não parecia se importar com o fato de eu estar de cama, ou num caixão, desde que eu assinasse”, brincou Seymour. “E parecia tão ansiosa para me ver quando eu para encontrá-la”.