Cultura Pop
Os três primeiros discos do Simple Minds: descubra agora!
Quem não viveu os anos 1980 talvez estranhe o fato de o Simple Minds já ter sido comparado ao U2. Talvez torça o nariz quando descobre que o líder do grupo, Jim Kerr, chegou a ser considerado um messias do novo rock por uma turma grande. Uma olhadinha na lista de sucessos da banda talvez ajude a entender o quão importantes eles foram, e ainda são. O grupo, que hoje só inclui dois integrantes originais (Jim na voz e Charlie Burchill nas guitarras) ficou mais conhecido por ter gravado o tema de um filme clássico teen dos 80, Clube dos cinco: era Don’t you (Forget about me).
A história de como essa música foi gravada pelo grupo, você encontra no Pop Fantasma, e é pitoresca: a canção não era da banda, foi composta por dois músicos e compositores profissionais, Keith Forsey e Steve Schiff, e poderia representar a subida do SM ao topo nos EUA.
O grupo precisava muito dessa ajuda, até porque tinham se afundado em dívidas para fazer uma turnê pelos Estados Unidos, mas nada acontecia porque a banda simplesmente não estava tocando no rádio. Ainda assim, o Simple Minds não viu nada demais na música e não quis gravá-la. Como não aparecia ninguém interessado (Bryan Ferry chegou a ser convidado e recusou também), a dupla voltou a bater na porta de Jim e seus amigos, que finalmente toparam.
Antes do Simple Minds estourar nas paradas, no entanto, o grupo escocês era o último grito do art rock, abrindo turnês para Peter Gabriel, gravando canções que lhes faziam ser comparados a grupos como Roxy Music. Era, aliás, a época de Act of love, um canção composta em 1978 e uma das primeiras feitas pela banda assim que os integrantes largaram o nome Johnny & The Self-Abusers, embrião do Simple Minds. O SM nunca havia gravado a canção em discos, mas ela pintava em shows. Agora, depois de uma longa pausa, o grupo voltou, e abriu 2022 lançando – finalmente – um single com a música.
E a gente aproveita a gravação para recordar a primeiríssima fase do Simple Minds, que entre 1979 e 1981, era uma banda do elenco da Arista. E a gravadora precisava desesperadamente de um hit para justificar o investimento feito neles. São três discos e nove canções escolhidas.
“CHELSEA GIRL” (do disco Life in a day, 1979). O primeiro disco do grupo foi, segundo o próprio Jim, “um desapontamento colossal”. Não vendeu muito, e aproximava mais o Simple Minds de uma mescla de new wave e glam rock – influenciadíssima pelas ambientações de Brian Eno, pelo clima deprê do Joy Division e pela fase Berlim de David Bowie. A Zoom, selo escocês da Arista (dirigido pelo empresário do SM, John Leckie) investiu bastante. A banda passou por três estúdios (um deles, a máquina móvel dos Rolling Stones) e teve certa cobertura da mídia. Destaque para esse hino.
“WASTELAND” (do disco Life in a day, 1979). Coloque essa música para uns amigos ouvirem sem dizer qual é a banda. Os mais escolados na transição do punk para a new wave vão, com certeza, achar que é um lado B do Ultravox – graças aos teclados meio “clássicos” e sujos e aos vocais de Jim Kerr, lembrando a primeira fase do grupo britânico. Um dos destaques da estreia da banda.
“PLEASANTLY DISTURBED” (do disco Life in a day, 1979). Para fazer o Simple Minds inicial parecer mais ainda com o Roxy Music (muito embora os vocais desesperados de Jim Kerr em nada lembrem a classe de Bryan Ferry) faltava uma canção com mais de cinco minutos, absolutamente descritiva, épica e pseudoprogressiva, com violinos tocados por Charlie Burchill. O clima lembra um Joy Division menos sorumbático.
“CHANGELING” (do disco Reel to real cacophony, 1979). Com um intervalo pequeno entre um disco e outro e cobranças da gravadora por um hit, lá se foi o Simple Minds correr atrás do sucesso. Entraram em clima de “agora vai!” com essa excelente faixa, que mais lembra uma versão new wave de Citadel, dos Rolling Stones – a semelhança entre as duas canções é evidente. Mas tanto o disco quanto a música foram tiros n’água em termos de vendagens, e nada deu certo.
“FACTORY” (do disco Reel to real cacophony, 1979). Mais uma canção do Simple Minds com o pé nas paisagens sonoras e nos teclados clássicos do Ultravox.
“CARNIVAL (SHELTER IN A SUITCASE)” (do disco Reel to real cacophony, 1979). Ska maníaco, experimental e meio eletrônico que lembra tudo menos o Simple Minds que todo mundo escutou no rádio: dá para achar elementos de Neu! e Public Image Ltd nessa canção.
“CAPITAL CITY” (do disco Empires and dance, 1980). Última tentativa do Simple Minds na Arista, o terceiro disco foi prejudicado pela má distribuição, que o deixou indisponível para os fãs. Quem ouviu, pegou o grupo ainda em fase “difícil” e avesso a conceber hits, muito embora a ida para a Virgin, logo em seguida, ainda guardasse muitas características desse período.
“THIRTY FRAMES A SECOND” (do disco Empires and dance, 1980). Pós-punk nervoso, levado adiante por linhas de baixo e sintetizadores. Jim Kerr consegue lembrar bastante Bryan Ferry (opa!) nos vocais e o som parece mesmo um Roxy Music mais maníaco.
“TODAY I DIED AGAIN” (do disco Empires and dance, 1980). Modifica dali, modifica daqui, e essa música pode figurar num lado B do Joy Division – ainda que os vocais já apontem bastante para a fase posterior do Simple Minds.
Cultura Pop
No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970
No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!
Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.
Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).
Crítica
Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)
Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.
O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- Resenhamos Songs of a lost world aqui.
O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.
And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.
Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor
Crítica
Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”
A Cleopatra Records, uma gravadora de Los Angeles que se dedica a lançar em edições oficiais-ou-quase antigos discos piratas (boa parte deles de punk rock, psicodelia e pedradas obscuras dos anos 1960) revisita agora o catálogo de bootlegs dos Dead Boys, com esse Live in San Francisco.
O show foi gravado em 2 de novembro de 1977, na época de lançamento da estreia do grupo, Young, loud and snotty (1977) e já esteve nas lojas com vários nomes: Live 1977, Live in Old Waldorf (local em San Francisco onde rolou o tal show), Down in flames, etc. Não muda o fato de que é um piratão legítimo, com qualidade de gravação de demo antiga (foi tirado na verdade de uma transmissão da emissora KSAN-FM) e sem muitos tratamentos. Mostra pelo menos o peso do grupo na época, além de uma seleção de faixas de Young, além de algumas que sairiam só no segundo álbum, We have come for your children (1978).
O material dos Dead Boys seria bastante influente em gerações posteriores do punk, do power pop e até do rock pauleira (Guns N’Roses, por exemplo). A abertura com Sonic reducer e All this and more mostra um estilo de punk rock herdadíssimo de artistas como Alice Cooper, Ramones, David Bowie, Rolling Stones, New York Dolls. Um som que, mesmo antes do vocalista Stiv Bators abrir a boca, já se impunha pela atitude, pelas microfonias e pelo clima descompromissado musicalmente – no nível da desafinação em alguns momentos, como em All this and more, a desbocada Caught with the meat in your mouth e outras, todas aplaudidas por uma plateia audivelmente pequena, mas animada.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário
- Entrevista: Frank Secich fala sobre a pouco lembrada (e ótima) carreira solo de Stiv Bators
Flame thrower love, que sairia só no segundo disco, está no álbum ao vivo e já trazia uma diferença em relação ao material anterior: era uma canção punk basicamente construída em cima de um riff pesado, algo bem mais próprio do hard rock. A destrutiva Son of Sam, entre gritos de Stiv e viradas erradíssimas do baterista Johnny Blitz, era formada por uma estranha mescla de pós-punk deprê e acordes poderosos na linha do The Who. No final, a cacofonia de Down in flames, cantada por Bators quase sem voz, e a homenagem aos Stooges com a releitura de Search and destroy, com microfonias no fim.
Os Dead Boys não sobreviveriam, pelo menos inicialmente, ao excesso de drogas, às incompreensões do mercado e a seu próprio comportamento destrutivo. O grupo voltou em 2017 e recentemente anunciou um disco gravado por uma turma all-stars, liderada pelo guitarrista original Cheetah Chrome – disco esse que já causou polêmica porque o vocalista Jake Hout acusa a banda de querer usar a voz do falecido vocalista Stiv Bators em IA. Só vendo, mas o passado, com todos os seus defeitos e qualidades, tá aí.
Nota: 7,5
Gravadora: Cleopatra Records
-
Cultura Pop4 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop4 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema7 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?