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Cultura Pop

Ué, Layla, de Eric Clapton, era plágio?

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Presença marcante em trilhas sonoras de novelas brasileiras dos anos 1970 e 1980 (O astro, Pecado rasgado, Eu prometo), a cantora e compositora americana Rita Coolidge tinha gravado seu primeiro disco solo em 1971, e estava tirando as fotos de divulgação, quando o fotógrafo resolveu ligar o rádio do estúdio. Enquanto caminhava de um lado para o outro para posar para as fotos, Rita começou a prestar atenção na música que rolava nos falantes. Era a famosa “saída de piano” (a parte 2, enfim) de Layla, o sucesso do mais novo grupo de Eric Clapton, Derek & The Dominos, que ela não conhecia.

Só que ela começou a achar aquilo tudo muito familiar. De repente, veio o estalo: aquilo era bem parecido com uma música sua, Time (Don’t let the world get in our way), feita em parceria com seu ex-namorado, Jim Gordon.

Gordon, por acaso, era baterista de Derek & The Dominos, banda que além dele e de Clapton tinha Bobby Whitlock, Carl Radle e Duane Allman. E era o “autor” da tal parte 2 de Layla, que tinha sido originalmente gravada uma semana depois do primeiro segmento. As duas partes foram unidas pelo mitológico engenheiro de som Tom Dowd, que trabalhou no disco. Isso porque Clapton, terminando a gravação, havia escutado Gordon tocando a introdução de Time no piano no Criteria Studios, em Miami. O guitarrista curtiu o som e sugeriu ao amigo que acrescentasse o segmento na música, com parceria para os dois.

Logo que ouviu a música, Rita ficou putíssima da vida – em sua autobiografia Delta lady, lembra de ter começado a chorar e sentido as veias do pescoço saltarem. “O que eles claramente fizeram foi pegar a música que Jim e eu tínhamos escrito, descartar a letra e pendurá-la no final da música de Eric. Era quase o mesmo”, escreveu, lembrando que inicialmente, Gordon havia feito um riff fenomenal que ainda não era uma canção. Rita conseguiu formatar a criação do namorado acrescentando uma progressão de acordes (a história toda de como a música foi composta está aqui, em inglês).

Time virou uma demo, e ela se recorda de ter tocado a canção ao piano para Eric, na esperança de que o guitarrista gravasse a música – uma demo foi deixada com ele. Quando Rita viu o disco do Derek, achou motivos para ficar mais irritada ainda: Layla só tinha créditos para o cantor e o baterista (e pianista), mais ninguém.

Rita Coolidge, que já havia terminado com Gordon (em 1970, tinha sido agredida fisicamente por ele e encerrou o relacionamento) reconheceu que se tratava de uma saída de mestre. A coda de piano era o final perfeito para uma música que basicamente tratava de amor não-correspondido (no caso, de Eric por Pattie Boyd, então mulher de seu melhor amigo George Harrison, e sua futura esposa). Mas era plágio, e dos brabos. Em busca de uma retratação, Rita falou com seu empresário, com Jerry Moss (dono de sua gravadora A&M). E, finalmente, com o empresário de Clapton, Robert Stigwood, que lhe brindou com um “quem você pensa que é? Você é só uma cantora”. Ficou tudo por isso mesmo.

O assunto do plágio de Layla voltou a ser comentado em 2016 quando saiu a autobiografia de Rita. Ela resolveu a história na sua cabeça quando descobriu que parte dos milhares de dólares de royalties da canção sustentaram os estudos Amy, a filha de Gordon. Isso porque o baterista, que já não primava pela estabilidade emocional e vivia tendo surtos, assassinou a mãe em 1983 com uma faca de cozinha. Gordon ainda está preso na Califórnia e a filha, que cuida dos seus direitos autorais, chegou a pedir que ele não fosse solto. A história do baterista está toda aqui, num excelente perfil da Rolling Stone, em inglês.

Rita afirmou no livro que era a hora de todos saberem que Layla tem vários pais (“além das contribuições de Eric e Jim, Duane Allman pode ter adaptado parte do riff de guitarra do vocal de Albert King em As the years go passing by”), mas que também tem uma mãe. Time, por sinal, mesmo com o sucesso de Layla, acabou sendo lançada. A canção surgiu em 1973 creditada apenas a Rita no disco Chronicles, da dupla formada pelo músico Booker T e a irmã de Rita, Priscilla Jones.

Veja também no POP FANTASMA:
Prince fazendo um emocionante solo de guitarra em While my guitar gently weeps.
– A fase 1972 de Arthur Lee de volta
– Aquela época em que Ginger Baker foi baterista do Masters Of Reality

 

Cultura Pop

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

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No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!

Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.

Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).

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Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

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Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.

O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).

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  • Resenhamos Songs of a lost world aqui.

O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.

And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.

Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor

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Crítica

Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

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Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

A Cleopatra Records, uma gravadora de Los Angeles que se dedica a lançar em edições oficiais-ou-quase antigos discos piratas (boa parte deles de punk rock, psicodelia e pedradas obscuras dos anos 1960) revisita agora o catálogo de bootlegs dos Dead Boys, com esse Live in San Francisco.

O show foi gravado em 2 de novembro de 1977, na época de lançamento da estreia do grupo, Young, loud and snotty (1977) e já esteve nas lojas com vários nomes: Live 1977, Live in Old Waldorf (local em San Francisco onde rolou o tal show), Down in flames, etc. Não muda o fato de que é um piratão legítimo, com qualidade de gravação de demo antiga (foi tirado na verdade de uma transmissão da emissora KSAN-FM) e sem muitos tratamentos. Mostra pelo menos o peso do grupo na época, além de uma seleção de faixas de Young, além de algumas que sairiam só no segundo álbum, We have come for your children (1978).

O material dos Dead Boys seria bastante influente em gerações posteriores do punk, do power pop e até do rock pauleira (Guns N’Roses, por exemplo). A abertura com Sonic reducer e All this and more mostra um estilo de punk rock herdadíssimo de artistas como Alice Cooper, Ramones, David Bowie, Rolling Stones, New York Dolls. Um som que, mesmo antes do vocalista Stiv Bators abrir a boca, já se impunha pela atitude, pelas microfonias e pelo clima descompromissado musicalmente – no nível da desafinação em alguns momentos, como em All this and more, a desbocada Caught with the meat in your mouth e outras, todas aplaudidas por uma plateia audivelmente pequena, mas animada.

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  • Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário
  • Entrevista: Frank Secich fala sobre a pouco lembrada (e ótima) carreira solo de Stiv Bators

Flame thrower love, que sairia só no segundo disco, está no álbum ao vivo e já trazia uma diferença em relação ao material anterior: era uma canção punk basicamente construída em cima de um riff pesado, algo bem mais próprio do hard rock. A destrutiva Son of Sam, entre gritos de Stiv e viradas erradíssimas do baterista Johnny Blitz, era formada por uma estranha mescla de pós-punk deprê e acordes poderosos na linha do The Who. No final, a cacofonia de Down in flames, cantada por Bators quase sem voz, e a homenagem aos Stooges com a releitura de Search and destroy, com microfonias no fim.

Os Dead Boys não sobreviveriam, pelo menos inicialmente, ao excesso de drogas, às incompreensões do mercado e a seu próprio comportamento destrutivo. O grupo voltou em 2017 e recentemente anunciou um disco gravado por uma turma all-stars, liderada pelo guitarrista original Cheetah Chrome – disco esse que já causou polêmica porque o vocalista Jake Hout acusa a banda de querer usar a voz do falecido vocalista Stiv Bators em IA. Só vendo, mas o passado, com todos os seus defeitos e qualidades, tá aí.

Nota: 7,5
Gravadora: Cleopatra Records

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