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4 discos: Coldplay

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Existem vários caminhos para se chegar até Roma, existem várias maneiras de se ganhar cem mil dólares, existem várias maneiras de se conquistar milhões de fãs – e entre estas maneiras de se conseguir isso tudo, estão as boas e as não lá muito recomendáveis. Milhões de fãs provavelmente discordam disso, mas o Coldplay seguiu um caminho arriscado e, porque não dizer, enfraquecedor após Viva la vida or death and all his friends (2008), disco co-produzido por Brian Eno. Se o êxito que veio depois, surgiu de boas ou más práticas, há quem discuta até hoje.

Definido pela Billboard como “o último disco de rock experimental feito para as massas”, Viva la vida apostava numa espécie de populismo musical e cênico que já vulgarizou (ou correu o risco de vulgarizar) várias carreiras. Mas, ora bolas, era o disco de Viva la vida, Yes e Violet hill, era um álbum com potencial de levantar estádios, e a banda conseguiu o que queria. Sem esse álbum, o Coldplay – que já havia feito shows no Brasil em lugares de tamanho médio como os finados Via Funchal (SP) e ATL Hall (RJ) – provavelmente não estaria fazendo um monte de shows no Morumbi nem tocaria em outros ginásios lotados. Pode não ser o Coldplay que muitos fãs da antiga adorariam estar vendo, mas que deu certo, deu. E o Coldplay de 2000, 2001, já era a banda que queria encantar o maior número de fãs possíveis. Qualquer dúvida, só dar uma olhada nas letras dos primeiros álbuns deles, todas de um ecumenismo digno de bandas como Legião Urbana, Queen e The Cure.

O Coldplay, com o passar dos tempos, começou a falar para públicos bem diferentes do começo da carreira – e não custa lembrar que na época de hits como Yellow, tinha (pode acreditar) fã de rock progressivo que falava “ah, mas tem o Coldplay, que é legal”. Não falta gente pra alegar que hoje a banda faz espetáculo demais e música de menos, embora também não faltem (mais ainda) fãs. Mas enquanto você pensa sobre o assunto, pega aí quatro discos do Coldplay pra ouvir hoje mesmo 🙂

“SAFETY EP” (Independente, 1998). Nem é preciso dizer o quanto o Coldplay era diferente no começo da carreira. Não que o grupo de Chris Martin fosse uma banda pesada, punk e/ou mal-acabada, mas o design sonoro era bem diferente, sem tantos espaços preenchidos em cada canção. O primeiro EP do grupo, no entanto, já demonstrava que não prestar atenção no Coldplay seria uma tarefa árdua, graças a Bigger stronger, Such a rush e à viajante No more keeping my feet on the ground. O disquinho foi financiado pelo ex-empresário e atual diretor criativo do grupo, Phil Harvey, teve produção da musicista Nikki Rosetti, e foi vendido de mão em mão pela banda.

“PARACHUTES” (Parlophone, 2000). Trazendo um som mais aparentado de Radiohead, Oasis, Smiths, Brian Eno e Bruce Springsteen (Chris Martin é fã) do que de qualquer coisa mais pesada, o primeiro álbum do Coldplay chegou cedo demais para responder como seria o rock do século 21. Mas já colocava a banda alguns andares acima, em termos de ousadia e grandiloquência, do indie rock que daria a cara dos anos 2000.

Nem todo mundo ficou contente. Teve quem achasse a banda pouco original e derivativa (a Billboard mandou uma dessas ao resenhar o disco), havia narizes torcidos por causa do refrão “nós vivemos em um mundo lindo/sim, nós vivemos/vivemos em um mundo lindo” (do hit Don’t panic, terceiro single), considerado cafona. E havia certo consenso entre roqueiros radicais (sempre eles…) de que o Coldplay era romântico, emocionado e derramado demais. Que se dane: as rádios brasileiras adotaram Shiver e a balada romântica Yellow, e Trouble foi parar na trilha da trama global Um anjo caiu do céu.

“X&Y” (Parlophone, 2005). Um monte de expectativas pairavam sobre o grupo britânico na época de seu terceiro disco – a ponto da banda simplesmente descartar 52 entre 60 músicas que haviam composto, alegando que nada estava tão bom assim e que o material não soaria bem em disco. Boa parte dos dilemas que a banda vivia foram parar na faixa de abertura, Square one (dos versos “você se pergunta se sua chance algum dia chegará/mas você está preso na estaca zero”), que acabou sendo a música que fez a confiança do grupo voltar. Ken Nelson, produtor dos dois primeiros álbuns, foi chamado para tomar conta dos trabalhos – e foi imediatamente dispensado assim que a banda não sentiu que os resultados acompanhavam as mudanças do grupo.

O lançamento foi sendo atrasado repetidas vezes até que o grupo conseguisse fazer aquilo que, naquele momento, considerou seu melhor disco. No fim das contas, o disco de músicas como Fix you e Speed of sound se tornou um daqueles álbuns que abrem caminhos mas tornam complicada a tarefa de pensar num próximo lançamento. Que seria nada menos que Viva la vida and death to all his friends e só sairia três anos depois, mas aí a gente pula essa parte…

“MYLO XYLOTO” (Parlophone, 2011). Com pouco mais de quarenta minutos, Mylo Xyloto é um disco, aparentemente, mais conciso que o grandinho Viva la vida, o anterior. Mas carrega um volume tão grande de informações que chega a desnortear o ouvinte. Completando o desnorteio, o quinto disco do grupo britânico é um fruto típico da loudness war, com guitarras, violões, teclados e batidas em volume altíssimo, disputando a atenção do ouvinte.

O conceito é de ópera rock (sobre um garoto, o tal Mylo Xyloto, que se revolta contra um governo ditatorial em outro planeta) e a musicalidade é de disco amigável para rádio, festas, remixes e jingles – em faixas como Charlie Brown, Us against the world, Every teardrop is a waterfall, o megahit Paradise e outras, o que já garantiu que o Coldplay renovasse seu público e, em nova fase, fosse recebido com frieza por fãs mais antigos. Vale ouvir e ressignificar, embora deixe claro que o passado de discos como Parachutes e A rush of blood to the head já passou.

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