Crítica
Ouvimos: Hinds, “Viva Hinds”
- Viva Hinds é o quarto álbum da banda espnahola (de Madri) Hinds. O grupo, que já foi um quarteto, consiste hoje nas integrantes-fundadoras Carlotta Cosials (vocais, guitarra) e Ana García Perrote (vocais, guitarra).
- O nome do álbum veio de uma saudação que os fãs faziam a elas no começo da carreira, quando o grupo, que se chamava Deers, precisou mudar de nome por já haver um grupo xará. Como elas não gostaram da troca de nome, a plateia costumava gritar “Viva Hinds!”.
- O álbum foi produzido pelo ex-baterista da banda The Vaccines, Pete Robertson, e tem participações especiais de Beck e Grian Chatten (Fontaines DC).
A pandemia fez muitos projetos se desintegrarem. A banda Hinds correu bastante o risco de estar na lista da desintegração. The prettiest curse (2020), disco anterior delas, foi adiado e, por causa dos isolamentos da covid, teve a turnê cancelada ao chegar às lojas. Logo depois disso, problemas financeiros levaram ao rompimento com sua antiga equipe de gestão, e em dezembro de 2022, quando parecia que pelo menos o entorno havia voltado ao normal, o quarteto perdeu a baixista Ade Martín e a baterista Amber Grimberge.
Uma entrevista dada recentemente à Rolling Stone por Carlotta Cosials e Ana García Perrote, as duas integrantes-fundadoras do grupo – enfim, as que continuaram nas Hinds – mostra que o período entre tudo isso aí e Viva Hinds, o novo disco, não foi nada tranquilo, já que as duas precisaram se reorganizar bem rapidamente. Nada disso surge na audição do quarto álbum, basicamente um disco que une rock de garagem, pós-punk (com tons herdados diretamente de Pixies e The Cure) e uma ou outra experimentação de estúdio – na medida em que Carlotta e Ana uniram-se a Beck para fazer uma das faixas, a dançante Boom boom back, e encerram o álbum com uma espécie de bossa-noise, Bon voyage.
Já que se fala tanto que Brat, de Charli XCX, gerou uma temporada de discos festeiros, eletrônicos e dançantes, com algum esforço dá para encaixar Viva Hinds! numa espécie de contrapartida pós-punk e adulta da temporada. O disco novo das Hinds fala de amor, fala de perdas monumentais (The bed, the room, the rain and you, a principal do disco a se localizar entre Black Francis e Robert Smith), mas fala de sexo, sedentarismo, boletos e deprês em En forma (com letra em espanhol), do dia a dia de garotas más (Coffee, que prega “eu gosto de café e cigarros/e de flores de garotos com quem eu não estou dormindo”) e de não reconhecer sua própria imagem no espelho (Stranger, com participação de Grian Chatten, do Fontaines DC, e tom oitentista e new wave). Já Superstar, garage rock com um dos pés na house music, manda recados: “Seu pai e sua mãe estão pagando todas as suas contas/está claro o motivo de você me tratar como se fosse ainda uma criança”.
Viva Hinds tem como subtexto a celebração da amizade, e a sobrevivência em meio ao caos e às dúvidas. E ainda soa como música recém-saída da garagem.
Nota: 8
Gravadora: Lucky Number