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Cultura Pop

Lembra quando os personagens de Judy Is A Punk, dos Ramones, se juntaram ao Ice Capades?

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Lembra quando os personagens de Judy Is A Punk, dos Ramones, se juntaram ao Ice Capades?

Aqui no Brasil, muita gente escutou o primeiro disco dos Ramones (1976) sem ter à mão o encarte. O álbum foi editado aqui já nos anos 1980, sem letras. Quando saiu em CD, numa edição econômica da Warner, igualmente veio sem o material.

Lembra quando os personagens de Judy Is A Punk, dos Ramones, se juntaram ao Ice Capades?

Quando as músicas tocavam no rádio, muitas vezes era impossível entender o que Joey Ramone cantava, em meio à barulheira da banda. Normal que muita gente mal tenha entendido que Judy is a punk, uma das mais notáveis canções do disco, dizia que a dupla Jackie e Judy tinha se mandado para Berlim e se juntado com os Ice Capades (“e eu não sei por que/talvez elas morram/oh yeah”, continua a letra).

Mas que porra é essa de Ice Capades? Bom, é um show de patinação no gelo que fez MUITO sucesso por várias décadas. E que nunca foi muito conhecido no Brasil.

Em 2005 a revista Slate explicou tudo a respeito dos Ice Capades. Mostrou seu apogeu, seu final após uma baita sangria de grana, e sua forte presença na cultura pop. Em que pese o fato de a publicação ter passado de sapato alto pela música dos Ramones, sequer citada, o texto lembrou que há uma citação do “mais glorioso carnaval de gelo dos EUA” no filme Hannah e suas irmãs, filme de Woody Allen. A referência surge numa piada que une o “eterno retorno” de Nietzsche à exposição a vários números circenses de patinação.

Não há como negar que os Ice Capades são um grande exemplo de cafonice, e já tinham detratores quando faziam sucesso. Mas foram por muitas décadas uma instituição que parecia sólida. Começaram em 1940, quando John H. Harris, proprietário de um rinque de Pittsburgh, contratou uma patinadora para fazer números especiais em seu parque, após perceber que suas aparições davam mais ibope ao local.

Harris pensou mais alto e resolveu montar um baita circo, com skatistas, cantores, comediantes, palhaços, malabaristas, saltadores de barris etc. Foi um enorme sucesso. Que, em 1974, quando os Ramones estavam iniciando carreira, bombava na TV. Olha aí uma chamadinha.

Skatistas e patinadores em ação, em vários anos de Ice Capades.

Em 1977, quando os Ramones lançaram Rocket to Russia, olha aí o que aguardava os fãs do Ice Capades.

Nessa época, o declínio do Ice Capades já não estava muito longe. O evento já tinha um grande concorrente desde os anos 1940, o Holiday On Ice. Em 1986, surgiu o Stars On Ice, um espetáculo para adultos, com skatistas e patinadores a caráter, sem os personagens de desenhos animados que apareciam no Ice Capades. O Stars On Ice dava outro tipo de perspectiva, bem mais esportiva e profissional – e um tantinho menos cafona – à patinação artística. Para a criançada, doida para ver o Pateta ou os Sete Anões deslizando no gelo, havia uma notícia: em 1981, a Disney resolvera investir no filão. Surgia o Disney On Ice.

Lembra quando os personagens de Judy Is A Punk, dos Ramones, se juntaram ao Ice Capades?

Tudo piorou quando as diversões eletrônicas caseiras foram ganhando popularidade. Lá pelos anos 1980, ganhava um doce quem conseguisse convencer um adolescente de que ver um número de patinação no gelo era melhor que jogar videogame. Daí para a frente, foi só ladeira, e o espetáculo só durou até 1991, numa edição cheia de personagens do universo Hanna-Barbera.

Em 1996, rolou um retorno breve, com uma turnê de 64 cidades em parceria com a MGM, patrocinada pelo pastor pentecostal, político e homem de mídia Pat Robertson. Ficou no quase. Em 2000 e 2008, duas empresas tentaram reviver os Ice Capades, mas esbarraram na falta de grana e no pouco interesse do público. Acabou aí.

E em 1990, um ano antes da brincadeira encerrar, chegaram a comemorar os 50 anos do Ice Capades com um especial de TV – que está no YouTube. Curte aí.

https://www.youtube.com/watch?v=5JOevsZ8gIY

Cultura Pop

No nosso podcast, os últimos dois anos do Nirvana (e de Kurt Cobain)

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Não é uma história fácil de ouvir – já avisamos. O final é triste, as atitudes foram impensadas, o entorno era completamente tóxico. Em seus últimos dois anos, o Nirvana teve mais “acontecimentos” em sua carreira e nas vidas pessoais de seus integrantes do que em dez anos de várias bandas. Foi uma banda que vendeu quase tanto jornal quanto disco e ingresso para show -não houve ser humano vivo que não acompanhasse de perto a vida do vocalista Kurt Cobain. No meio do caminho, um disco que se tornou um sonho e um pesadelo para todos os envolvidos, In utero (1993), o último do grupo.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast. a gente dá uma olhada em como andavam as coisas com Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl entre 1992 e 1994. E aproveita para dar uma olhada no mundo no rock alternativo, no fim da “onda grunge” e em como bandas como Nirvana e Sonic Youth foram criando uma nova onda de interesse pelo rock, a partir dos sons do submundo.

Século 21 no podcast: Mannequin Pussy e Morcegula.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o R.E.M. de “Automatic for the people” e “Monster”

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No nosso podcast, o R.E.M. de "Automatic for the people" e "Monster"

Já pensou que legal vender milhões e milhões de cópias de um disco? Tem gente que depois de alcançar números muito altos,  entra numa onda de “preciso vender mais que isso”. E tem gente que simplesmente finge que não liga – afinal, depois de conseguir tanta fama e grana, pra que se preocupar? E tem gente que pira. O R.E.M., por sua vez, depois de vender 9 milhões de cópias – que depois evoluíram para 18 milhões – de Out of time (1991), simplesmente já se enfiou num estúdio para preparar outro disco. E permaneceu sumido do universo das turnês, focando apenas em aparições na TV e shows ocasionais.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast, a gente dá uma olhada nos bastidores dos discos Automatic for the people (1992) e Monster (1994) e observa tudo o que estava acontecendo com uma das maiores bandas de rock do mundo, numa época em que parecia que Peter Buck, Michael Stipe, Bill Berry e Mike Mills eram ouvidos até por gente que nem tinha o hábito de ouvir música.

Século 21 no podcast: Dolly e The Parking Lots.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas!

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Crítica

Ouvimos: Pavement, “Cautionary tales: Jukebox classiques”

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Ouvimos: Pavement, "Cautionary tales: Jukebox classiques"
  • Cautionary tales: Jukebox classiques é o novo box retrospectivo do Pavement, com músicas dos lançamentos da banda em 7 polegadas, além de algumas outras coisas, como as versões alternativas das faixas Black out e Extradition, lançadas em 2006 para quem fez a pré-encomenda da nova versão do disco Wowee zowee (1995).
  • A caixa já está disponível nas plataformas – mas em formato físico, Cautionary tales sai apenas no dia 12 de julho. O pacote inclui reproduções dos singles originais de 7″ e um livreto de 24 páginas.

Blur, Cate Le Bon, Parquet Courts, Nirvana, Weezer, Super Furry Animals, The Coral e até o R.E.M. Todas essas bandas/artistas, em algum momento da carreira, foram comparadíssimas a um verdadeiro gigante do indie rock, o Pavement. Ou se deixaram deliberadamente influenciar pela banda criada pelos guitarristas e vocalistas Stephen Malkmus e Scott Kannberg. Um grupo que, vindo da Califórnia, estava mais para projetinho lo-fi e barulhento vindo de Nova York ou de algum canto ensimesmado de Seattle, embora fizesse sentido no cenário de um estado norte-americano bastante diversificado.

No caso do Nirvana, passou para a história o quanto a música do Pavement inspirou a composição de In utero (1993), último álbum do trio liderado por Kurt Cobain. Dando uma ouvida nas primeiras faixas desse Cautionary tales: Jukebox classiques, caixa (por enquanto apenas virtual) reunindo todo o material de 7 polegadas lançado pelo grupo, fica evidente que sem o ruído berrado dos dois primeiros EPs do Pavement, Slay tracks: 1933 – 1969 (1989) e Demolition plot J-7 (1990), porradas do álbum do Nirvana como Scentless apprentice não teriam sido feitas.

As onze faixas desses dois EPs (incluindo pérolas como Box elder e You’re killing me!) perfazem a primeiríssima fase da carreira do Pavement, uma banda que, por ter vindo de uma cidade pequena na Califórnia (Stockton), parecia se sentir mais à vontade para zoar tudo o que via de longe, e ainda falar do dia a dia de seus conterrâneos nas letras. O próprio grupo não parecia perceber o quanto seu som, apesar de focar no ruído, era sociável – caíram até nas graças do DJ inglês John Peel, que descobriu a banda e passou a divulgá-la.

Slanted and enchanted, álbum de estreia (1992), provocou inveja em boa parte dos grandes nomes do rock da época, Kurt Cobain incluso: era porrada musical elaborada, com uma ou outra canção com tendência a grudar no ouvido – Summer babe, incluída no box, era desse disco, e Cautionary tales resgata também lados B como Baptist blackstick e raridades como Sue me Jack, rock suingado e elegante para os padrões do grupo na época.

De Crooked rain, crooked rain (1994, o segundo disco) em diante, o Pavement ficaria mais elegante, inclusive. Traria barulhos incluídos de modo dosado, em meio a canções mais formais, influenciadas por country, power pop, Beach Boys, Neil Young. A banda juvenil dos primeiros EPs estava se tornando um The Cure bem mais indie, um Television dos anos 1990 ou quem sabe um Grateful Dead da mesma década – misterioso, cultuado e com um séquito de fãs.

Essa história é contada por intermédio de músicas que fizeram o grupo ganhar um número bem grande de fãs no Brasil, como Cut your hair e a bela e quase radiofônica Gold soundz. Ou Range life, canção que, em sua letra, espalhava brasa para Smashing Pumpkins (“eles não têm nenhuma função, e eu não entendo uma palavra do que eles dizem”) e Stone Temple Pilots (“eles não merecem nada mais do que eu”). Billy Corgan, dos Pumpkins, agarrou ódio do Pavement por causa disso – já se recusou a dividir palco com eles em festivais.

Lados B dessa época, como a vinheta instrumental Kneeling bus, com bateria desencontrada e tom dado por riffs de guitarra e solos de piano elétrico, são as boas descobertas da caixa. Daí para diante, o Pavement já fazia parte do cenário indie oscilando entre canções contemplativas e melodias que sequestravam a atenção – além de letras que os fãs, antes de tudo, gostavam de discutir. I love Perth, referência à maior cidade da Austrália Ocidental, faz os fãs australianos da banda debaterem em fóruns na internet até hoje.

A referência irônica à psicodelia californiana de Gangsters and pranksters também despertou a atenção de muita gente. Unseen power of the picket fence, feita pela banda para aparecer na coletânea No alternative (1993), é cara de pau: a música pinta um retrato bem estranho do R.E.M., a ponto de muita gente se perguntar até hoje se ninguém da banda ficou ofendido ou grilado com versos como “o cantor tinha cabelo comprido/o baterista sabia como se restringir/o cara do baixo tinha os movimentos certos/o guitarrista não era nenhum santo”, em meio a referências a discos e músicas do quarteto (“Time after time era a música que eu tinha como menos favorita”, cantam).

O slacker rock (sinônimo de rock blasé e garageiro) do Pavement foi se tornando cada vez mais palatável e de longo alcance à medida que novos álbuns surgiam: Wowee zowee (1995), o ultra-trabalhado Brighten the corners (1997) e finalmente o controverso Terror twilight (1999) – este, produzido por Nigel Godrich (Radiohead), que tentou colocar o espírito livre do Pavement numa redoma, embora a banda tenha soado fora de tempo e espaço como sempre, em Spit on a stranger e Carrot rope, além do B side Harness your hopes, tudo isso presente em Cautionary tales. Uma história bem legal de ouvir, e de contar.

Nota: 10
Gravadora: Matador.

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