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4 discos: Sergio Mendes

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Maior responsável pela divulgação da música brasileira fora do Brasil, o músico Sérgio Mendes (1941-2024) morreu sem realizar um sonho, do qual já me falou em duas entrevistas diferentes, uma para a antiga Bizz e uma para o jornal O Dia: fazer um show de graça na Praia de Icaraí, em Niterói, sua cidade natal. Nunca rolou, que eu saiba – capaz de muita gente sequer desconfiar que personalidades como ele e Ronnie Von nasceram na cidade. Nem mesmo com a renovação de seu sucesso após os anos 1990 (e mais ainda nos 2000, quando o disco Timeless, de 2006, virou sucesso).

Mais: apesar de ter sido zoado pelos Mutantes na música Cantor de mambo, e de ter ouvido críticas negativas no Brasil (que o acusavam de diluir a fórmula da música brasileira no pop, de maneira caricatural), Sergio me disse também que nunca ligou para isso. “Sempre tive um relacionamento muito bom com a crítica, e eu nem toco mambo!”, contou, rindo (por acaso, ele também não era exatamente um cantor – as vozes principais de suas músicas ficavam com cantoras como Lani Hall, Karen Phillips, Bibi Vogel e Gracinha Leporace, essa última sua esposa).

Resumir a carreira de Sérgio a quatro discos… bom, já vamos avisando que é impossível. O que fizemos aqui foi pegar um disco de cada fase da vida dele – e isso no caso de um artista que teve um monte de fases. Pode começar por esses quatro e depois vá pegando aos poucos nas plataformas digitais tudo que aparecer pela frente. E até breve, Sergio!

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“VOCÊ AINDA NÃO OUVIU NADA” – SÉRGIO MENDES E BOSSA RIO (Philips, 1963). O segundo disco de Sergio foi também o último álbum da primeira fase de sua carreira, já que no ano seguinte, ele já estaria migrando para os Estados Unidos. Mais até do que na estreia Dance moderno (1961), o álbum em que ele liderava o baterista Edison Machado, o baixista Tião Neto, os trombonistas Raul de Souza e Edson Maciel e os saxofonistas Aurino Ferreira e Hector Costita estava mais para a bossa furiosa, instrumental e misturada com jazz do Beco das Garrafas.

Armando Pittigliani produziu o disco e Tom Jobim, além de escrever o texto da contracapa, comparece com cinco faixas. O maestro Moacir Santos arranja e compõe Coisa nº5 – aquela mesma que depois, em parceria com Mario Telles, viraria Nanã. Sergio Mendes comparece como autor com apenas duas faixas, Nôa… Nôa… e Primitivo. Curto (29 minutos), direto e essencial.

“EQUINOX” – SÉRGIO MENDES E BRASIL 66 (A&M, 1967). Talvez nem seja o melhor disco da fase do Brasil 66 – surgida após Sergio se fixar nos Estados Unidos, gravar discos pela Atlantic que não tiveram muito sucesso, e atender ao chamado de Jerry Moss e Herb Alpert para migrar para o seu selo A&M. Herb Alpert presents: Sergio Mendes e Brasil 66 (1966) era o disco do hit Mas que nada, sucesso de Jorge Ben que se tornou uma das músicas mais conhecidas em todo o mundo com letra em português.

Equinox é menos exuberante, mas vale ouro: Chove chuva (Jorge Ben) vira Constant rain, Arrastão (Edu Lobo) vira For me, Bim bom (João Gilberto) continua com o mesmo nome, mas ganha letra em inglês – e Gente (Marcos Valle e Paulo Sergio Valle) e Triste (Tom Jobim) surgem em português mesmo. E ainda tem a capa, o mais próximo que Sergio e seu grupo chegaram de um visual meio beatle e psicodélico, graças à foto “de cima” no estilo Byrds-The Who, ao logotipo, e à moda na estica dos sixties.

“SERGIO MENDES E BRASIL 88” (Elektra, 1978). Um ano depois desse disco, Sergio viria ao Brasil fazer um especial de TV na Globo, e seria caso único de artista a ter uma música na trilha sonora nacional e na internacional de uma novela (a problemática Os gigantes). O álbum de 1978 fez sucesso e levou músicas como Travessia (Milton Nascimento), Tiro cruzado (Joyce e Nelson Angelo) e Águas de março (Tom Jobim) para o idioma de pop gringo de FM. A dupla Ralph Dino e John Sembello, que escreveu músicas para Turtles e Lovin Spoonful, surge com One more lie e Midnight lovers.

“TIMELESS” (Concord, 2006). Sergio Mendes nunca sumiu do mercado pop, e mesmo nos anos 1980 e 1990, no Brasil, ele fez sucesso. Até por causa de Lua soberana, música de Ivan Lins e Victor Martins que ele gravou no disco Brasileiro (1992), e que virou tema da novela Renascer (em 1993 e no remake de 2024, desta vez na abertura).

Mesmo assim, Timeless era outro papo: nessa época, virou cool e bacana gostar de Sergio e nenhum crítico metido a besta iria atrapalhar isso – mesmo porque o álbum recebeu resenhas excelentes. Will.I.am produziu o disco, soltou a voz em várias faixas, e os Black Eyed Peas, banda dele, compareceram na versão de Mas que nada, de Jorge Ben, que levou a canção de volta às paradas . A lista de participantes é bizarra: Erykah Badu, Stevie Wonder, Q-Tip, Guinga, Marcelo D2, Jill Scott etc.

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