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4 discos: Christine McVie

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Pouco antes de entrar para o Fleetwood Mac, quando ainda era a cantora e tecladista da banda britânica de blues Chicken Shack, a já saudosa Christine McVie (que na época usava seu nome verdadeiro, Christine Perfect) chamava bastante atenção no numeroso cenário blues-rock da Inglaterra. Mesmo tendo deixado a banda em 1969 e tendo passado alguns meses sumida, foi lembrada pelos leitores da Melody Maker nas eleições de 1969 e 1970 como melhor vocalista britânica. O produtor Mike Vernon sentiu cheiro de sucesso e convenceu Christine a gravar seu primeiro disco solo, em 1970.

Daí para a frente foram vários discos com o Fleetwood, alguns poucos solos, um curioso disco ao lado do ex-colega Lindsey Buckingham (lançado recentemente), inúmeras turnês e inúmeras redescobertas – já que o Fleetwood Mac é uma daquelas bandas que, quando você pensa que estão sumidas, reaparecem misteriosamente, ou por intermédio de trilhas de filmes, ou por vídeos no tik tok, ou porque os fãs simplesmente se renovam. Dessa vez, caso o grupo volte às turnês (paradas desde 2019), vai retornar sem uma de suas maiores artífices, já que Christine saiu de cena ontem, aos 79 anos.

Nosso plano não era fazer essa seção de 4 discos duas vezes por semana, mas hoje é necessário. Inclusive, o Fleetwood Mac já foi bastante lembrado por aqui, inclusive em dois podcasts do Pop Fantasma Documento (o primeiro aqui, o segundo aqui). Ouça tudo em alto volume (e Rumours, disco de 1977 do Fleetwood Mac, você já devia ter ouvido 🙂  ).

“CHRISTINE PERFECT” (Blue Horizon, 1970). Muito do que aconteceria com o Fleetwood Mac entre 1970 e 1974 já estava no primeiro disco solo de Christine, gravado assim que ela pulou fora de sua primeira banda, o Chicken Shack, e pouco antes de ela passar a fazer parte do Fleetwood. Era basicamente um álbum de blues e r&b com tons soft rock, dando novos contornos à expressão “blues branco” (os vocais de Christine sempre foram extremamente trabalhados e sensíveis, mas passando longe da explosão blues), com direito a uma referência forte ao som do Creedence Clearwater Revival (a autoral Let me go) e a uma balada folk-blues (When you see).

Da lista de músicos, já constam dois integrantes do FM: o então marido John McVie e Danny Kirwan (autor de When you say, que a própria banda havia gravado no terceiro disco, Then play on, de 1969).

“FUTURE GAMES” (Fleetwood Mac, Reprise, 1971). O quinto disco do Fleetwood Mac saiu no mesmo ano de Led Zeppelin III e deveria ser tão lembrado e cultuado quanto a guinada folk do Led, mas infelizmente não é o que acontece. Marcou o afastamento quase definitivo da banda da linguagem blues, dando ao grupo uma cara hippie-chique-folk que se tornaria sua base ao longo do tempo.

Future games foi uma grande aposta da banda e da Reprise, em termos de disco e turnê, que acabou não se concretizando exatamente – o grupo praticamente pagava para tocar e não conseguia o tão sonhado estouro nos Estados Unidos, que só rolaria a partir de 1975. Danny Kirwan, gênio compositor da banda na época, domina a composição, abrindo com a bela Woman of 1000 years. E Christine contribui com a delicada balada que encerra o disco, Show me a smile.

“CHRISTINE McVIE” (Warner, 1984). Entre 1982 e 1987, um hiato do Fleetwood Mac levou boa parte dos integrantes da banda a procurarem seus lugares ao sol. Alguns com muito sucesso, outros nem tanto (e o êxito de Stevie Nicks é um caso à parte – a cantora angariou uma base de fãs que mal se lembrava de seu período no grupo).

Em seu segundo disco solo, primeiro com o nome artístico mais ilustre, Christine retornava na melhor onda para roqueiros dos anos 1970 que chegaram aos 1980: unindo rock clássico, tons country-new wave puladinhos, e letras “maduras” e adultas. Got a hold on me e Love will show us how viraram hits. The challenge, lembrando um pouco a fase oitentista de Elton John, um pouco o que o próprio Fleetwood faria no disco Tango in the night (1987), ganhou guitarra solo de Eric Clapton.

“LINDSEY BUCKINGHAM & CHRISTINE McVIE” (Lindsey Buckingham & Christine McVie, Atlantic/East West, 2017). Dois terços da ala de compositores do Fleetwood Mac reunidos pela primeira vez num disco. O único álbum em dupla de Lindsey e Christine valeria até por um disco da banda, já que John McVie (baixo) e Mick Fleetwood (bateria) estão lá tocando com os dois – só Stevie Nicks não contribuiu com nada. Boa parte do material (que inclui faixas solo e em dupla, divididas não muito democraticamente) vale por uma atualização do som de Rumours, em faixas como Feel about you, In my world, Red sun e Too far gone. Acabou sendo a despedida de Christine.

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