Cultura Pop
O dia em que a música morreu: Buddy Holly, Richie Valens e Big Bopper
A EXPRESSÃO “O dia em que a música morreu” já foi usada para diversas tristes datas – mortes de Kurt Cobain e dos Mamonas Assassinas entre elas. Oficialmente falando, há só um dia em que a música morreu de fato, e essa data completa 58 anos hoje. Em 3 de fevereiro de 1959 um acidente de avião perto de Clear Lake, Iowa, matava os jovens roqueiros Buddy Holly, Richie Valens e J. P. “The Big Bopper” Richardson, além do piloto Roger Peterson.
NA ÉPOCA, Holly já era um cara bastante conhecido, estava em turnê e teria a companhia dos dois. Valens tinha só 17 anos e havia conseguido sucesso com sua releitura do tema mexicano “La bamba”. Big Bopper vinha desfrutando de êxito como cantor após alguns anos como compositor – e, conta-se, foi um dos primeiros músicos a se referir à necessidade da criação de “vídeos de música”, numa entrevista pouco antes de morrer. Em fevereiro de 1959, estava construindo um estúdio e planejava montar uma estação de rádio.
PODERIA SER apenas desastre de grandes proporções, mas a morte do trio acabou passando para a história como uma espécie de fim do rock, num período em que Little Richard se tornava pastor evangélico, Jerry Lee Lewis perdia público e espaço ao se casar com Myra, sua prima de 13 anos, e o rebelde Elvis Presley entrava para o exército. O rock seria substituído por ídolos bem mais inofensivos e essa situação duraria até o começo da invasão inglesa – uma situação muito bem coberta pela série “História do rock’ roll”, feita pela Time-Life nos anos 1990 e lançada numa série de DVDs aqui no Brasil pela Warner (alguns vídeos estão no YouTube).
EM 1999, quando o acidente que matou Holly, Valens e Bopper completou 40 anos, o canal VH1 levou ao ar um episódio da série “Behind the music” sobre o assunto – que está no YouTube (sem legendas).
DOCUMENTÁRIOS sobre Buddy Holly também não são complicados de achar, como esse aqui da BBC (igualmente sem legendas).
UM CRÉDITO costumeiramente dado a Buddy Holly é o das inovações que ele fez em estúdio quando começou a gravar, com a ajuda do produtor e técnico Norman Petty, que era seu empresário. Numa época em que nem havia som estereofônico, Buddy já fazia overdubs e cuidava especialmente do uso de microfones, alternando vários deles durante as gravações. O vídeo abaixo mostra uma visita ao estúdio de Petty, no Novo México, guiada por sua viúva, Vi, morta em 1992 (hoje é possível até marcar passeios pelo estúdio). Foi lá que Holly gravou praticamente tudo que fez.
https://www.youtube.com/watch?v=FH-AZhRpWW0&t=26s
DURANTE vários anos, rolou uma controvérsia sobre Big Bopper. O corpo dele foi encontrado bem distante dos destroços do acidente e, após a área do desastre ter sido totalmente limpa, foi encontrada no local uma pistola que pertencia a Buddy Holly. Isso bastou para que muita gente começasse a imaginar que rolaram tiros durante o voo, ou que Big Bopper havia inicialmente sobrevivido ao acidente e estava procurando ajuda pelas redondezas antes de morrer. Ou que tivesse levado um tiro.
PARA ACABAR COM OS RUMORES, em 2007 o filho de Big Bopper, Jay Perry Richardson (que só nasceria dois meses após a morte do pai) solicitou uma autópsia do pai ao médico forense Bill Bass. Enorme surpresa: Jay, que só tinha visto o pai em fotos ou vídeos, encontrou o corpo do astro em perfeito estado, como se estivesse ali para ser reconhecido por ele. “Vimos isso assim que abrimos o caixão. Dava para olhar para o corpo de Big Bopper e, em seguida, para o filho, e ver o quanto eles eram parecidos”, espantou-se o doutor Bass, que deu depoimento para o programa de TV abaixo (que não sei onde foi exibido originalmente).
Cultura Pop
No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970
No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!
Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.
Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).
Crítica
Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)
Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.
O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).
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- Resenhamos Songs of a lost world aqui.
O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.
And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.
Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor
Crítica
Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”
A Cleopatra Records, uma gravadora de Los Angeles que se dedica a lançar em edições oficiais-ou-quase antigos discos piratas (boa parte deles de punk rock, psicodelia e pedradas obscuras dos anos 1960) revisita agora o catálogo de bootlegs dos Dead Boys, com esse Live in San Francisco.
O show foi gravado em 2 de novembro de 1977, na época de lançamento da estreia do grupo, Young, loud and snotty (1977) e já esteve nas lojas com vários nomes: Live 1977, Live in Old Waldorf (local em San Francisco onde rolou o tal show), Down in flames, etc. Não muda o fato de que é um piratão legítimo, com qualidade de gravação de demo antiga (foi tirado na verdade de uma transmissão da emissora KSAN-FM) e sem muitos tratamentos. Mostra pelo menos o peso do grupo na época, além de uma seleção de faixas de Young, além de algumas que sairiam só no segundo álbum, We have come for your children (1978).
O material dos Dead Boys seria bastante influente em gerações posteriores do punk, do power pop e até do rock pauleira (Guns N’Roses, por exemplo). A abertura com Sonic reducer e All this and more mostra um estilo de punk rock herdadíssimo de artistas como Alice Cooper, Ramones, David Bowie, Rolling Stones, New York Dolls. Um som que, mesmo antes do vocalista Stiv Bators abrir a boca, já se impunha pela atitude, pelas microfonias e pelo clima descompromissado musicalmente – no nível da desafinação em alguns momentos, como em All this and more, a desbocada Caught with the meat in your mouth e outras, todas aplaudidas por uma plateia audivelmente pequena, mas animada.
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- Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário
- Entrevista: Frank Secich fala sobre a pouco lembrada (e ótima) carreira solo de Stiv Bators
Flame thrower love, que sairia só no segundo disco, está no álbum ao vivo e já trazia uma diferença em relação ao material anterior: era uma canção punk basicamente construída em cima de um riff pesado, algo bem mais próprio do hard rock. A destrutiva Son of Sam, entre gritos de Stiv e viradas erradíssimas do baterista Johnny Blitz, era formada por uma estranha mescla de pós-punk deprê e acordes poderosos na linha do The Who. No final, a cacofonia de Down in flames, cantada por Bators quase sem voz, e a homenagem aos Stooges com a releitura de Search and destroy, com microfonias no fim.
Os Dead Boys não sobreviveriam, pelo menos inicialmente, ao excesso de drogas, às incompreensões do mercado e a seu próprio comportamento destrutivo. O grupo voltou em 2017 e recentemente anunciou um disco gravado por uma turma all-stars, liderada pelo guitarrista original Cheetah Chrome – disco esse que já causou polêmica porque o vocalista Jake Hout acusa a banda de querer usar a voz do falecido vocalista Stiv Bators em IA. Só vendo, mas o passado, com todos os seus defeitos e qualidades, tá aí.
Nota: 7,5
Gravadora: Cleopatra Records
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