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Cultura Pop

Relembrando: The Seahorses, “Do it yourself” (1997)

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Relembrando: The Seahorses, "Do it yourself" (1997)

“Os Seahorses incorporaram as piores tendências do rock britânico pós-Oasis. A ironia colossal é que o Oasis devia muito de seu som e arrogância ao The Stone Roses em primeiro lugar”.

O jornalista Ed Power, que assinou recentemente no jornal The Telegraph uma matéria sobre a segunda banda do guitarrista e ex-Stone Roses John Squire – aquele cara que lançou agora um disco com Liam Gallagher – não é o único a pensar mal dos Seahorses. Formada na época em que o Oasis dominava o mercado do brit-pop fazendo uma excelente curadoria de referências dos Beatles, a banda de Squire, de Chris Helme (voz, guitarra), Stuart Fletcher (baixo) e Andy Watts (bateria) era pródiga em unir a sujeira do pós-punk a toques de Beatles, Rolling Stones, Kinks, Who, David Bowie, T. Rex e, especialmente, Led Zeppelin.

São lembranças do quarteto inglês de rock pauleira que aparecem aqui e ali no primeiro e único disco do grupo, Do it yourself, produzido por Tony Visconti (ex-produtor de Bowie e T. Rex) e lançado em 26 de maio de 1997. Era fácil tacar pedra nos Seahorses – e mesmo o Oasis era visto de soslaio por muita gente. Mas é difícil não se impressionar, por exemplo, com Love is the law, canção de quase oito minutos que é um dos destaques do disco. E que une, ao jeito largado do Primal Scream, do T. Rex e do próprio Stone Roses, solos e bases que lembram bastante Jimmy Page, guitarrista do Led.

O próprio Squire já declarou que a matéria-prima dos Seahorses foi a precipitação. Brigadíssimo com o vocalista dos Stone Roses, Ian Brown, ele saiu do grupo e foi tratar da vida profissional lançando rapidamente uma nova banda, que soava mais urgente e menos deslavadamente neo-psicodélica que o SR. Para montar a banda (cujo nome vem de um anagrama da frase “he hates roses”, uma piada cruel com seu ex-grupo), saiu à cata de músicos e deu de cara com Chris Helme. Chris era um cantor de boa voz e… influências de folk, até mesmo na atitude de palco, o que deixava Squire bastante aborrecido (“ele cantava até de olhos fechados”, reclamou). O guitarrista quase mandou Helme pastar várias vezes e não gostava das canções feitas por ele, mas acabou convidando o cantor para a banda.

Squire já declarou também ser um sujeito bastante antidemocrático, algo que evidentemente dificulta bastante o convívio com ele num grupo. Seja como for, Do it yourself tem até duas músicas feitas apenas por Helme: a boa Blinded by the sun (que, para o desgosto do patrão Squire, é a faixa mais ouvida dos Seahorses no Spotify) e a balada Standing on your head, que lembra Pearl Jam e Pink Floyd. Não são as faixas mais prototípicas do disco, já que Squire investe na maior parte do tempo em hinos brit-pop – todos cheios de riffs, com alguns refrãos que pegam. Além de incursões por um blues-rock mais “sujo”, como em I want you to know, Suicide drive, e The boy in the picture, uma balada repleta de recordações pessoais.

Happiness is eggshaped funciona num meio-caminho entre Beatles e Byrds, um rock com cara country que, mexendo dali e daqui, vira um power pop – é uma das melhores do álbum. E seguindo a linha do Oasis, de colecionar referências beatlemaníacas, Love me or leave me, parceria de Squire e Liam Gallagher, é uma balada (boa, por sinal) abre com o verso “don’t believe in Jesus/don’t believe in Jah”, referência à lista de descréditos cantada por John Lennon na balada de piano God.

Outra crítica que muita gente fez ao Seahorses foi que as letras de Squire não são lá muito empolgantes e são bastante ingênuas – de fato, se comparadas até mesmo às letras do Oasis, elas parecem coisa de adolescente. Ouvindo hoje, dá pra perceber porque é que Do it yourself sobrou como uma grande recordação do brit-pop em vez de ser “o” grande clássico da época. Mas é um daqueles discos que têm tantas qualidades que dá pra admirar até os defeitos. Quanto ao futuro do grupo, Squire reconheceria mais uma vez que bandas não são seu forte, e os Seahorses só durou esse álbum, mesmo.

Crítica

Ouvimos: Faust, “Blickwinkel” (curated by Zappi Diermaier)

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Ouvimos: Faust, "Blickwinkel" (curated by Zappi Diermaier)

Se você está procurando uma música indecente para assustar vizinhos e atazanar transeuntes, esqueça qualquer grupo de heavy metal ou de punk, e tente a banda alemã Faust. Artífices do krautrock – o rock experimental alemão, parente tanto do punk quanto do rock progressivo – eles começaram em 1971, e desde o começo, fizeram carreira na experimentação, na dissonância, nas microfonias e nos efeitos de estúdio. Tanto que Werner “Zappi” Diermaier, Hans Joachim Irmler, Arnulf Meifert, Jean-Hervé Péron, Rudolf Sosna e Gunther Wüsthoff (a primeira formação do grupo) fizeram questão de agregar um engenheiro de som exclusivo, Kurt Graupner.

O curioso a respeito do Faust é que as origens da banda são até bem (vá lá) comerciais, já que o grupo tinha um criador, produtor e mentor. Era o jornalista e crítico musical Uwe Nettelbeck, que havia sido procurado pela Polydor alemã com uma proposta tentadora: criar uma banda “underground” que poderia ser a resposta do país aos Beatles e Rolling Stones.

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Uwe, digamos, entendeu mais ou menos bem a proposta: reuniu duas bandas alemãs em uma e montou o Faust, que levou para a gravadora. Convencer a empresa de que aquela banda numerosa e “difícil” seria a sensação do ano deve ter sido até fácil. Difícil foi convencer o público a ouvir um grupo tão maluco e experimental, inspirado por jazz e música concreta. Afinal se tratava de um grupo que no terceiro disco, The Faust tapes (lançado em 1973 pela Virgin, quando a própria Polydor já havia desistido), apresentava só duas longas músicas sem título, divididas em pequenos segmentos com ruídos, microfonias e gravações caseiras.

O Faust existiu até 1975, se reagrupou durante os anos 1980 para poucas apresentações e retornou nos anos 1990 com três integrantes originais. Fizeram até uma primeira tour pelos EUA em 1994. De lá para cá, dá para dizer que a banda nunca mais parou, com direito a uma vinda ao Brasil em 2011. Em 2022, saiu Punkt, disco “perdido” deles gravado em 1974, e que havia sido recusado pela Virgin. Agora é a vez de Blickwinkel, álbum que marca uma fase em que a banda tem curadoria do fundador Zappi Diermaier, com a presença de uma turma animada de músicos (um deles, o também fundador Gunther Wüsthoff).

O grupo que ajudou a fundamentar a estética motorik (batidas intermitentes e quase robóticas), copiada pelo pós-punk todo, volta disposto a criar cenários fantasmagóricos e psicodélicos, em sete longas faixas instrumentais que chegam a parecer surrealistas – uma delas, basicamente uma música de violão, percussão e ruídos, se chama Sunny night (“noite ensolarada”). For schlaghammer, na abertura, parece uma música de perseguição, criada por percussões que lembram passos, sintetizadores e ruídos metálicos.

Künstliche intelligenz lembra um pouco a fase A saucerful of secrets, do Pink Floyd (1968), e tem um ar meio Syd Barrett em alguns momentos. Kriminelle kur é progressivo funkeado e distorcido na onda do King Crimson, e é a faixa do disco que mais se aproxima da noção de “rock instrumental”. No final, o ruído inconformista, perturbador e heavy de Die 5 revolution, e o batidão aterrorizante de Kratie.

É música, literalmente, feita para incomodar.

Nota: 9
Gravadora: Bureau B

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Cultura Pop

No nosso podcast, a época em que o Killing Joke revolucionou o pós-punk

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No nosso podcast, a época em que o Killing Joke revolucionou o pós-punk

Drogas, caos, peso, ocultismo, iluminação espiritual e paixão pela violência e pelo proibido marcaram a carreira do Killing Joke – e marcam até hoje, já que a banda ainda existe. Do começo até meados dos anos 1980, Jaz Coleman, Youth (e depois Paul Raven), Paul Ferguson e o recém-falecido Geordie inseriram mais e mais perigo num estilo musical, o pós-punk, marcado pela insinuação e pela exploração de demônios interiores.

No nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, o assunto de hoje é a melhor fase do Killing Joke, uma das bandas mais misteriosas da história do rock, responsável por aproximar estilos como pós-punk, gótico e heavy metal. Terminamos no disco Brighter than a thousand suns (1986), mas a história do grupo ainda inclui muitos outros discos – ouça tudo.

Século 21 no podcast: Girls In Synthesis e Plastique Noir.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Crítica

Ouvimos: Ramones, “Halfway to sanity” (relançamento)

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Ouvimos: Ramones, “Halfway to sanity” (relançamento)

Que ironia: um disco nota 6 dos Ramones causa crises de saudades e revisionismo histórico e… pelo menos aqui no Pop Fantasma, aumenta de cotação. Halfway to sanity (1987) volta agora às lojas brasileiras (as online e as que resistem), e no formato CD. Foi o último disco gravado com Richie Ramone na bateria, pouco antes do grupo fazer uma tentativa de colocar o ex-Blondie Clem Burke para substituí-lo.

Dizer que “o disco tal dos Ramones foi marcado por brigas durante a gravação” é chover no molhado, ainda mais em se tratando de uma banda que tinha o intransigente Johnny Ramone como guitarrista. Halfway, décimo álbum da banda, lançado originalmente em 15 de setembro de 1987, por sua vez, é um caso à parte: a porrada comeu antes, durante e depois. Para começar, em janeiro daquele ano, o grupo baixou em São Paulo para três shows – o primeiro deles terminou em briga generalizada provocada por skinheads.

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  • Temos episódios do nosso podcast sobre Ramones e Blondie.

No meio das gravações, Joey e Johnny Ramone, inimigos íntimos, não se entendiam. O produtor Daniel Rey tinha problemas de comunicação com boa parte da banda. Dee Dee Ramone (ainda no baixo do grupo), passava boa parte do tempo doidão, não conseguia se comunicar com ninguém e – dizem – teve suas partes de baixo tocadas por Rey. Pessoas que lidavam com os Ramones de perto dizem que a banda já estava de saco cheio de trabalhar feito louca, gravar um disco por ano e não ser reconhecida, com direito a amigos da onça perguntando a eles “quando a banda iria estourar”.

E aí que Halfway soa insano, embora sob controle. Curtíssimo (12 músicas em 30 minutos e uns quebrados), o álbum traz os Ramones fazendo algumas incursões pelo hard rock e pelo hardcore, com direito a vocais berradíssimos de Joey Ramone em faixas como I know better now, a agitada Weasel face (na qual a voz do cantor chega a lembrar a de Alice Cooper) e o skate punk legítimo I’m not Jesus. O grupo chega perto do pós-punk gótico em Garden of serenity, adere ao som tribal na onda do Public Image Ltd em Worm man, e soa revivalista na balada Bye bye baby (com cara de canção de girl group, e escrita, claro, por Joey) e no rock vintage Go lil Camaro go, marcado por uma apagada participação de Debbie Harry.

1987 foi um ano de três bateristas para os Ramones: com Halfway em curso, Richie saiu brigado da banda, e deu lugar para Clem Burke – jornalistas lançaram a piada de que ele adotaria o nome Clemmy Ramone, mas ficou mesmo como Elvis Ramone. Não deu certo e após dois shows confusos, Marky Ramone, que estava afastado da banda desde 1983, retornou. Hoje, vale a redescoberta.

Nota: 7,5
Gravadora: ForMusic (no Brasil)

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