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Cinema

Bob Dylan zoando um futuro dono de gravadora em Dont look back

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O estudante de ciências que passou maus bocados com Bob Dylan em Dont look back

Bob Dylan, como diria a sua avó, estava im-pos-sí-vel em 1965. Entre abril e maio daquele ano, o cantor saiu pela Inglaterra para uma turnê e, entre um show e outro, deu uma zoada em Donovan (a mais nova sensação pop da Europa), deu uma desprezada em Joan Baez (sua parceira e, em tese, seu amor da época), brigou com uma ou outra pessoa mais avançadinha e invasiva. E, ah, foi desenvolvendo um estilo todo próprio de tratar jornalistas e imprensa em geral – quase sempre aos pontapés.

Esse lado meio bizarro de Dylan foi mostrado sem muitos cortes no documentário Dont look back, de D.A. Pennebaker, que pode ser visto na edição 2021 do festival In-Edit – e está na plataforma Cinema em Casa do Sesc SP. Surgido como um grande líder das plateias jovens, Dylan atraía um público numeroso aos seus shows, era mimoseado por empresários, procurado por jornalistas, mas nunca foi um dos artistas mais pacientes para todo o trato social que envolve a escalada até a fama.

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O filme tem cenas clássicas envolvendo esse temperamento complicado de Dylan, e em algumas deles você simplesmente tem dificuldade para acreditar que aquilo tudo aconteceu de verdade, ou que não foi armado. Pennebaker, que tirou grana do bolso para bancar o filme (mas teve acesso liberado a tudo dos bastidores), recordou certa vez que Albert Grossman, empresário de Dylan, “queria que Dylan se familiarizasse com o fato de ser filmado”.

O diretor chegou a pensar que o empresário queria mesmo era usar o filme para vender os shows que o cantor faria nos EUA. Mas de qualquer modo Pennebaker não investiu muito em filmar shows. Até porque durante a maior parte do tempo a “equipe” do filme era ele mesmo e mais poucas pessoas.

E uma das cenas mais, er, sui generis de Dont look back traz um bate-papo bem estranho entre Dylan e um pobre estudante de ciências que foi lá entrevistá-lo, e acabou sendo vítima da mordacidade do cantor.

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O bate-papo de Dylan com o garoto está legendado no link do Sesc (enfim, o filme inteiro está legendado). Basicamente o cantor ironiza bastante as tentativas de perguntas do estudante, que também não está em seus melhores dias como repórter. Num dos momentos mais ~simpáticos~ da conversa, o garoto pergunta a Dylan sobre seus sentimentos em relação a pessoas desconhecidas e a ele, em particular. Resposta do cantor: “Não sinto nada em relação a você. Por que deveria? Nem te conheço”.

O twitter Bob Dylan Notes vasculhou uns fanzines antigos sobre Dylan e… descobriu quem era o tal estudante, que depois se tornaria uma pessoa ilustre e ate reencontraria Dylan novamente. Era ninguém menos que Terry Ellis, que depois se tornaria co-fundador da gravadora Chrysalis e empresário do Jethro Tull. E bem depois disso viraria dono da Imago Records. Olha aí um papinho com ele.

>>> Veja também no POP FANTASMA: O documentário quase secreto de Bob Dylan

O depoimento de Ellis choca pela maneira mole-mole-fácil-fácil com que ele, realmente um universitário na época, conseguiu chegar perto de Dylan. Ele costumava entrevistar as bandas que se apresentavam no Newcastle City Hall para uma revista de estudantes e já conhecia a turma da porta do local. Foi lá, disse que queria falar com Dylan e teve a entrada liberada com um singelo “pode entrar, mas ele não está dando entrevista para ninguém”.

Ellis queria ir ao show, mas não estava nem um pouco animado de conversar com Dylan porque sabia que o cantor estava meio irritadinho com jornalistas. Mas acabou sendo levado por um dos roadies do cantor até o camarim e, no caminho, quase cagou nas calças de medo.

“Eu vi um brilho perverso nos olhos de Dylan. Não sei se era algo induzido quimicamente ou não, mas nesse momento eu me senti como um carneiro indo pro abatedouro”, recordou Ellis, afirmando que não acreditava que Dylan queria ser cruel com ele, e que enxergava aquilo tudo como uma espécie de jogo comandado pelo cantor.

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“Ele estava sendo agradável, mas do jeito cáustico dele”, recorda. Também diz que se sente embaraçado quando assiste ao filme. “Tenho uma cópia do filme em casa e não só não vejo de jeito nenhum, como proíbo outras pessoas de fazerem o mesmo. Don’t look back!”, brincou.

Ah, sim: bem depois disso, Ellis virou empresário justamente do ex-tecladista dos Animals, Alan Price, que aparecia na mesma cena que ele em Dont look back (“eu o havia entrevistado antes e ele achava que eu era um completo idiota”, diz). Ficou amigo de Grossman, empresário de Dylan, já que tanto a Chrysalis quanto a Bearsville (de Albert) eram distribuídas pela Warner. Em 1969, já trabalhando com o Jethro Tull, foi reconhecido pela voz (eita) quando deu um esporro nuns técnicos de som. Alguns anos depois, foi apresentado brevemente a Dylan mas achou melhor não lembrá-lo da entrevista frustrada.

Aliás, aproveita e pega aí Patti Smith lembrando do valor que Dont look back tem para ela, e dizendo que sabe cada palavra de cada diálogo do filme.

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Cinema

Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
  • Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
  • Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.

Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.

A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.

O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.

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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.

De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.

Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.

Nota: 7
Gravadora: Interscope.

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Rock Horror Film Festival: cinema de terror em setembro no Rio

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Rock Horror Film Festival: cinema de terror em setembro no Rio

O Rock Horror Film Festival, festival carioca de filmes de terror, está de volta na praça – e vai rolar de 19 de setembro a 02 de outubro no Cinesystem de Botafogo (Zona Sul do Rio). Dessa vez, o evento vai trazer uma seleção de mais de 50 filmes de 17 países em seis categorias: Longas Sinistros, Médias Bizarros, Docs Estranhos, Curtas Macabros, Brasil Assombrado e Pílulas de Medo.

O objetivo do festival é unir terror, cultura pop e rock, e juntar os públicos das três coisas. Entre os filmes selecionados, há produções como The history of the metal and the horror, documentário de Mike Schiff repleto de nomões do som pesado (EUA), Tales of babylon, de Pelayo de Lario (Reino Unido), The Quantum Devil, de Larry Wade Carrell (EUA). Há também Death link, dirigido por David Lipper (EUA), com um time de astros e estrelas que inclui Jessica Belkin (Pretty little liars), Riker Lynch (Glee), David Lipper (Full House) e outros.

O evento também vai ter mesas redondas com  diretores, atores e outros profissionais da indústria para o público do festival, comandadas pela criadora do Rock Horror Film Festival, Chrys Rochat (Sin Fronteras Filmes), e que vão rolar no hall do Cinesystem. Entre os convidados já estão confirmados diretores da Polônia, EUA, Canadá e Brasil. Happy hours cinéfilas, shows de rock e oficinas estão no programa também, além da exibição de um filme inédito no Brasil na abertura.

Lista completa dos filmes que participarão da edição no site do festival: www.rockhorrorfilmfestival.com

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Parayba Rock Fest: filme que será exibido no evento relembra história de fotógrafo morto por covid

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Parayba Rock Fest: filme que será exibido no evento relembra história de fotógrafo morto por covid

Marcado para este domingo (28) na Areninha Cultural Hermeto Pascoal (Lona Cultural de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro), o Parayba Rock Fest, do qual você ficou sabendo aqui, vai ter shows, DJs, exposições e várias outras atrações. E Michael Meneses, criador do selo Parayba Records e realizador da festa (que também comemora seus 50 anos de idade), vai exibir seu primeiro filme, Ver + – Uma luz chamada Marcus Vini. Michael, que é fotógrafo e professor de fotografia, iniciou o filme como trabalho de conclusão de curso de sua faculdade de Cinema.

“O que eu vou exibir no evento são os 50 minutos que já estão prontos do filme e que apareceram na apresentação do meu TCC. Ainda estou inclusive fazendo pesquisas para ele”, conta Michael, que com o filme, homenageia Marcus Vini, seu melhor amigo (“o irmão homem que eu não tive”, conta), morto por covid. Marcus era fotógrafo e, como Michael, foi professor universitário e cobriu festivais de música como o Rock In Rio.

“Marcus contraiu covid naquela época mais braba da doença, e morreu no dia em que ele deveria estar tomando a primeira dose”, lembra Michael. “Ele foi fotojornalista e curiosamente fazia aniversário no dia 19 de agosto, que é o Dia Mundial da Fotografia. E só soube disso depois que virou fotógrafo. Ele inclusive fez uma foto super importante numa enchente, que foi publicada no jornal Le Monde. A ideia do filme é focalizar o lado humanitário dele, um cara que estava sempre pensando em fazer doação de alimentos, coordenou um curso de fotografia em Madureira (Zona Norte do Rio)“. Antes do evento de Michael, o filme foi exibido também em lugares como a livraria carioca Belle Epoque.

O Pop Fantasma é um dos apoiadores do evento, ao lado de uma turma enorme. Para saber mais e comprar seu ingresso, confira o serviço abaixo.

SERVIÇO:
SHOWS COM AS BANDAS:

Netinhos de Dna Lazara, Benkens, NoSunnyDayz, New Day Rising (NDR) e Welcome To Tenda Spírita.
ALÉM DOS SHOWS:
Exibição do Documentário:
 VER+ – Uma Luz Chamada Marcus Vini – Direção: Michael Meneses
DJs: Explica e Chorão 3
Expo de fotos dos fotógrafos da Rock Press
Feira Cultural com: Disco de vinil, CDs, DVDs, roupas, livros, fanzines, artesanato, acessórios de moda rock, cultura geek e muito mais
Gastronomia Vegana: Vegazô – A Feira Vegana da Zona Oeste/RJ
DATA: 28 de julho 2024, às 14h.
LOCAL: Areninha Cultural Hermeto Pascoal – Praça 1 de Maio S/N – Bangu/RJ
INGRESSOS: antecipados aqui, na bilheteria da Areninha e na loja Requiem (Camelódromo de Campo Grande).

Foto: reprodução Instagram

 

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