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Cultura Pop

Synapse: a sua revista de música eletrônica… nos anos 1970

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Synapse: a sua revista de música eletrônica... nos anos 1970

Incensadíssimo hoje, o Kraftwerk nem sempre foi tão mimoseado assim pela crítica musical. Muitos fãs da música eletrônica “de várzea” achavam que o grupo alemão havia se vendido rápido demais às paradas pop. Da mesma forma, fãs de rock achavam que aquela história de música eletrônica era pouco mais que conversa para boi dormir. De qualquer jeito, a Synapse, uma revista de música eletrônica (!) bem interessante e redefinidora lançada na Califórnia durante os anos 1970, foi atrás do grupo alemão. E procurou saber como era mesmo essa história de bancarem os homem-máquina.

Synapse: a sua revista de música eletrônica... nos anos 1970

Os repórteres da Synapse voltaram com uma entrevista de três páginas, que saiu na edição de setembro de 1976. Nela, Ralf Hutter e Florian Schneider repassam a carreira, falam sobre como é fazer música na Alemanha (“um país que ouve música nova, ao contrário dos EUA, mais voltado para o entretenimento”, contam). E lembram a relação do grupo com nomes como Karlheinz Stockhausen.

Na poucas edições que soltou nas bancas entre 1976 e 1979, a Synapse cobriu todo o cenário da música eletrônica dos anos 1970, indo fundo num detalhe: ela ainda dependia muito dos guarda-chuvas do rock e do som progressivo para ser entendida, apesar de uma tal de new age music brotar do chão devagarzinho. A publicação também falava de artistas que caminhavam na onda entre o rock e a experimentação. Heroes, de David Bowie, ganhou resenha, e nomes como Todd Rundgren e Devo viraram capa.

Synapse: a sua revista de música eletrônica... nos anos 1970

Synapse: a sua revista de música eletrônica... nos anos 1970

>>> Veja também no POP FANTASMA: Psicodelia para crianças: Suzanne Ciani no 3-2-1 Contact

Dirigida por um time que incluía o editor-chefe Douglas Lynner e a publisher Angela Schill, ela bem que se esforçou, com matérias detalhadas sobre tecnologia, sobre equipamentos. Além de entrevistas com nomes como Stockhausen, Brian Eno, Robert Moog (dos sintetizadores Moog), Tom Oberheim (da Oberheim), Tomita, Malcolm Cecil (criador do sintetizador-quarteirão TONTO, que Stevie Wonder adorava) e outros.

Synapse: a sua revista de música eletrônica... nos anos 1970

A novidade é que você pode ler quase toda a coleção da Synapse agora. Isso porque os editores acharam a maioria dos números e puseram tudo scanneado na internet. Leia tudo aqui.

A Synapse seguia uma linha análoga a das revistas de equipamentos que proliferavam nas bancas de jornal nos anos 1970, até mesmo no Brasil. E que iam na linha “futurista” da época, cujos resultados ainda só surgiam de longe. Ou seja: traziam matérias bem detalhadas, textos enormes, poucas ilustrações e um clima de “monte você mesmo seu equipamento” (nem tanto: um aparelho musical daqueles não era para amadores). Mas também tinha uma seção de resenhas de discos (cujo nome era Discola). Matérias sobre teclados populares durante os anos 1970, como o mellotron, eram comuns.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Quando Wendy Carlos fez a trilha de Tron, da Disney

Mas também tinha matérias especiais sobre essa gente que fazia das tripas coração para levar sons eletrônicos para o povão. Mesmo que fosse preciso levar teclados e outros equipamentos caros para a praça pública. Era o caso de um músico chamado Gregory Kramer, que oferecia uma fantasia para três sintetizadores (com direito a músicos acompanhantes) para quem estivesse andando pelos parques de Nova York, lá por 1976. Aliás, numa das ocasiões, ele levou Suzanne Ciani, a rainha dos sintetizadores e da quadrofonia, com ele.

Synapse: a sua revista de música eletrônica... nos anos 1970

A revista tinha também propagandas de discos independentaços de música eletrônica – aliás, alguns deles hoje são verdadeiras raridades. Um deles era Pieces for Kohn, do compositor Thomas Hamilton, lançado por um selo de St. Louis, Missouri, chamado Somnath Records, em 1975.

Enfim, hoje, tá tudo na internet – e a Wikipedia tem uma boa lista de tudo que tem na revista.

Via John Coulthart

 

Cultura Pop

No nosso podcast, a época em que o Killing Joke revolucionou o pós-punk

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No nosso podcast, a época em que o Killing Joke revolucionou o pós-punk

Drogas, caos, peso, ocultismo, iluminação espiritual e paixão pela violência e pelo proibido marcaram a carreira do Killing Joke – e marcam até hoje, já que a banda ainda existe. Do começo até meados dos anos 1980, Jaz Coleman, Youth (e depois Paul Raven), Paul Ferguson e o recém-falecido Geordie inseriram mais e mais perigo num estilo musical, o pós-punk, marcado pela insinuação e pela exploração de demônios interiores.

No nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, o assunto de hoje é a melhor fase do Killing Joke, uma das bandas mais misteriosas da história do rock, responsável por aproximar estilos como pós-punk, gótico e heavy metal. Terminamos no disco Brighter than a thousand suns (1986), mas a história do grupo ainda inclui muitos outros discos – ouça tudo.

Século 21 no podcast: Girls In Synthesis e Plastique Noir.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Crítica

Ouvimos: Ramones, “Halfway to sanity” (relançamento)

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Ouvimos: Ramones, “Halfway to sanity” (relançamento)

Que ironia: um disco nota 6 dos Ramones causa crises de saudades e revisionismo histórico e… pelo menos aqui no Pop Fantasma, aumenta de cotação. Halfway to sanity (1987) volta agora às lojas brasileiras (as online e as que resistem), e no formato CD. Foi o último disco gravado com Richie Ramone na bateria, pouco antes do grupo fazer uma tentativa de colocar o ex-Blondie Clem Burke para substituí-lo.

Dizer que “o disco tal dos Ramones foi marcado por brigas durante a gravação” é chover no molhado, ainda mais em se tratando de uma banda que tinha o intransigente Johnny Ramone como guitarrista. Halfway, décimo álbum da banda, lançado originalmente em 15 de setembro de 1987, por sua vez, é um caso à parte: a porrada comeu antes, durante e depois. Para começar, em janeiro daquele ano, o grupo baixou em São Paulo para três shows – o primeiro deles terminou em briga generalizada provocada por skinheads.

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  • Temos episódios do nosso podcast sobre Ramones e Blondie.

No meio das gravações, Joey e Johnny Ramone, inimigos íntimos, não se entendiam. O produtor Daniel Rey tinha problemas de comunicação com boa parte da banda. Dee Dee Ramone (ainda no baixo do grupo), passava boa parte do tempo doidão, não conseguia se comunicar com ninguém e – dizem – teve suas partes de baixo tocadas por Rey. Pessoas que lidavam com os Ramones de perto dizem que a banda já estava de saco cheio de trabalhar feito louca, gravar um disco por ano e não ser reconhecida, com direito a amigos da onça perguntando a eles “quando a banda iria estourar”.

E aí que Halfway soa insano, embora sob controle. Curtíssimo (12 músicas em 30 minutos e uns quebrados), o álbum traz os Ramones fazendo algumas incursões pelo hard rock e pelo hardcore, com direito a vocais berradíssimos de Joey Ramone em faixas como I know better now, a agitada Weasel face (na qual a voz do cantor chega a lembrar a de Alice Cooper) e o skate punk legítimo I’m not Jesus. O grupo chega perto do pós-punk gótico em Garden of serenity, adere ao som tribal na onda do Public Image Ltd em Worm man, e soa revivalista na balada Bye bye baby (com cara de canção de girl group, e escrita, claro, por Joey) e no rock vintage Go lil Camaro go, marcado por uma apagada participação de Debbie Harry.

1987 foi um ano de três bateristas para os Ramones: com Halfway em curso, Richie saiu brigado da banda, e deu lugar para Clem Burke – jornalistas lançaram a piada de que ele adotaria o nome Clemmy Ramone, mas ficou mesmo como Elvis Ramone. Não deu certo e após dois shows confusos, Marky Ramone, que estava afastado da banda desde 1983, retornou. Hoje, vale a redescoberta.

Nota: 7,5
Gravadora: ForMusic (no Brasil)

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Crítica

Ouvimos: Nick Lowe e Los Straitjackets, “Indoor safari”

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Ouvimos: Nick Lowe e Los Straitjackets, “Indoor safari”
  • Indoor safari é o novo disco do cantor, compositor e produtor britânico Nick Lowe. Um artista cuja carreira vem desde meados dos anos 1960, mas que se notabilizou a partir dos anos 1970, primeiro como integrante das bandas Brinsley Schwarz e Rockpile, depois como artista solo lançado por gravadoras como a indie Stiff e a indie-major Radar.
  • O disco é uma compilação de gravações feitas ao longo de dez anos por Lowe com a banda retrô-lounge-surf Los Straitjackets, que sempre se apresenta disfarçada por máscaras de wrestling. O cantor e o grupo já haviam lançado um álbum ao vivo em 2016.
  • Indoor safari sai pelo selo Yep Roc, iniciado em 1997 e cujo elenco já teve de Fountain Of Wayne a Bob Mould e Gang Of Four.

Figurinha indispensável dos anos 1970, brilhante como cantor, compositor e produtor, rei da transição entre pub rock, punk e new wave (seu som passa pelos três estilos)… Nick Lowe é aquele cara que provavelmente, no Brasil, muita gente conhece sem conhecer. Volta e meia ele é citado por aí como nomão influente, artistas como Elvis Costello já trabalharam com ele, e sua discografia, além de já ser bem extensa, inclui músicas que volta e meia rolam no rádio até mesmo no Brasil, como So it goes, Crackin up e Cruel to be kind.

Drogas e problemas pessoais deixaram a história de Nick mais conturbada, mas ele nunca parou. De qualquer jeito, a carreira discográfica de Lowe meio que ficou no para-e-anda depois de 2013, quando ele lançou Quality street, disco de Natal. Em compensação, ele saiu em turnê para divulgar o álbum ao lado de uma banda chamada Los Straitjackets, uma banda da mesma gravadora que ele (Yep Roc), dedicada a rock extremamente vintage – surf music, rockabilly e coisas próximas do bubblegum – com cada integrante usando uma máscara de wrestling.

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Isso aí era Lowe, que já foi visto como um revisionista futurista, voltando-se para um som clássico de rock, ao lado de uma galera bastante animada. Tão animada que o enrosco com a banda rendeu turnê e alguns singles. E agora rende uma espécie de coletânea expandida, Indoor safari, com os compactinhos que ele vem gravando ao lado dos Straitjackets, mais três músicas inéditas. Uma das novas canções, a surfística Went to a party, surge na abertura soando como o Who ou os Kinks dando vida nova a uma canção dos anos 1950 – ou alguma música perdida de bandas como Kingsmen ou Rivingstones.

Indoor safari não é um disco “novo”, mas isso não o torna menos valoroso. Os Straitjackets e Lowe fazem um disco de rock quase 100% autoral que poderia ter saído em 1961 ou 1962, com músicas que, se tivessem sido feitas naquela época, estariam no set list do show dos Beatles em Hamburgo, ou entre as releituras dos primeiros discos deles. De qualquer jeito, há dois covers, A quiet place, de um grupo chamado Garnett Mimms & The Enchanters, original de 1964; e Raincoat in the river, gravada originalmente por Ricky Nelson.

O clima lounge prometido pela foto da capa surge amplificado em músicas como Love starvation, a tristezinha rocker de Crying inside, a maravilha meio Motown meio Beatles Jet pac boomerang (encerrada com uma citação de Please please me, dos quatro de Liverpool), a selvageria rocker de Tokyo bay e a bateção irresistível de violão e guitarra de Trombone. Cada riff de guitarra soa como anúncio de duelo, numa onda meio surf rock de faroeste. Ouça no volume máximo.

Nota: 9
Gravadora: Yep Roc

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