Crítica
Ouvimos: Telenova, “Time is a flower”
- Time is a flower é o primeiro álbum do Telenova, trio australiano formado pela vocalista, escritora e cineasta Angeline Armstrong, e pelos multi-instrumentistas e produtores Edward Quinn e Joshua Moriarty.
- O trio se formou de maneira incomum: os integrantes participavam de um songcamp (acampamento de composição) na Austrália, e foram colocados numa sala – por ninguém menos que o ex-Death Cab For Cutie, Chris Walla – para criarem algo.
- “Isso aparece muito na imprensa como uma espécie de queimação de filme. Só que na realidade, ele estava meio que apenas colocando artistas aleatórios juntos em uma sala todos os dias”, contou Angelina num papo com a Blunt.
O Telenova é uma banda que reapresenta para o ano de 2024 aquela sonoridade que já ganhou rótulos como sophisti-pop: pop sofisticado, influenciado levemente pela psicodelia, pela dance music, pelo jazz e até pela bossa nova. Dá para cair na tentação de apontar a vocalista Angeline Armstong como mais uma das seguidoras da sonoridade dramática e impositiva de Lana Del Rey, mas não é bem assim.
A sonoridade do grupo é mais anos 1980/1990, a criação é de música (e não de personagem musical), e as referências são mais “adultas” do que apenas pop. E dá para entender porque a banda se descreve como “cinema para os seus ouvidos”. Não é excesso de autoestima nem cara de pau: cada faixa realmente dá um clipe ou um filme diferente, evocando imagens no som. Muita coisa de Time is a flower faz recordar eras perdidas do pop-rock, como a onipresença de bandas como The Cardigans no dial durante os anos 1990 (Angeline volta e meia faz lembrar os vocais de Nina Persson, cantora do grupo sueco).
Em alguns momentos, o grupo lembra um Cocteau Twins mais ligado ao blues e ao jazz, ou ao trance, como na harpa-e-violino da vinheta The walpaper. Ou na levemente dançante Teardrop, pop entre os anos 1980 e 1990, capaz de interessar a fãs de dream pop e de Massive Attack. Power é disco-music introvertida com letra falando sobre perdas, corações vazios e necessidade de força em momentos de queda.
Já Margot é pop alternativo dançante e influenciado pelo rock dos anos 1980, com uma das melodias mais mágicas do álbum. O lado mais dramático do grupo surge nos vocais de outra música boa de pista, Tremors, traces, enquanto January recorre a violões, percussões discretas, slide guitars e a algo que faz lembrar Fleetwood Mac na fase Rumours.
Na segunda metade do disco, destaque para o pop marcial e sintetizado da faixa-título, e para uma canção que, apesar de se chamar Discothèque inside my head, é um rock oitentista batido no violão, e que fala sobre “vozes internas” que põem tudo a perder. O gospel pesado e levado adiante pelas linhas de baixo de Preamble, a bossinha new wave e sessentista de Heaven’s calling e o dream pop sensual de Bird of paradise ajudam a levar Time is a flower para um lado celestial, sofisticado e melodioso do indie pop.
Nota: 8,5
Gravadora: EMI/Universal