Cultura Pop
Legião Urbana fazendo um som com o Quinteto Onze e Meia, no Jô Soares, em 1989
Jô Soares, apesar de ter gravado alguns rocks em alguns momentos de sua carreira (tocou bongô até num disco do Autoramas, Música crocante, de 2011), não é exatamente um sujeito do rock. As entrevistas que ele fez no Jô Soares Onze e Meia e no Programa do Jô com bandas de rock, mesmo servindo hoje como grande arquivo de épocas idas da nossa cultura pop, tinham uma e outra pergunta que traíam certa desinformação diante do estilo musical – muito embora, diante de um apresentador como Jô, nenhuma banda ou cantor se recusasse a falar de assunto nenhum.
Agora, muito difícil não se emocionar com todos os momentos do Jô Onze e Meia, do SBT, que resgataram para o YouTube. Isso aí, por exemplo, é a Legião Urbana, batendo um papo com Jô em 1989, pouco antes de lançar o disco As quatro estações (o disco estava ainda sendo terminado, como a própria banda afirma). No final, ainda tem um show da Legião com os músicos do Quinteto Onze e Meia, tocando o clássico norte-americano You’ll never know (gravado por uma porrada de gente) e Que país é este.
Jô abre o papo perguntando sobre uma canção de alguns anos antes, Geração Coca-Cola, e sobre o sentido da letra e do título. Renato Russo explica que muito da história da letra vem da época em que tanto a direita quanto a esquerda esnobavam os jovens. “Desde pequeno eu assistia só Johnny Quest, National Kid, Capitão Aza… E a gente não podia falar essas coisas. Lembro que… Isso foi em 1977 qundo eu entrei pra universidade, eu fazia Comunicação Social, e minha mãe falava: ‘Meu filho, não vai ficar falando besteira dentro da sala de aula porque lá pode ter alguém que é do governo!'”, disse Renato.
O apresentador pergunta se todos são de Brasília e, ainda que Renato tenha nascido no Rio e Dado Villa-Lobos tenha nascido em Bruxelas, todos respondem: “Sim”. Daí pra frente, começa um papo bem interessante sobre política, História e juventude. “Eu não peguei política no colégio, só uma vez e o professor sumiu. Mas ele sumiu por causa de uma briga”, conta Renato Russo, que depois diz achar até mais importante falar mais de amor e de espiritualidade do que de política.
O grupo também explica como se virava para fazer com que algumas músicas passassem pela então moribunda censura – trocando palavras, ou cantando de maneira com que os censores não entendessem o que estava nas letras. E também dão sua versão sobre a história do show de 1988, de Brasília, que acabou em pancadaria.
Aliás, em outro momento, Jô pergunta se a banda vai falar sobre Aids – síndrome que levaria Russo em 1996. “Eu não queria, mas vamos falar. Não queria porque é uma coisa muito difícil para mim”, contou Renato, que só descobriria ter o vírus HIV no ano seguinte. Em As quatro estações entrou mesmo uma música sobre o assunto, Feedback song for a dying friend (que quase se chamou Rapazes católicos).