Connect with us

Cultura Pop

Naoko Yamano (Shonen Knife) fala com o POP FANTASMA sobre Nirvana, Ramones, videogames e pandemia

Published

on

Naoko Yamano (Shonen Knife) fala com o POP FANTASMA sobre Nirvana, Ramones, videogames e pandemia

Fato: Se houvesse um premiação para a banda de rock mais fofa do mundo, essa honraria teria que ser dada desde 1981 às meninas do Shonen Knife.

As garotas fazem um punk pop altamente açucarado inspirado até a medula pelos seus ídolos Ramones e, por sinal, estão prestes a completar (pasmem) 40 anos de banda. O grupo tem mais de vinte discos no currículo e o mais recente é Sweet candy power, lançado em 2019.

E nós do POP FANTASMA entramos em contato com Naoko Yamano, a simpática vocalista, guitarrista e única integrante remanescente dos primórdios. Atualmente, ela divide a banda com Emi Morimoto (bateria, voz) e Ritsuko Taneda (baixo, voz). Nós batemos um agradável papo com ela sobre comida, Kurt Cobain e, claro, como não poderia deixar de ser, sobre a covid-19. Divirtam-se!

POP FANTASMA: Quais foram suas primeiras influências musicais e qual foi o primeiro show que você viu?
NAOKO YAMANO: Eu comecei ouvindo Beatles quando tinha 13 anos. Fui muito influenciada por eles. Em seguida, nos anos 70, comecei a ouvir bandas de punk pop dos EUA e do Reino Unido como Buzzcocks, The Jam, XTC, Ramones e por aí vai. Ultimamente, tenho ouvido basicamente música dos anos 1960 e 1970. Rock clássico, soul, disco e funk.

Não dá para fugir do assunto do momento. O que está achando dessa pandemia e de tudo que tem acontecido no mundo atualmente? Como você está fazendo para manter sua saúde mental? Estou fazendo o possível para tornar as coisas mais leves. Compus recentemente uma canção chamada Better que é bastante positiva e expressa exatamente minha atitude.

“BETTER”

O que você acha do disco tributo ao Shonen Knife (Every band has a Shonen Knife who loves them, que saiu em 1989 e tinha, entre outros, Redd Kross, L7, Sonic Youth e Lunachicks)? Me sinto muito honrada por tantas bandas legais terem gravado covers de músicas do Shonen Knife. Gostaria de agradecer pessoalmente todos eles!

REDD KROSS CANTA SHONEN KNIFE

O que você conhece de música brasileira? Pra falar a verdade, não sou muito familiarizada com a música brasileira, mas eu sei que tem muita percussão e o ritmo é contagiante. Eu já assisti um show do Sepultura em Osaka. Nesse show, eles chamaram um grupo de percussionistas pro palco e tocaram várias canções pesadas, foi um show maravilhoso! Mas também conheço Sérgio Mendes e Brasil 66, pois são muito populares aqui no Japão. Ele é demais!

O que você acha da livre troca de arquivos em MP3 na internet? Acha que pode ser um problema para você e a gravadora ou pode ser uma aliada? As pessoas devem respeitar a lei de direitos autorais.

Você tem algum anime (desenho animado japonês) favorito? Algum deles já serviu de inspiração para uma música? E falando em desenhos, como surgiu o convite para fazer uma música para o desenho das Meninas Superpoderosas (Buttercup – I’m a super girl)? Meu anime favorito é Ashita-no Joe, que é um desenho dos anos 1970 sobre um boxeador. Também gosto muito de desenhos como Archie, Josie e as Gatinhas, Corrida Maluca e os desenhos dos Beatles. Quanto à música para as Meninas Superpoderosas, eu recebi um e-mail do Cartoon Network escrito pelo próprio Craig McCracken (criador das Meninas Superpoderosas) pedindo para que fizéssemos a canção-tema da personagem Buttercup (“Docinho” aqui no Brasil). Eu amei, as Meninas Superpoderosas são muito fofas e pop!

“BUTTERCUP (I’M A SUPER GIRL)”

Você curte videogames? Se sim, de quais jogos você gosta? Sim, curto muito videogames! Meus jogos favoritos são aqueles quebra-cabeça onde se tem que combinar três peças (NOTA do POP FANTASMA: Jogos estilo “Candy Crush”). Também jogo muito Cradle of Empires, que é um jogo para tablets e comprei um Nintendo Switch para jogar Clubhouse Games: 51 Worldwide Classic (NOTA do POP FANTASMA: Game coletânea com 51 jogos clássicos como Xadrez, Go, Resta 1, Paciência e por aí vai).

Kurt Cobain disse em inúmeras entrevistas que o Shonen Knife foi uma grande influência para o Nirvana e vocês chegaram a fazer turnês juntos. Quais são suas maiores lembranças dessa turnê? Como Kurt era pessoalmente? E o que você acha dos trabalhos que Dave Grohl e Krist Novoselic fizeram após o Nirvana? Ele era um cavalheiro de mente tenra, muito puro. Excursionamos com o Nirvana duas vezes. A primeira foi uma turnê pelo Reino Unido em novembro de 1991 e a segunda, nos Estados Unidos em 1993. Todos os membros da banda foram muito educados conosco e fizeram shows maravilhosos todas as noites.

Em fevereiro de 1992, quando eles (Nirvana) vieram em Osaka para fazer um show, nós nos encontramos na noite anterior e fomos a um restaurante juntos. No dia seguinte, nós queríamos muito assisti-los. Mas não podíamos, pois nós também tínhamos um show no outro lado da cidade. Porém, eles fizeram uma surpresa e foram nos ver. Foi maravilhoso! Fico muito feliz também por saber que tanto Krist quanto Dave estão bem após o Nirvana e fazendo ótimas músicas! (Naoko Yamano)

Naoko Yamano (Shonen Knife) fala com o POP FANTASMA sobre Nirvana, Ramones, videogames e pandemia

A baterista da banda Mana Nishiura faleceu em 2005 durante uma turnê nos Estados Unidos com sua outra banda (DMBQ). Foi difícil seguir em frente depois desse golpe? Na verdade, ela não era bem uma integrante oficial. Como ela tocava em um monte de bandas diferentes, ela apenas excursionava com a gente. Já em 2005, Etsuko foi oficializada como baterista e Mana resolveu ficar em tempo integral no DMBQ. Mas de qualquer forma, é claro que fiquei muito triste quando recebi a notícia.

Naoko, assim como você, eu AMO os Ramones, por isso não posso deixar de perguntar: Como foi o processo de seleção das músicas para gravar o álbum tributo Osaka Ramones? Nós tínhamos que fazer dois shows em Tóquio, cada um com um setlist diferente. No segundo dia, deveria ter sido com nossas músicas, mas eu decidi tocar só músicas dos Ramones. Foi o único show que o Osaka Ramones fez, mas o dono da nossa gravadora nos EUA, Robby (NOTA do POP FANTASMA: Ela se refere a Robby Takac, baixista do Goo Goo Dolls), deu a ideia de fazer um CD só com covers dos Ramones, que saiu em 2011. Escolhemos as músicas que eu mais gostava desse set para o disco.

“OSAKA RAMONES”

Deixe uma mensagem final para os fãs brasileiros. Gostaria muito de ir ao Brasil fazer alguns shows. Torço para que as coisas voltem ao normal o mais rápido possível e eu possa vê-los em breve!

BATE-BOLA JOGO RÁPIDO:

– Cor favorita: Isso muda às vezes, mas por enquanto eu diria amarelo!

– Prefere estúdio ou tocar ao vivo? Ambos!

– Doces preferidos: Sorvetes deliciosos, Suflê japonês de panqueca, Baumkuchen (Espécie de bolo assado em espetinhos) japonês, Hiyoko Manju (Doce de feijão) , balas de menta, etc.

– Disco favorito do Shonen Knife: Sweet candy power (Sempre gosto mais do meu último trabalho)

– Coisas que eu gosto: Comidas deliciosas

– Coisas que eu odeio: Eu não odeio nada

– Arte para mim significa…: ROCK!!

VEJA TAMBÉM NO POP FANTASMA:
Sascha Konietzko (KMFDM) de papo com o POP FANTASMA
Greg Norton (Hüsker Dü, Porcupine) exclusivo para o POP FANTASMA
Therapy?: Andy Cairns exclusivo para o POP FANTASMA

LUCIANO CIRNE é jornalista, flamenguista, casado, ama cachorros e aceita doações de CDs, DVDs, videogames e carrinhos!

Cultura Pop

No nosso podcast, os últimos dois anos do Nirvana (e de Kurt Cobain)

Published

on

Não é uma história fácil de ouvir – já avisamos. O final é triste, as atitudes foram impensadas, o entorno era completamente tóxico. Em seus últimos dois anos, o Nirvana teve mais “acontecimentos” em sua carreira e nas vidas pessoais de seus integrantes do que em dez anos de várias bandas. Foi uma banda que vendeu quase tanto jornal quanto disco e ingresso para show -não houve ser humano vivo que não acompanhasse de perto a vida do vocalista Kurt Cobain. No meio do caminho, um disco que se tornou um sonho e um pesadelo para todos os envolvidos, In utero (1993), o último do grupo.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast. a gente dá uma olhada em como andavam as coisas com Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl entre 1992 e 1994. E aproveita para dar uma olhada no mundo no rock alternativo, no fim da “onda grunge” e em como bandas como Nirvana e Sonic Youth foram criando uma nova onda de interesse pelo rock, a partir dos sons do submundo.

Século 21 no podcast: Mannequin Pussy e Morcegula.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Continue Reading

Cultura Pop

No nosso podcast, o R.E.M. de “Automatic for the people” e “Monster”

Published

on

No nosso podcast, o R.E.M. de "Automatic for the people" e "Monster"

Já pensou que legal vender milhões e milhões de cópias de um disco? Tem gente que depois de alcançar números muito altos,  entra numa onda de “preciso vender mais que isso”. E tem gente que simplesmente finge que não liga – afinal, depois de conseguir tanta fama e grana, pra que se preocupar? E tem gente que pira. O R.E.M., por sua vez, depois de vender 9 milhões de cópias – que depois evoluíram para 18 milhões – de Out of time (1991), simplesmente já se enfiou num estúdio para preparar outro disco. E permaneceu sumido do universo das turnês, focando apenas em aparições na TV e shows ocasionais.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast, a gente dá uma olhada nos bastidores dos discos Automatic for the people (1992) e Monster (1994) e observa tudo o que estava acontecendo com uma das maiores bandas de rock do mundo, numa época em que parecia que Peter Buck, Michael Stipe, Bill Berry e Mike Mills eram ouvidos até por gente que nem tinha o hábito de ouvir música.

Século 21 no podcast: Dolly e The Parking Lots.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas!

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Pavement, “Cautionary tales: Jukebox classiques”

Published

on

Ouvimos: Pavement, "Cautionary tales: Jukebox classiques"
  • Cautionary tales: Jukebox classiques é o novo box retrospectivo do Pavement, com músicas dos lançamentos da banda em 7 polegadas, além de algumas outras coisas, como as versões alternativas das faixas Black out e Extradition, lançadas em 2006 para quem fez a pré-encomenda da nova versão do disco Wowee zowee (1995).
  • A caixa já está disponível nas plataformas – mas em formato físico, Cautionary tales sai apenas no dia 12 de julho. O pacote inclui reproduções dos singles originais de 7″ e um livreto de 24 páginas.

Blur, Cate Le Bon, Parquet Courts, Nirvana, Weezer, Super Furry Animals, The Coral e até o R.E.M. Todas essas bandas/artistas, em algum momento da carreira, foram comparadíssimas a um verdadeiro gigante do indie rock, o Pavement. Ou se deixaram deliberadamente influenciar pela banda criada pelos guitarristas e vocalistas Stephen Malkmus e Scott Kannberg. Um grupo que, vindo da Califórnia, estava mais para projetinho lo-fi e barulhento vindo de Nova York ou de algum canto ensimesmado de Seattle, embora fizesse sentido no cenário de um estado norte-americano bastante diversificado.

No caso do Nirvana, passou para a história o quanto a música do Pavement inspirou a composição de In utero (1993), último álbum do trio liderado por Kurt Cobain. Dando uma ouvida nas primeiras faixas desse Cautionary tales: Jukebox classiques, caixa (por enquanto apenas virtual) reunindo todo o material de 7 polegadas lançado pelo grupo, fica evidente que sem o ruído berrado dos dois primeiros EPs do Pavement, Slay tracks: 1933 – 1969 (1989) e Demolition plot J-7 (1990), porradas do álbum do Nirvana como Scentless apprentice não teriam sido feitas.

As onze faixas desses dois EPs (incluindo pérolas como Box elder e You’re killing me!) perfazem a primeiríssima fase da carreira do Pavement, uma banda que, por ter vindo de uma cidade pequena na Califórnia (Stockton), parecia se sentir mais à vontade para zoar tudo o que via de longe, e ainda falar do dia a dia de seus conterrâneos nas letras. O próprio grupo não parecia perceber o quanto seu som, apesar de focar no ruído, era sociável – caíram até nas graças do DJ inglês John Peel, que descobriu a banda e passou a divulgá-la.

Slanted and enchanted, álbum de estreia (1992), provocou inveja em boa parte dos grandes nomes do rock da época, Kurt Cobain incluso: era porrada musical elaborada, com uma ou outra canção com tendência a grudar no ouvido – Summer babe, incluída no box, era desse disco, e Cautionary tales resgata também lados B como Baptist blackstick e raridades como Sue me Jack, rock suingado e elegante para os padrões do grupo na época.

De Crooked rain, crooked rain (1994, o segundo disco) em diante, o Pavement ficaria mais elegante, inclusive. Traria barulhos incluídos de modo dosado, em meio a canções mais formais, influenciadas por country, power pop, Beach Boys, Neil Young. A banda juvenil dos primeiros EPs estava se tornando um The Cure bem mais indie, um Television dos anos 1990 ou quem sabe um Grateful Dead da mesma década – misterioso, cultuado e com um séquito de fãs.

Essa história é contada por intermédio de músicas que fizeram o grupo ganhar um número bem grande de fãs no Brasil, como Cut your hair e a bela e quase radiofônica Gold soundz. Ou Range life, canção que, em sua letra, espalhava brasa para Smashing Pumpkins (“eles não têm nenhuma função, e eu não entendo uma palavra do que eles dizem”) e Stone Temple Pilots (“eles não merecem nada mais do que eu”). Billy Corgan, dos Pumpkins, agarrou ódio do Pavement por causa disso – já se recusou a dividir palco com eles em festivais.

Lados B dessa época, como a vinheta instrumental Kneeling bus, com bateria desencontrada e tom dado por riffs de guitarra e solos de piano elétrico, são as boas descobertas da caixa. Daí para diante, o Pavement já fazia parte do cenário indie oscilando entre canções contemplativas e melodias que sequestravam a atenção – além de letras que os fãs, antes de tudo, gostavam de discutir. I love Perth, referência à maior cidade da Austrália Ocidental, faz os fãs australianos da banda debaterem em fóruns na internet até hoje.

A referência irônica à psicodelia californiana de Gangsters and pranksters também despertou a atenção de muita gente. Unseen power of the picket fence, feita pela banda para aparecer na coletânea No alternative (1993), é cara de pau: a música pinta um retrato bem estranho do R.E.M., a ponto de muita gente se perguntar até hoje se ninguém da banda ficou ofendido ou grilado com versos como “o cantor tinha cabelo comprido/o baterista sabia como se restringir/o cara do baixo tinha os movimentos certos/o guitarrista não era nenhum santo”, em meio a referências a discos e músicas do quarteto (“Time after time era a música que eu tinha como menos favorita”, cantam).

O slacker rock (sinônimo de rock blasé e garageiro) do Pavement foi se tornando cada vez mais palatável e de longo alcance à medida que novos álbuns surgiam: Wowee zowee (1995), o ultra-trabalhado Brighten the corners (1997) e finalmente o controverso Terror twilight (1999) – este, produzido por Nigel Godrich (Radiohead), que tentou colocar o espírito livre do Pavement numa redoma, embora a banda tenha soado fora de tempo e espaço como sempre, em Spit on a stranger e Carrot rope, além do B side Harness your hopes, tudo isso presente em Cautionary tales. Uma história bem legal de ouvir, e de contar.

Nota: 10
Gravadora: Matador.

Continue Reading
Advertisement

Trending