Connect with us

Cultura Pop

Aquela vez em que Thomas Dolby foi processado pela Dolby

Published

on

O músico londrino Thomas Dolby, que fez um baita sucesso nos anos 1980 como She blinded me with science, não é parente da turma dos laboratórios Dolby. O nome verdadeiro dele é Thomas Morgan Robertson e o Dolby veio de um apelido dado por amigos, porque ele andava para lá e para cá com um monte de gravadores e fitas K7 – e surgiu justamente do sistema de redução de ruídos inventado pelos laboratórios Dolby, que aparecia em várias fitinhas.

Podia dar merda, porque Dolby fez MUITO sucesso. She blinded me chegou aos primeiros lugares das paradas em 1982 e fez logo crossover para o hit parade americano. No Reino Unido, onde saiu por um selo independente, a canção não conseguiu fazer tanto sucesso, mas tocou bastante em rádio. E acabou dando caquinha mesmo, já que a Dolby percebeu que tinha um artista conhecido usando o nome da empresa, e não estava ganhando nada com isso. A empresa foi bater na porta da Capitol, gravadora de Dolby, e ela se recusou a obrigar o cantor a trocar o nome artístico. Em 1986, a empresa entrou com um processo por violação de nome de marca, que foi se arrastando por alguns meses.

Em março de 1987, uma matéria do Los Angeles Times entregava que a história tinha (er) chegado a uma situação boa para ambas as partes. Thomas estava liberado para usar o sobrenome Dolby desde que concordasse em nunca lançar um equipamento eletrônico com esse nome, e que não esquecesse de associar o nome “Thomas” a tudo que lançasse.

“Em troca de desistir de minha contra-reivindicação, assinei um contrato de licenciamento para me tornar um licenciado oficial da Dolby Laboratories, embora nenhum dinheiro realmente mude de mãos”, afirmou ao jornal, contando também que a empresa foi bastante agressiva com ele, e que mandou até mesmo um emissário disfarçado de jornalista à casa do compositor, para fuçar suas coisas e “entrevistá-lo”.

Não custa lembrar: em 1983, Thomas tinha lançado um projeto chamado Dolby’s Cube (epa, sem o Thomas), que não tinha formação definida e era basicamente um grupo de dance music com vários colaboradores, numa lista que incluía músicos de estúdio e celebridades. Até a trilha do filme infantil malucão Howard The Duck (1986) foi feita pelo Dolby’s Cube.

Dolby (o Thomas) e Dolby (a empresa) já tinham tentado dialogar algumas vezes. Ele alegou no tal papo com o LA Times que, logo no começo, procurou a empresa e eles não se importaram que ele usasse o nome, desde que não o jogasse na lama. Só que as coisas foram mudando a partir do momento em que Thomas começou a trabalhar com trilhas sonoras. A própria empresa, na mesma matéria, alegou que rolaram umas mudanças de visão sobre o assunto.

Na época, 1987, Thomas tinha aproveitado a fama nos EUA e tinha se mudado para Los Angeles, onde estava tentando fazer carreira nos clubes locais com shows especiais. Depois disso, ele gravou poucos discos, se tornou músico de estúdio, desenvolveu jogos para a internet e até rodou um documentário, The invisible lighthouse, sobre o fim do farol de Orfordness, na região da Inglaterra onde ele foi criado. Entre 2011 e 2012 ele foi até diretor musical do TED Conference.

Ah sim, só para piorar um pouco a situação: o filho do dono da Dolby se chama… Thomas Dolby. Mas para evitar confusões com o primo-que-não-é-primo, ele usa o nome Tom Dolby. Tom é cineasta, roteirista e tem uma produtora, a Water’s End Productions, que faz filmes como Me chame pelo seu nome.

Continue Reading

Cultura Pop

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

Published

on

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!

Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.

Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Published

on

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.

O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • Resenhamos Songs of a lost world aqui.

O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.

And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.

Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

Published

on

Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

A Cleopatra Records, uma gravadora de Los Angeles que se dedica a lançar em edições oficiais-ou-quase antigos discos piratas (boa parte deles de punk rock, psicodelia e pedradas obscuras dos anos 1960) revisita agora o catálogo de bootlegs dos Dead Boys, com esse Live in San Francisco.

O show foi gravado em 2 de novembro de 1977, na época de lançamento da estreia do grupo, Young, loud and snotty (1977) e já esteve nas lojas com vários nomes: Live 1977, Live in Old Waldorf (local em San Francisco onde rolou o tal show), Down in flames, etc. Não muda o fato de que é um piratão legítimo, com qualidade de gravação de demo antiga (foi tirado na verdade de uma transmissão da emissora KSAN-FM) e sem muitos tratamentos. Mostra pelo menos o peso do grupo na época, além de uma seleção de faixas de Young, além de algumas que sairiam só no segundo álbum, We have come for your children (1978).

O material dos Dead Boys seria bastante influente em gerações posteriores do punk, do power pop e até do rock pauleira (Guns N’Roses, por exemplo). A abertura com Sonic reducer e All this and more mostra um estilo de punk rock herdadíssimo de artistas como Alice Cooper, Ramones, David Bowie, Rolling Stones, New York Dolls. Um som que, mesmo antes do vocalista Stiv Bators abrir a boca, já se impunha pela atitude, pelas microfonias e pelo clima descompromissado musicalmente – no nível da desafinação em alguns momentos, como em All this and more, a desbocada Caught with the meat in your mouth e outras, todas aplaudidas por uma plateia audivelmente pequena, mas animada.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
  • Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário
  • Entrevista: Frank Secich fala sobre a pouco lembrada (e ótima) carreira solo de Stiv Bators

Flame thrower love, que sairia só no segundo disco, está no álbum ao vivo e já trazia uma diferença em relação ao material anterior: era uma canção punk basicamente construída em cima de um riff pesado, algo bem mais próprio do hard rock. A destrutiva Son of Sam, entre gritos de Stiv e viradas erradíssimas do baterista Johnny Blitz, era formada por uma estranha mescla de pós-punk deprê e acordes poderosos na linha do The Who. No final, a cacofonia de Down in flames, cantada por Bators quase sem voz, e a homenagem aos Stooges com a releitura de Search and destroy, com microfonias no fim.

Os Dead Boys não sobreviveriam, pelo menos inicialmente, ao excesso de drogas, às incompreensões do mercado e a seu próprio comportamento destrutivo. O grupo voltou em 2017 e recentemente anunciou um disco gravado por uma turma all-stars, liderada pelo guitarrista original Cheetah Chrome – disco esse que já causou polêmica porque o vocalista Jake Hout acusa a banda de querer usar a voz do falecido vocalista Stiv Bators em IA. Só vendo, mas o passado, com todos os seus defeitos e qualidades, tá aí.

Nota: 7,5
Gravadora: Cleopatra Records

Continue Reading
Advertisement

Trending