Connect with us

Cultura Pop

Parachute: quando os Pretty Things deram adeus ao sonho hippie

Published

on

Parachute: quando os Pretty Things deram adeus ao sonho hippie

“A rivalidade verdadeira não era entre Beatles e Rolling Stones, mas entre Beatles e Beach Boys”, teimam alguns puristas. Isso porque ainda tem gente que diz que a nêmesis de Mick Jagger e seus colegas era outra banda britânica. Eram os Pretty Things.

O Pretty Things teve entre seus fundadores por um músico chamado Dick Taylor, que estudou com Keith Richards no Sidcup Art College, em Kent. Aliás e a propósito, Taylor acabou tocando baixo na primeiríssima formação dos Rolling Stones, mas acabou saindo rapidamente do grupo. “Não me lembro bem porque saí. Provavelmente por nada. Foi mais porque conheci Phil (May, cantor dos PT) e ele queria fazer as coisas que eu gostava de fazer”, afirmou aqui.

>> Veja também no POP FANTASMA: Memórias de Phelge, personagem misterioso da história dos Rolling Stones

O grupo não era exatamente um rival dos Stones, não. Mas tem muito fã até hoje jurando que a banda merecia ter a mesma atenção da mídia que eles tiveram. E, ah, render os milhares de dólares. Parentesco não faltava: os Pretty Things surgiram da mesma cena rhythm’ n blues da qual saíram Jagger & cia, e tinham referências parecidas. Rosalyn, primeiro single da banda (1964), tinha uma baita influência de Bo Diddley (opa, o nome Pretty Things foi tirado de uma música dele). Só que pode causar confusões na cabeça de muita gente: isso não é Stones no começo?

Os Pretty Things tiveram um início de trajetória bem louco e cheio de escolhas, er, sui generis. Contratado pela Fontana, o grupo também teve garotas gritando na plateia e fãs maníacos – mas o sucesso ficou, quando muito, restrito à Grã-Bretanha. A banda era tida como mais suja e agressiva que os Stones. A formação foi mudando diversas vezes por causa de brigas internas. E, antes da psicodelia virar onda, eles já aterrorizavam geral com o B-side LSD, de 1965, proibidão na BBC. Uma turnê pela Nova Zelândia naquele ano (aliás, um ano depois que os Beatles passaram por lá) foi recebida pelo jornal local Taranaki Daily News com a frase “estes, acredite ou não, são homens!”

>>> Veja também no POP FANTASMA: Show da Virada: The Who, Pink Floyd e Small Faces em Paris, no réveillon de 1968

O grupo foi passando por situações bem mais complexas que os Stones e os Beatles – em parte, por não ter um empresário tão assertivo quanto Andrew Loog Oldham ou Brian Epstein. A síndrome de Sgt. Pepper’s bateu na porta deles com Emotions (1967), último disco do contrato com a Fontana. Odiado pela banda, o disco é cheio de arranjos de orquestra impostos pela gravadora. Mas o grupo saiu fora da gravadora em seguida e nem divulgou o álbum.

Parachute, o disco em questão neste texto (1970), foi o segundo álbum dos Pretty Things pela Harvest e trazia certo clima de ressaca dos anos 1960. Foi lançado dois anos depois da ópera rock S.F. Sorrow (1968), tida como um dos mais subestimados álbuns da história do rock.

S.F. Sorrow conseguiu a proeza de sair na Inglaterra pouco antes de Tommy, do Who (1969). Mas nos Estados Unidos foi lançado após Tommy – e não pela Harvest, mas pela pouco poderosa operação “rocker” da gravadora Motown, Rare Earth. Os integrantes dos Pretty Things se sentiram injustiçados, acreditando que seu disco estava sendo visto nos EUA como cópia barata da história do menino cego, surdo e mudo. E processaram a EMI, dona da Harvest.

Parachute: quando os Pretty Things deram adeus ao sonho hippie

>>> Veja também no POP FANTASMA: Raridades dos Rolling Stones no YouTube

“Ué, mas eles não continuaram na gravadora e lançaram Parachute por lá?”, você deve estar se perguntando. Sim, foi exatamente isso que aconteceu. “Quando penso nisso agora… Meu Deus, foi um ato de coragem. Porque fomos atingidos por Muhammad Ali e depois por Mike Tyson. Mas ainda voltamos ao ringue”, contou Phil May aqui. Na época, os Pretty Things eram May (voz), Vic Unitt (guitarra), Wally Waller (baixo, voz), Jon Povey (teclados, voz) e Skip Alan (baterista). Dick Taylor já havia saído e o grupo perdera integrantes para bandas como Pink Fairies e Edgar Broughton Band.

Os Pretty Things voltavam com um disco mais desencantado ainda que S.F. Sorrow (que já era uma ópera-rock em que o personagem principal concluía que era “a pessoa mais solitária do mundo”). Tudo em Parachute acenava para o fim do sonho psicodélico. Notícias de amigos que se mudavam de Londres inspiravam histórias de pessoas que partiam de repente (The letter), ou contos sobre finais de relacionamentos (Miss Fay Regrets).

Em Parachute, havia histórias sobre injustiça (Cries from the Midnight Circus). Também havia uma “carta de despedida” para a gravadora e os empresários (What’s the use, dos versos “por que você não entende/que não podemos construir de acordo com as linhas de um plano?”). Mas conviviam ainda no disco personagens irônicos (The good Mr. Square) ou românticos e heroicos (a garota de She was tall, she was high).

>>> Veja também no POP FANTASMA: Percy: aquela vez em que os Kinks fizeram a trilha de uma comédia sobre transplante de pênis

Parachute recebeu boas resenhas, mas ficou na obscuridade. Os Pretty Things permaneceram gravando – foram para a Warner na sequência e chegaram a gravar pelo selo do Led Zeppelin, Swan Song. Aliás, aderiram ao hard rock e ao glam rock (em Silk torpedo, de 1974). Em 1998, reuniram quase toda a formação de S. F. Sorrow para apresentar o repertório do disco num show em Abbey Road, transmitido pela internet (você leu sobre isso aqui).

Entre idas, vindas e mudanças, os Pretty Things existiram até 2020, vencidos pela morte de Phil May e pela pandemia. Nesse ano, saiu o último disco da banda, Bare as bone, bright as blood, despedida do cantor. O vocalista acreditava que o mundo do qual vieram os Pretty Things já tinha dado adeus, igualzinho aos personagens de Parachute. “Não existem mais álbuns conceituais porque provavelmente a maioria das pessoas não têm mais conceitos. Faz sentido, não é?”, disse May.

Aliás, Parachute reapareceu nas plataformas não faz muito tempo em versão dupla, cheia de bônus. Ouça agora.

Cultura Pop

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Published

on

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

Continue Reading

Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Published

on

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Published

on

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

Continue Reading
Advertisement

Trending