Crítica

Ouvimos: Spellling, “Portrait of my heart”

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Spellling (com três letras “l”) é Chrystia Cabral, uma musicista de 33 anos que vive em Sacramento, California, e que em dez anos de carreira foi do pop-de-quarto feito com sérias restrições orçamentárias ao chamber pop realizado em estúdio, ao lado de músicos sagazes. Fã de discos como The idiot, de Iggy Pop, ela volta em Portrait of my heart, seu quinto álbum, atualizando a música de nomes como Cindy Lauper, Queen, Bangles e Kate Bush, e dando a esse som uma cara própria e moderna – quase um pop que originalmente não era para ser pop, mas foi se tornando.

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A tal referência a Cindy Lauper não é figura de linguagem – mesmo quando a musica de Spellling é um dream pop com aparência meio sombria, os vocais dão uma séria lembrada nela. Isso rola na faixa-título (um bom encontro entre dream pop e soul), em Keep it alive (new wave com micropontos de psicodelia, cordas e vocais elaborados) e em Alibi, uma mescla entre hard rock, emo, new wave, Bangles e Blondie. Já nas letras, Chrystia fala sobre “amor, intimidade, ansiedade e alienação” e mudanças bem estranhas que vão acontecendo ao longo do caminho – a faixa-titulo já abre com os versos-confissão “eu preciso de um golpe de sorte / porque eu chutei todos os meus anjos para o chão / e eu corri das consequências que eu merecia (…) / eu não pertenço a este lugar”. Um exercício de mexer com vulnerabilidades que é pouco típico do pop oitentista, e faz mais sentido se comparado com a turma confessional dos anos 1970 e 1990.

No decorrer de Portrait, Spellling vai dando suas características particulares ao pop adulto, como no ligeiro soft rock de Waterfall, na balada Ammunition e no pop tom anos 1980/1990 de Destiny arrives, lembrando Seal e Terence Trent D’Arby. Um clima de suspense, como algo que pode explodir a qualquer momento, toma conta de Mount analogue (cujo vocal tem até algo de Whitney Houston, mas sem o excesso de agudinhos – Toro Y Moi faz participação) e o grunge baladeiro marca Drain. Love ray eyes, por sua vez, é a new wave passada num filtro de loucuras psicodélicas. Resumindo: se você deixar passar Portrait of my heart, vai perder um dos álbuns mais criativos de 2025 até agora.

Nota: 9
Gravadora: Sacred Bones
Lançamento: 28 de março de 2025.

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