Crítica
Ouvimos: The Wolfgang Press, “A 2nd shape”
- A 2nd shape é o primeiro álbum da banda britânica The Wolfgang Press em mais de três décadas. O grupo se notabilizou por ser uma das bandas da primeira onda da gravadora 4AD. Desde o retorno, o trio só havia lançado um mini-LP comemorativo do Record Store Day, Unremembered remembered (2020).
- A banda volta com formação mudada: o tecladista Mark Cox saiu e a Michael Allen (voz e baixo) e Andrew Gray (guitarra), junta-se o irmão deste último, Stephen. O disco foi gravado com métodos pré-Pro Tools, como se fosse uma gravação dos anos 1980. “Sempre começamos pelo barulho, e foi o que fizemos nesse disco novo”, contou Allen ao site The Quietus.
Uma das bandas mais interessantes da era de ouro do selo 4AD, antes até da gravadora se notabilizar pelos álbuns dos Pixies, o Wolfgang Press sempre fez basicamente pós-punk gótico sem os vícios de tudo aquilo que é chamado de “gótico”. Em alguns casos, dava para dizer que era um Killing Joke ainda mais cerebral, e mais interessado em sonoridades próximas do funk – e o que diz muito a respeito do Wolfgang Press é a paixão que o vocalista e baixista Michael Allen tem por Metal box, segundo álbum do Public Image Ltd.
Sumido há quase três décadas, o WP retornou este ano sem o tecladista Mark Cox, e com Allen e Andrew Gray (guitarra) formando um novo trio com o irmão do guitarrista, Stephen, nos teclados. O grupo fez questão de esquecer os poucos momentos em que tentou soar mais palatável – como em hits Going South, Kansas, Christianity e A girl like you, repletos de ganchos melódicos, combinando groove e estética musical sombria. A palavra de ordem aqui é “esquisitice”, mas na medida certa: o grupo largou o lado funky de lançamentos anteriores e A 2nd shape parece um Cabaret Voltaire com algum balanço, um Steve Albini marcial e eletrônico, com músicas gravadas com tecnologia antiga (usaram um gravador ADAT de oito pistas), baixo, teclados e programações na frente, e vocais lamentosos.
No novo álbum, o Wolfgang Press faz até uma paródia dark de música surfística (a assombrosa The sad surfer), mas o que chama mais atenção é a disposição para construir atmosferas sonoras de teor quase industrial, em temas como a guerreira Take it backwards, as kraftwerkianas Glacier e The 1st, o bolerinho 21st century, as sinistras Knock, knock e This garden of Eden. Quase tudo em A 2nd shape é marcado por teclados e programações que se assemelham a passos distantes ou ruídos por trás da porta, como numa série de canções para ninar monstros.
Nota: 8,5
Gravadora: Downwards