Connect with us

Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre Paranoid, do Black Sabbath

Published

on

Várias coisas que você já sabia sobre Paranoid, do Black Sabbath

Dizem por aí que o segundo disco é um teste para qualquer artista – ou pelo menos era, quando discos vendiam. Havia também outra categoria de “segundo disco”: era quando o primeiro disco fazia sucesso, o artista embarcava numa turnê e rolava um “rapazes, precisamos de um segundo disco urgente, ainda que seja feito entre um show e outro, com a banda deixando de dormir para escrever músicas”. Foi assim com o Led Zeppelin II, do Led Zeppelin. E foi assim com Paranoid, do Black Sabbath (1970).

O segundo disco do Black Sabbath avançava bastante em relação ao primeiro, e tratava de colocar os pés de Ozzy Osbourne (voz), Tony Iommy (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria) na Terra. Em vez de recorrer tão-somente a universos assustadores e a demônios, o grupo falava de pessoas que se defrontavam com seus destinos aterrorizantes (Hands of doom, sobre os soldados que retornavam da Guerra do Vietnã viciados em drogas), disputas de poder (War pigs), o rescaldo da era hippie (Paranoid era sobre abuso de drogas). Se o primeiro disco havia sido gravado em poucas horas, o segundo foi feito no período extravagante de cinco dias, com direito à canção mais pop da história do Sabbath (a faixa-título), uma mudança de título (o disco quase se chamou War pigs) e a algumas experimentações de estúdio – luxo do qual a banda não conseguiu desfrutar no primeiro disco.

Paranoid chegou aos 50 anos em 18 de setembro e ganha agora uma reedição de luxo, num conjunto de cinco LPs que inclui o álbum original, um raro mix quadrafônico de 1974, dois shows de 1970 (de Montreux e Bruxelas, prensados em vinil pela primeira vez). Mais: a caixa vem acomapnhada por um livro de capa dura, com extensas notas de apresentação, entrevistas com todos os quatro membros da banda, fotos raras e recordações, um pôster, além de uma réplica do livro vendido durante a turnê do disco.

Várias coisas que você já sabia sobre Paranoid, do Black Sabbath

E segue aí nosso relatório sobre Paranoid. Leia ouvindo o disco.

ANTES DE MAIS NADA, você já leu aqui no POP FANTASMA um texto parecido com esse sobre o primeiro (e epônimo) disco do Black Sabbath.

DEU BOM. Black Sabbath, a estreia da banda (1970), vendeu discos e, mais que tudo, fez bastante barulho. Todo mundo queria saber qual era a daquela banda barulhenta e cabeluda, cujos integrantes falavam de demônios, contos assustadores e histórias de amor que acabavam mal. Paranoid, o novo disco, viria com um condimento a mais. A banda estava preparando letras mais políticas. War pigs, um dos momentos mais emocionantes dos shows do Sabbath, já tinha virado hit de palco e seria lançada no disco.

DEU RUIM. Para vender bem o Sabbath e angariar fãs nos EUA, a Warner, gravadora do grupo por lá, agendou uma turnê em julho de 1970, onde passariam por lugares de enorme prestígio. Só que a turnê foi cancelada por um motivo pitoresco: a gravadora achou que não seria de bom tom uma banda chamada Black Sabbath se apresentar nos EUA na época do julgamento do lunático Charles Manson, cuja “família” de psicopatas suscitou uma caça aos satanistas do rock.

E MAIS ISSO. A história de Manson foi parar, com riqueza de detalhes, na edição de 1º março de 1970 da Esquire, uma das mais longevas revistas dos Estados Unidos. O artigo era assinado pelo superjornalista Gay Talese (vale MUITO a pena ler este texto).

QUE PARADA É ESSA? Mesmo com a banda ausente dos palcos, rolou uma Parada Black Sabbath em San Francisco, liderada pelo chefe da igreja de satã, Anton LaVey, com o apoio da Warner. O evento foi tão caricato e inacreditável que fez a banda rir assim que viu as fotos. Tinha desde dançarinas até um trio elétrico com uma banda cover do Sabbath.

MESMO SEM SHOWS, Paranoid, primeiro single do disco, foi lançado em agosto de 1970 com um baita sucesso, subindo rapidamente as paradas. Isso credenciou o Sabbath a conseguir ir ao prestigioso Top of the pops, paradão de sucessos britânico, para tocar a música.

ALIÁS E A PROPÓSITO, a banda nunca mais voltou a ser convidada para o programa depois dessa ocasião. Ficaram de saco cheio da equipe da BBC dizendo “não olhe para cá, olhe para cá, fique aqui, vá pra lá”. Iommi ainda arrumou encrenca com um diretor, quando reclamou de um spot de luz que apontava direto para sua cara e o deixava cego.

PASSADO PRA TRÁS. A banda vinha sendo empresariada por Jim Simpson, que tinha – biógrafos do grupo apontam – uma perspectiva um tanto mais humilde para o Sabbath, com shows dados em lugares pequenos, enquanto Paranoid, o single, chegava ao Top 5. Uma equipe de empresários liderada por Patrick Meehan e Wilf Pine (a World Wide Artists) fez tantas promessas mirabolantes para o Sabbath (estouro mundial, grana a rodo) que eles largaram Simpson de mão. Jim recebeu uma carta de um dos advogados da WWA pouco antes do LP Paranoid sair, dizendo que ele “não representava mais a banda nem tinha autorização para contatá-los diretamente”.

ELE FICOU PUTO. Jim, um empresário musical da cidade da banda (Birmingham, na Inglaterra), que tinha arrumado as primeiras oportunidades de peso para o Sabbath, emputeceu-se com a afronta. “Eles disseram que não fiz meu trabalho direito, mas quando deixei o Sabbath, eles tinham um single no Top 5”, reclamou, garantindo que nunca teve rancor de Ozzy, de quem pessoalmente gostava.

MUITO PUTO. Em 2017, quando o Black Sabbath estava fazendo seus dois últimos shows em Birmingham, houve outra história envolvendo Jim, que era popularíssimo na cidade e chegou a dar entrevistas à rádios locais sobre a história da banda: ele não recebeu convite para ir às apresentações e precisou ir por conta própria. “Estou desapontado mas não surpreso”, garantiu.

HIPPIE É O C…. Apesar do Black Sabbath tomar drogas como se fossem Mentos e de, em 1972, dedicar Black Sabbath vol. 4 à “grande indústria da coca de Los Angeles” (isso aparece na ficha técnica), Paranoid tinha como um de seus temas as vidas perdidas por causa de dois assuntos-chave da era hippie: as drogas e a Guerra do Vietnã. A música-título, disse Butler certa vez, falava do estado depressivo pelo qual as pessoas passavam por causa das drogas. Para falar da vivência dos soldados americanos em Hand of doom, a banda recorreu à época em que tocaram em bases do exército dos EUA.

LEGALIZE JÁ. Fairies wear boots, que inicialmente começou como uma letra de Butler sobre um desentendimento da banda com skinheads, ganhou um bizarro acréscimo anti-drogas escrito por Ozzy no final (“o médico me disse: ‘filho, você foi longe demais/fumar e viajar é tudo o que você faz'”). A letra soava como uma bronca em si próprio e nos colegas, já que durante a elaboração de Paranoid, o que a banda mais fez foi fumar maconha. “Por isso que as letras são tão estranhas”, reconhece Iommi.

PARANOID, O SINGLE. Rodger Bain, o produtor, e Tony Allom, o técnico de som (por sinal os mesmos do primeiro disco), no meio das gravações, viram que havia um buraco em Paranoid e faltava uma música. E sugeriram a Iommi que compusesse “uma música curta”, o que nem era a especialidade da banda. O guitarrista compôs a introdução e os riffs rapidamente, enquanto todos foram almoçar. Geezer, quando voltou, fez a letra, aproveitando algumas frases que Ozzy falou enquanto improvisava as linhas vocais. Bill Ward garante que a canção foi composta em “vinte e cinco minutos, se tanto”.

ELE FOI CONTRA. Inicialmente Geezer Butler não gostou da música: achou o resultado muito parecido com o de Communication breakdown, do Led Zeppelin. Mas ninguém concordou com o baixista e a banda gravou a faixa assim mesmo.

HORA DO SOLINHO. Iommi, por sua vez, diz que detestou a maneira como o solo de Paranoid soou no disco. Tudo por causa de uma caixa Leslie que Rodger insistiu em usar no solo. “Quando ouvi, reclamei, mas deixaram dessa forma. Agora já me acostumei”, contou.

MAIS EFEITOS. Rodger Bain estava animado: além de incentivar a banda a compor sua canção mais pop e de dar seu toque especial no solo da faixa, pôs o tal oscilador Leslie na voz de Ozzy também em Planet caravan e na introdução de Iron man (é o que causa aquela tremedeira no “iron, iron man!”).

E SEGUEM AÍ os dois vídeos oficiais de Paranoid – o primeiro feito para o psicodélico Beat club, da Alemanha, o segundo filmado na Bélgica.

WAR PIGS. O nome da faixa surgiu bem depois: no começo, a ideia da banda era compor uma canção chamada Walpurgis que, segundo Ozzy, era “um termo sobre casamento na magia negra”. Depois o disco quase se chamou War pigs, até que a Vertigo ouviu Paranoid, viu que a canção tinha potencial e a transformou em single.

A CAPA de Paranoid, você deve saber, não faz o menor sentido. Quando o disco ainda se “chamava” War pigs, a gravadora pagou o mesmo cara que havia feito a foto da capa do primeiro disco, Keith Macmillan (ou Keef, como aparece na contracapa) para fazer uma foto de um “maníaco de guerra” no Black Park, em Buckinghamshire. O garoto da capa é um sujeito chamado Roger Brown, que era assistente de Keef.

Várias coisas que você já sabia sobre Paranoid, do Black Sabbath

ADEREÇOS. Antes das fotos (todas feitas à noite), a dupla foi a uma espécie de Casas Turuna local comprar uma espada, um escudo e uma… máscara de porco. Fizeram as fotos com todos os adereços. Keef diz que as fotos com a máscara eram “muito melhores” do que a que foi escolhida para a capa, mas nenhum dos cliques com o guerreiro mascarado foi guardado. Para dar a sensação de movimento da capa, Keith usou flash ultravioleta.

UÉ. Até mesmo os integrantes da banda ficaram surpresos quando viram que o nome do disco havia mudado para Paranoid. Keith, mais ainda. A gravadora havia modificado o título mas – como era bastante comum numa época em que não havia computação gráfica e capas davam (muito) trabalho – nem se importou em encomendar outra foto e embrulhou o produto assim mesmo. “Chegamos a a perguntar à gravadora: ‘O que é que o título tem a ver com a capa?'”, contou Iommi.

ALIÁS E A PROPÓSITO, o parque onde foi feita a foto da capa de Paranoid aparece em vários filmes da franquia James Bond. Tudo porque fica bem próximo ao Pinewood Studios. O Forte Knok de 007 contra Goldfinger (1964) era lá.

SEI NÃO. Tony revela que possivelmente, nem ele nem Ozzy sabiam o que queria dizer “paranoico” naquela época, e atribui a entrada do vocábulo na história da banda à “grande inteligência” de Geezer. Já o baixista afirma que quis falar em “paranoia” porque não conhecia a palavra “depressão” – que é o verdadeiro sentido da letra.

ROBÔ VIVO. Iron man teve sua letra inspirada por uma história em quadrinhos que um dos dos integrantes do Sabbath leu, sobre um robô que ganhava vida. “Mas eu acho que tinha um subtexto sério por trás disso, de que alguém vivo não poderia sair de seu próprio corpo”, viaja Iommi. A canção quase se chamou Iron bloke (algo como “sujeito de ferro”), até que Ozzy ouviu o solo e disse que soava como “um homem de ferro andando”.

TUM DUM TISS. Paranoid, você deve lembrar, tem um tema instrumental meio jazzístico com um solo de bateria fenomenal de Bill Ward, Rat salad. A música une Paranoid a Led Zeppelin II, já que o segundo disco do Led tinha uma música que obedecia à mesma estrutura de Rat salad: Moby dick tinha começo curto, solo de bateria, volta do mesmo tema do início e morte súbita, com a entrada da última música do disco (Fairies wear boots, no caso do Sabbath, Bring it on home, no do LZ).

ALIÁS E A PROPÓSITO, vale citar que solos de bateria estavam em alta no finzinho dos anos 1960. O Iron Butterfly fez sucesso com os quatro minutos de bateria de In a gadda da vida, em 1968. Os Beatles, com Ringo Starr nas baquetas, aderiram no improviso The end, em 1969. O Chicago enchia seu primeiro disco, o duplo Chicago Transit Authority (1969), de solinhos de batera. O Grand Funk Railroad fazia o mesmo em T.N.U.C., faixa quilométrica de seu primeiro disco, On time (1969). O Black Sabbath só estava seguindo uma tendência.

AINDA ASSIM, Geezer diz que a banda, cujos integrantes eram amigos do Led, imitou os colegas sem constrangimentos. “O Led era nossa banda preferida na época”, contou. Tony, sabendo que o LZ roubava um monte de coisas dos outros, nem esquentou a cabeça.

CABELO BONITO. O título Rat salad, segundo Geezer Butler, era uma zoação com o baterista Bill Ward pelo seu hábito de não pentear o cabelo. A música surgiu quando o Sabbath era uma banda iniciante, era paga por hora de show, e Ward precisava inventar alguma coisa para preencher o tempo ocioso no palco.

PERIGO. No começo dos anos 1970, uma enfermeira americana foi encontrada morta e, em seu toca-discos, foi vista uma cópia de Paranoid. A polícia começou uma investigação para descobrir se o disco causou ou não o suicídio dela. Depois chegaram à conclusão de que ela já sofria de depressão e que a banda não teve nada a ver com o óbito.

OZZY PEGADOR. Butler costumava dizer que, por causa da pouca predisposição do Sabbath para compor músicas românticas, não havia garotas nas plateias do grupo. Em sua autobiografia Eu sou Ozzy, Ozzy Osbourne diz ter outra lembrança e conta que certa vez, num hotel Holiday Inn, na Califórnia, protagonizou cenas dignas de Calígula com os companheiros. Para compensar, o Sabbath era seguido de perto por fãs que levavam aquela história de satanismo muito a sério (como o próprio LaVey).

DEU CERTO. Paranoid tornou-se o primeiro álbum da banda a liderar as paradas do Reino Unido e vendeu mais de 4 milhões de cópias somente nos EUA – onde é um disco de 1971, já que só saiu por lá em janeiro. No Brasil, Paranoid foi lançado pela Philips em 1971 com modificações na capa: a gravadora dispensou a capa dupla e pôs uma foto da banda na contracapa. Em Israel, foi lançado com outra capa e outro título, Attention!. O disco, como costumava acontecer com o Sabbath, foi mal recebido pela crítica, até mesmo por jornalistas que depois se tornariam fãs da banda, como o mitológico Lester Bangs.

TURNÊ. Logo que Paranoid chegou às lojas, o Black Sabbath iniciou uma turnê na qual abria para artistas como Alice Cooper, Savoy Brown e Faces. Às vezes a banda era vaiada, às vezes virava o jogo – abrindo para os Faces, deixou a plateia tão maluca que alguns “fãs” vaiaram a banda principal, logo depois. Drogas variadas começaram a aparecer nos bastidores. Ozzy lembra ter sido iniciado na cocaína por Leslie West, do Mountain, que insistiu para o amigo cheirar com ele. Nos camarins de um dos shows da tour, os quatro receberam a visita da gangue de motociclistas Hell’s Angels. Foram avisados de que eles eram fãs da banda e de que o Black Sabbath teria proteção onde estivessem.

E já que você chegou até aqui, pega aí um dos usos mais apropriados de Paranoid, a canção: numa das primeiras cenas da animação Angry Birds, the movie.

Infos tiradas de vídeos, sites, entrevistas e dos livros Iron man, de Tony Iommi, e de Black Sabbath, de Mick Wall.

Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, a London calling (Clash), a Fun house (Stooges), a New York (Lou Reed), aos primeiros shows de David Bowie no Brasil, a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience) e a Pleased to meet me (Replacements). E a Dirty mind (Prince).
– Demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Black Sabbath no POP FANTASMA aqui.

4 discos

4 discos: Elvis Presley no final

Published

on

4 discos: Elvis Presley no final

Ainda que o mercado de álbuns estivesse bastante fortalecido desde o fim dos anos 1960, isso não chamava a atenção de Elvis Presley (1935-1977), e muito menos a de seu empresário, o Coronel Tom Parker (1909-1997). O cantor não parecia se interessar muito por LPs, apesar de ter tido grandes vendagens de álbuns desde o começo. Muitas vezes, Elvis apenas gravava o que tinha vontade, e deixava que a RCA, sua gravadora, escolhesse capas, repertório e (o principal) como e de que maneira cada gravação seria aproveitada.

Nos anos 1970, com Elvis enclausurado em sua mansão e cada vez mais descontrolado (no apetite, nas drogas, na violência etc), o cantor ficou também cada vez mais desinteressado em gravar regularmente. Seus álbuns começavam a se tornar compilações de gravações, quase sempre feitas em etapas diferentes. Não era nem preciso que as sessões passassem pelos mesmos esquemas de produção, embora os álbuns pós-1966 do cantor tivessem todos o mesmo produtor. Era o ex-cantor Felton Jarvis, que chegou a lançar em 1959 um single cujo lado B era um tributo chamado Don’t knock Elvis.

O álbum That’s the way it is (1970), por exemplo, foi feito a partir de oito faixas gravadas do estúdio da RCA em Nashville, mas também entraram quatro faixas gravadas ao vivo em Las Vegas. Por sua vez, o restante dessas sessões de Nashville foi lançado gradativamente em singles e rendeu também o álbum Elvis country, de 1971. Era como se os álbuns do cantor, com raras exceções, já fossem compilações de out takes. E o que não falta é crítico de rock apontando para esse clima “alhos com bugalhos” na parte final da discografia de Elvis.

Pois bem, resolvemos revisitar quatro álbuns dessa última década da carreira de Elvis Presley – que, você talvez saiba, teria completado 90 anos no dia 8 de janeiro. E pode crer: quem deixou esses discos para trás perdeu muita coisa. Mesmo os mais alheios à obra do cantor, que o conhecem apenas pelos grandes hits, podem encontrar surpresas agradáveis. Porque, sim, por trás daquela fachada de decadência, havia música pulsante. Se você nem sequer desconfiasse que a vida de Elvis andava uma zona daquelas, poderia acabar achando que ele já estava rico o suficiente e havia resolvido só gravar o que quisesse, para quem quisesse ouvir, e problema dele.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • Este texto foi inspirado por um outro texto, da newsletter do músico Giancalrlo Rufatto

“ELVIS NOW” (1972). O nome desse álbum de Elvis podia indicar que se tratava de um disco ao vivo, de uma coletânea, de um álbum de sobras, de um cata-corno musical – enfim, Elvis now, como título, não quer dizer lá muita coisa. De qualquer jeito, é um dos mais brilhantes lançamentos do cantor em sua última década. Numa época em que Elvis parecia ter entendido mais ou menos para que serviam os álbuns e estava adotando estilos musicais diferentes em cada lançamento (gospel, country, baladas, etc), seu décimo-sexto LP era o que mais se aproximava de um “programa de música” (digamos assim), cabendo vários estilos musicais de maneira equilibrada.

Para manter um hábito do cantor na época, Elvis now não era um disco de “agora”. Havia uma faixa gravada em 1969 (a versão dele para Hey Jude, dos Beatles, feita nas sessões que geraram o disco Elvis in Memphis, daquele ano) e gravações de 1970 e 1971. Ou seja: era basicamente um cozidão de sobras com material ainda sem destinação. De qualquer jeito, lá você ouve, além de Hey Jude, Elvis interpretando canções de Kris Kristofferson (Help me make it through the night), da ativista e cantora Buffy Sainte-Marie (a canção de amor classe-operária Until it’s time for you to go), de Gene McLellan (Put hand in the hand), Gordon Lightfoot (Early mornin’ rain) e até um clássico gospel tradicional que, poucos anos depois, Raul Seixas e Paulo Coelho fariam questão de chupar (I was born ten thousand years ago).

“RAISED ON ROCK/FOR OL’ TIMES SAKE” (1973). Mais uma vez uma capa de Elvis traz uma foto praticamente idêntica dele (Elvis proibia que o fotografassem fora do palco), e o título lembra o de um álbum pirata ou coletânea caça-níqueis. Mas esse disco é tido como o último álbum de estúdio verdadeiramente rocker de Elvis, e tem quem o considere o melhor álbum dessa fase. O repertório veio de sessões no Stax Studios (Memphis, Tennessee), em julho de 1973, além de outras gravações feitas na casa de Presley em Palm Springs, Califórnia, em setembro de 1973.

Raised on rock tem esses dois títulos porque aproveitou os nomes dos lados A e B de um single de sucesso do cantor – o que dá a impressão também de “single expandido para álbum” e feito às pressas. Uma ouvida distraída revela pérolas como as próprias músicas-título, além de Three corn patches (da dupla Leiber e Stoller), Just a little bit (sucesso do cantor Rosco Gordon) e Find out what’s happenin’ (country gravado em 1968 por Bobby Bare). Muita gente implicou bastante com aquele papo de “criado no rock”, ate porque a canção fala de uma pessoa que foi criada ouvindo hits como Johnny B. Goode, de Chuck Berry, e nada menos que Hound dog, gravada pelo próprio Elvis (!) em 1956. Mas pula essa parte porque a gravação é ótima.

“ELVIS TODAY” (1975). A capa e o título não dizem muita coisa, mas Today é um dos discos mais saidinhos dessa fase final da carreira do cantor. O som une música pop e country, em vez de se concentrar apenas num estilo. E fica claro, pela escolha de repertório, que o álbum foi um esforço grande de Elvis em tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor na música.

Havia o rock country de T-R-O-U-B-L-E, um dos últimos hits do cantor no estilo que o havia consagrado. Tinha uma regravação de Fairytale, das Pointer Sisters, indicando que a transição do soul à disco já tinha sido devidamente observada por Elvis e sua turma. E havia algumas regravações bem bacanas de faixas recentes, como I can help, de Blly Swan, e Pieces of my life, de Troy Seals – muito embora, justamente por causa disso, ficasse a impressão de que Today, mais do que resultado de uma gravação em estúdio, era o resultado de uma mexida em várias demos. Ainda assim, era uma mostra de que Elvis ainda se reinventava. Da maneira dele, mas rolava sim.

“FROM ELVIS PRESLEY BOULEVARD, MEMPHIS, TENNESSEE” (1976). O título desse disco lembra o de um álbum póstumo ou coletânea. É apenas o vigésimo-terceiro álbum de Elvis, feito numa época em que o cantor nem sequer queria sair de casa para gravar, e a RCA mandou instalar um estúdio na casa dele. Foi lançado pouco após a excelente coletânea The Sun sessions, e, diz o site oficial do cantor, trouxe músicas “comercializadas como se Elvis estivesse finalmente emitindo um convite aos seus fãs para entrarem pelos portões de Graceland”. Inclusive vendeu mais do que a coletânea, embora tenha custado mais aos cofres da RCA do que Sun sessions.

A capa informa que se trata de um “disco ao vivo”, mas a realidade é bem diferente: não há palmas, e basicamente o material foi feito “ao vivo” dentro da própria mansão de Elvis. O repertório é de uma força impressionante, com destaque para a balada blues Hurt, a romântica Never again e as baladas country Dany boy e Bitter they are, harder they fall, além da grandiosa The last farewell. From Elvis Presley Boulevard não é apenas um disco: é um retrato do Rei em um momento de fragilidade e reclusão, mas ainda capaz de emocionar como poucos.

 

Continue Reading

Cultura Pop

Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

Published

on

Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

Informações básicas sobre o Grammy 2025, que vai rolar neste domingo (2 de fevereiro), às 21h30, horário de Brasília, nos Estados Unidos. Vamos por partes:

  • É a 67ª edição da premiação.
  • Uma porrada de gente vai fazer show na premiação. Entre os confirmados, Stevie Wonder, John Legend, Janelle Monáe, Chris Martin, Cynthia Erivo, Brittany Howard, Brad Paisley, Herbie Hancock, Jacob Collier, Lainey Wilson, St. Vincent e Sheryl Crow. A Academia afirmou também que estarão no palco nomes como Benson Boone, Sabrina Carpenter, Doechii, Raye, Chappell Roan, Teddy Swims, Shakira e Charli XCX.
  • O comediante sul-africano Trevor Noah vai apresentar o prêmio – ele comanda o palco do prêmio desde 2021.
  • Tem Brasil na premiação, já que Anitta concorre a melhor álbum de pop latino com Funk generation.
  • O canal de TV TNT e o serviço de streaming Max vão transmitir a premiação aqui no Brasil.
  • Após discussões iniciais, foi decidido que os incêndios em Los Angeles não causariam o adiamento do evento – e decidiu-se também que o Grammy será um instrumento para angariar fundos para ajudar a cidade.

E enfim, ninguém convidou o Pop Fantasma para votar lá, mas nós resolvemos mostrar nossas apostas, divididas em quem a gente acha que leva os prêmios, e quem a gente adoraria que ganhasse. Confira aí e faça suas apostas. Não votamos em todas as categorias, claro – são 94 e não nos sentimos capazes de opinar em várias delas.

(na foto, Charli XCX, que a gente gostaria que ganhasse numas três categorias).

Música do Ano
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
Billie Eilish, Birds of a feather
Lady Gaga and Bruno Mars, Die with a smile
Taylor Swift featuring Post Malone, Fortnight
Chappell Roan, Good luck, babe!
Kendrick Lamar, Not like us
Sabrina Carpenter, Please please please
Beyoncé, Texas hold ‘em
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Taylor Swift
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

Revelação do Ano
Benson Boone
Sabrina Carpenter
Doechii
Khruangbin
RAYE
Chappell Roan
Shaboozey
Teddy Swims
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappell Roan
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Ficamos contentes se a Chappell ganhar, mas enfim, tem o Khruangbin

Melhor Performance Solo Pop
Beyoncé, Bodyguard
Sabrina Carpenter, Espresso
Charli XCX, Apple
Billie Eilish, Birds of a feather
Chappell Roan, Good luck, babe!
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Sabrina Carpenter é a campeã de audiência em algumas plataformas digitais, e tem grandes chances,
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Performance Dupla ou Grupo Pop
Gracie Abrams Featuring Taylor Swift, Us
Beyoncé Featuring Post Malone, Levii’s Jeans
Charli XCX & Billie Eilish, Guess
Ariana Grande, Brandy & Monica, The boy is mine
Lady Gaga & Bruno Mars. Die with a smile
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Grandes chances para o dueto de Lady Gaga e Bruno Mars
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX e Billie Eilish

Melhor Álbum Pop Vocal
Sabrina Carpenter, Short’n sweet
Billie Eilish, Hit me hard and soft
Ariana Grande, Eternal sunshine
Chappell Roan, The rise and fall pf a midwest princess
Taylor Swift, The tortured poets department
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappel Roan? Taylor Swift? Billie Eilish? Aí parece que TODAS podem ganhar.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE:
Billie Eilish

Melhor Álbum de Country
Beyoncé, Cowboy Carter
Post Malone, F-1 Trillion
Kacey Musgraves, Deeper Well
Chris Stapleton, Higher
Lainey Wilson, Whirlwind
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé

Melhor Performance Country Solo
Beyoncé, 16 Carriages
Chris Stapleton, It takes a woman
Jelly Roll, I am not OK
Kacey Musgraves, The architect
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton ou Shaboozey
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé (ou, vá lá, também o Shaboozey)

Melhor Gravação Dance/Eletrônica
Madison Beer, Make you mine
Charli XCX, Von Dutch
Billie Eilish, L’amour de ma vie (Over Now Extended Edit)
Ariana Grande, Yes, and?
Troye Sivan, Got me started
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: talvez, quem sabe, Billie Eilish
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Álbum de Pop Latino
Anitta, Funk generation
Luis Fonsi, El viaje
Kany García, García
Shakira, Las mujeres ya no lorran
Kali Uchis, Orquídeas
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Talvez a Kali Uchis
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Fernanda Torres no Oscar e Anitta no Grammy, já pensou? (mas Kali Uchis ganhando ia ser legal, Orquideas é um disco bacana).

Melhor Álbum de Rock
The Black Crowes, Happiness bastards
Fontaines D.C., Romance
Green Day, Saviors
Idles, TANGK
Pearl Jam, Dark matter
The Rolling Stones, Hackney diamonds
Jack White, No name
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Algo me diz que o primeiro álbum dos Stones lançado após a morte de Charlie Watts vai mexer com os jurados.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Jack White.

Melhor Performance de Rock
The Beatles, Now and then
The Black Keys, Beautiful people (Stay high)
Green Day, The american dream is killing me
Idles, Gift horse
Pearl Jam, Dark matter
St. Vincent, Broken man
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Beatles.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Em tempo de Trump na presidência dos EUA, Green Day cantando que “o sonho americano está me matando” seria um sonho (sem trocadilho). Mas dificilmente vai rolar.

Melhor Performance de Música Alternativa
Cage the Elephant, Neon pill
Nick Cave & The Bad Seeds, Song of the lake
Fontaines D.C., Starbuster
Kim Gordon, Bye bye
St. Vincent, Flea
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Nick Cave & The Bad Seeds
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon, com certeza.

Melhor Álbum de Música Alternativa
Nick Cave & Bad Seeds, Wild god
Clairo, Charm
Kim Gordon, The collective
Brittany Howard, What now
St Vincent, All born screaming
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: estou entre Clairo e Nick Cave
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon

Melhor Álbum de Rap
Common & Pete Rock, The Auditorium Vol. 1
Doechii, Alligator bites never heal
Eminem, The death of Slim Shady (Coup de grâce)
Future & Metro Boomin, We don’t trust you
J. Cole, Might delete later
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Se bobear, Eminem leva essa. Ou o trapper Future.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Common & Pete Rock, que ainda por cima têm samples bem criativos de música brasileira (pegaram trechos de faixas de Chico Buarque, Ivan Lins & Vitor Martins e até uma faixa da banda de rock progressivo brasileira Karma).

Melhor Performance de Rap
Cardi B, Enough (Miami)
Common & Pete Rock Featuring Posdnuos, When the sun shines again
Doechii, Nissan altima
Eminem, Houdini
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar, Like that
Glorilla, Yeah glo!
Kendrick Lamar, Not like us
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR e QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

 

 

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

Published

on

Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.

Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.

Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.

No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.

Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).

Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.

Continue Reading
Advertisement

Trending