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Cultura Pop

Sete discos de Wilson das Neves que você tem que ouvir hoje

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Sete discos de Wilson das Neves que você tem que ouvir hoje

Wilson das Neves (1936-2017), morto no sábado (26) após batalhar contra um câncer, mudou a figura do baterista na história da música brasileira. Aliás não só ele, já que é impossível esquecer de nomes como Edison Machado (1934-1990) e Milton Banana (1935-1999). No caso de Wilson, essa mudança acabou sendo mais ampliada ainda: as novas gerações conhecem até bem mais seu lado de cantor e compositor do que o de baterista, graças aos shows solo e às apresentações com a Orquestra Imperial. Dos anos 1960 até os 1990, quando virou cantor de vez (ele soltava a voz ocasionalmente antes), foram vários discos em que privilegiava a música instrumental e emprestava seu estilo a sambas, bossas, temas de jazz, soul, pop nacional e estrangeiros e rock. Você tem que ouvir todos, e praticamente tudo de Wilson, se não está disponível nas lojas, tem pelo menos no YouTube. Mas pra começar, pode ficar com esses aí.

“OS IPANEMAS” – OS IPANEMAS (CBS, 1964). “Meus colegas de 1964 estão mortos, infelizmente. Enquanto estiver vivo, tô lá. Quando eu morrer, os mais novos carregam Os Ipanemas. Ou mudam para Os Copacabanas, Os Leblons, o que quiserem”, brincou em um papo comigo Wilson, quando resolveu remontar com nova formação um seus primeiros grupos como baterista. No LP, Wilson, Rubens Bassini (dois bateristas na mesma banda), Astor Silva (trombone), Marinho (contrabaixo) e Neco (violão) faziam uma união de jazz e tons afro que até hoje é cultuadíssima lá fora. No Brasil de 1964, o álbum nem chegou a ter um show de lançamento e virou raridade.

“JUVENTUDE 2000” (Parlophone/Odeon, 1968) – WILSON DAS NEVES E SEU CONJUNTO. Em seu primeiro disco solo, o baterista ia além dos ritmos nacionais. Acompanhado de músicos como Geraldo Vespar (guitarra), unia jazz, samba-rock, pop gringo (Don’t go breaking my heart, de Burt Bacharach, ganha uma versão excelente) e até jovem guarda (O amor está pra nascer, de Wanderley Cardoso). Esse disco ainda ganha rótulos como “psicodélico” em sites de vendas de LPs por causa da improvisada O abominável homem das Neves, de Vespar, que fecha o álbum.

“BATERISTA: WILSON DAS NEVES”- ELZA SOARES E WILSON DAS NEVES (Odeon, 1968). Um dos discos mais inacreditáveis já feitos na história da música popular brasileira. Wilson tocava com Elza, fazia turnês pelo mundo com ela e deixou a cantora impressionadíssima quando fez um solo de bateria durante um show na Argentina – a ponto de, lá mesmo, a cantora pedir a um presidente da Odeon local para fazer um LP em dupla. Tem Balanço Zona Sul (de Tito Madi, em versão furiosa), Deixa isso pra lá (do repertório de Jair Rodrigues), Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Ouça correndo.

“SOM QUENTE É O DAS NEVES” – WILSON DAS NEVES (Polydor, 1969). Trabalhando com um combinado de músicos de estúdio da antiga Philips – comandados pelo maestro Erlon Chaves – Wilson trazia jovem guarda (Se você pensa, de Roberto e Erasmo Carlos), easy listening nativo (Sambaloo e Tio Macrô, ambas de Dom Salvador e Arnoldo Medeiros), samba-rock (Zazueira, de Jorge Ben) e soul gringo (California soul, gravada por uma turma que incluía Marvin Gaye, 5th Dimension e outros nomões). Os arranjos de metais desse disco estão entre as melhores coisas já registradas em vinil no Brasil.

“SAMBA-TROPI: ATÉ AÍ MORREU NEVES” – WILSON DAS NEVES (Elenco, 1970). Wilson e banda (Os Diagonais no vocal, José Roberto Bertrami nos teclados, Sergio Barroso no baixo, Dom Salvador no piano, entre outros) levavam para o universo do samba-soul músicas como Na na hey hey kiss him goodbye (Steam), Essa moça tá diferente (Chico Buarque), Venus (Shocking Blue), Cloud nine (Temptations) e Raindrops keep falling on my head (BJ Thomas).

“O SOM QUENTE É O DAS NEVES” – WILSON DAS NEVES E SEU CONJUNTO (Copacabana, 1976). Nada nesse disco, disse o próprio Wilson num papo com Charles Gavin no programa O som do vinil, foi planejado. “Eu gosto do momento, não gosto nem de ensaiar. Eu ensaio porque tem que ensaiar, mas não gosto. Ali é que é a hora da verdade”, contou. O baterista uniu vários músicos de samba e uma turma animais de metais, e saiu do estúdio com gravações demolidoras como as autorais Que é isso menina e Estou chegando agora, a quase censurada Os caras querem (de João Donato e Orlandivo) e as versões samba-rock-soul de Rock around the clock (Bill Haley) e Pick up the pieces (Average White Band).

“O SOM SAGRADO DE WILSON DAS NEVES” – WILSON DAS NEVES (CID, 1996). Wilson falava havia anos para o amigo Paulo Cesar Pinheiro sobre “uns sambas aí” que havia feito, mas nunca mostrava as composições. Um dia resolveu mostrar todos, e Paulo pôs letra neles. Convidado para fazer um disco instrumental para a CID, propôs a gravação de um álbum com esses sambas, na voz de “alguma cantora” – hoje parece extremamente óbvio que o que faltava para o baterista era um disco inteiro como cantor, mas isso não estava nos planos até o momento. Enfim, O som sagrado saiu, e marcou época.

Ricardo Schott é jornalista, radialista, editor e principal colaborador do POP FANTASMA.

Cultura Pop

No nosso podcast, os últimos dois anos do Nirvana (e de Kurt Cobain)

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Não é uma história fácil de ouvir – já avisamos. O final é triste, as atitudes foram impensadas, o entorno era completamente tóxico. Em seus últimos dois anos, o Nirvana teve mais “acontecimentos” em sua carreira e nas vidas pessoais de seus integrantes do que em dez anos de várias bandas. Foi uma banda que vendeu quase tanto jornal quanto disco e ingresso para show -não houve ser humano vivo que não acompanhasse de perto a vida do vocalista Kurt Cobain. No meio do caminho, um disco que se tornou um sonho e um pesadelo para todos os envolvidos, In utero (1993), o último do grupo.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast. a gente dá uma olhada em como andavam as coisas com Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl entre 1992 e 1994. E aproveita para dar uma olhada no mundo no rock alternativo, no fim da “onda grunge” e em como bandas como Nirvana e Sonic Youth foram criando uma nova onda de interesse pelo rock, a partir dos sons do submundo.

Século 21 no podcast: Mannequin Pussy e Morcegula.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o R.E.M. de “Automatic for the people” e “Monster”

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No nosso podcast, o R.E.M. de "Automatic for the people" e "Monster"

Já pensou que legal vender milhões e milhões de cópias de um disco? Tem gente que depois de alcançar números muito altos,  entra numa onda de “preciso vender mais que isso”. E tem gente que simplesmente finge que não liga – afinal, depois de conseguir tanta fama e grana, pra que se preocupar? E tem gente que pira. O R.E.M., por sua vez, depois de vender 9 milhões de cópias – que depois evoluíram para 18 milhões – de Out of time (1991), simplesmente já se enfiou num estúdio para preparar outro disco. E permaneceu sumido do universo das turnês, focando apenas em aparições na TV e shows ocasionais.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast, a gente dá uma olhada nos bastidores dos discos Automatic for the people (1992) e Monster (1994) e observa tudo o que estava acontecendo com uma das maiores bandas de rock do mundo, numa época em que parecia que Peter Buck, Michael Stipe, Bill Berry e Mike Mills eram ouvidos até por gente que nem tinha o hábito de ouvir música.

Século 21 no podcast: Dolly e The Parking Lots.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas!

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Crítica

Ouvimos: Pavement, “Cautionary tales: Jukebox classiques”

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Ouvimos: Pavement, "Cautionary tales: Jukebox classiques"
  • Cautionary tales: Jukebox classiques é o novo box retrospectivo do Pavement, com músicas dos lançamentos da banda em 7 polegadas, além de algumas outras coisas, como as versões alternativas das faixas Black out e Extradition, lançadas em 2006 para quem fez a pré-encomenda da nova versão do disco Wowee zowee (1995).
  • A caixa já está disponível nas plataformas – mas em formato físico, Cautionary tales sai apenas no dia 12 de julho. O pacote inclui reproduções dos singles originais de 7″ e um livreto de 24 páginas.

Blur, Cate Le Bon, Parquet Courts, Nirvana, Weezer, Super Furry Animals, The Coral e até o R.E.M. Todas essas bandas/artistas, em algum momento da carreira, foram comparadíssimas a um verdadeiro gigante do indie rock, o Pavement. Ou se deixaram deliberadamente influenciar pela banda criada pelos guitarristas e vocalistas Stephen Malkmus e Scott Kannberg. Um grupo que, vindo da Califórnia, estava mais para projetinho lo-fi e barulhento vindo de Nova York ou de algum canto ensimesmado de Seattle, embora fizesse sentido no cenário de um estado norte-americano bastante diversificado.

No caso do Nirvana, passou para a história o quanto a música do Pavement inspirou a composição de In utero (1993), último álbum do trio liderado por Kurt Cobain. Dando uma ouvida nas primeiras faixas desse Cautionary tales: Jukebox classiques, caixa (por enquanto apenas virtual) reunindo todo o material de 7 polegadas lançado pelo grupo, fica evidente que sem o ruído berrado dos dois primeiros EPs do Pavement, Slay tracks: 1933 – 1969 (1989) e Demolition plot J-7 (1990), porradas do álbum do Nirvana como Scentless apprentice não teriam sido feitas.

As onze faixas desses dois EPs (incluindo pérolas como Box elder e You’re killing me!) perfazem a primeiríssima fase da carreira do Pavement, uma banda que, por ter vindo de uma cidade pequena na Califórnia (Stockton), parecia se sentir mais à vontade para zoar tudo o que via de longe, e ainda falar do dia a dia de seus conterrâneos nas letras. O próprio grupo não parecia perceber o quanto seu som, apesar de focar no ruído, era sociável – caíram até nas graças do DJ inglês John Peel, que descobriu a banda e passou a divulgá-la.

Slanted and enchanted, álbum de estreia (1992), provocou inveja em boa parte dos grandes nomes do rock da época, Kurt Cobain incluso: era porrada musical elaborada, com uma ou outra canção com tendência a grudar no ouvido – Summer babe, incluída no box, era desse disco, e Cautionary tales resgata também lados B como Baptist blackstick e raridades como Sue me Jack, rock suingado e elegante para os padrões do grupo na época.

De Crooked rain, crooked rain (1994, o segundo disco) em diante, o Pavement ficaria mais elegante, inclusive. Traria barulhos incluídos de modo dosado, em meio a canções mais formais, influenciadas por country, power pop, Beach Boys, Neil Young. A banda juvenil dos primeiros EPs estava se tornando um The Cure bem mais indie, um Television dos anos 1990 ou quem sabe um Grateful Dead da mesma década – misterioso, cultuado e com um séquito de fãs.

Essa história é contada por intermédio de músicas que fizeram o grupo ganhar um número bem grande de fãs no Brasil, como Cut your hair e a bela e quase radiofônica Gold soundz. Ou Range life, canção que, em sua letra, espalhava brasa para Smashing Pumpkins (“eles não têm nenhuma função, e eu não entendo uma palavra do que eles dizem”) e Stone Temple Pilots (“eles não merecem nada mais do que eu”). Billy Corgan, dos Pumpkins, agarrou ódio do Pavement por causa disso – já se recusou a dividir palco com eles em festivais.

Lados B dessa época, como a vinheta instrumental Kneeling bus, com bateria desencontrada e tom dado por riffs de guitarra e solos de piano elétrico, são as boas descobertas da caixa. Daí para diante, o Pavement já fazia parte do cenário indie oscilando entre canções contemplativas e melodias que sequestravam a atenção – além de letras que os fãs, antes de tudo, gostavam de discutir. I love Perth, referência à maior cidade da Austrália Ocidental, faz os fãs australianos da banda debaterem em fóruns na internet até hoje.

A referência irônica à psicodelia californiana de Gangsters and pranksters também despertou a atenção de muita gente. Unseen power of the picket fence, feita pela banda para aparecer na coletânea No alternative (1993), é cara de pau: a música pinta um retrato bem estranho do R.E.M., a ponto de muita gente se perguntar até hoje se ninguém da banda ficou ofendido ou grilado com versos como “o cantor tinha cabelo comprido/o baterista sabia como se restringir/o cara do baixo tinha os movimentos certos/o guitarrista não era nenhum santo”, em meio a referências a discos e músicas do quarteto (“Time after time era a música que eu tinha como menos favorita”, cantam).

O slacker rock (sinônimo de rock blasé e garageiro) do Pavement foi se tornando cada vez mais palatável e de longo alcance à medida que novos álbuns surgiam: Wowee zowee (1995), o ultra-trabalhado Brighten the corners (1997) e finalmente o controverso Terror twilight (1999) – este, produzido por Nigel Godrich (Radiohead), que tentou colocar o espírito livre do Pavement numa redoma, embora a banda tenha soado fora de tempo e espaço como sempre, em Spit on a stranger e Carrot rope, além do B side Harness your hopes, tudo isso presente em Cautionary tales. Uma história bem legal de ouvir, e de contar.

Nota: 10
Gravadora: Matador.

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