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Cultura Pop

Discos da discórdia 10: Beatles com “Let it be… naked”

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Um tempo atrás me marcaram no Facebook num desses desafios de “melhores discos”. Eu decidi fazer diferente e resolvi escrever, nessa época, sobre discos controversos que, por algum motivo ou outro, eu achava que as pessoas deveriam dar uma segunda chance. Enfim, discos da discórdia (um belo dum trocadalho do carilho, enfim).

Como recentemente aqui no POP FANTASMA eu pus no ar uma série sobre lendas urbanas e umas das diretrizes editoriais (eita!) do site é fazer mais séries sobre assuntos diversos da cultura pop, resolvi transformar os textos numa série com dez álbuns que não são lá grandes campeões de aceitação por parte da crítica, mas que mereciam um pouco mais da sua atenção. O décimo e último disco da série é… Bom, lê aí.

A REVOLTA DE “LET IT BE… NAKED”, DOS BEATLES (2003)

Discos da discórdia 10: Beatles com "Let it be... naked"

Fazendo certa abstração, Let it be… naked já é sério candidato a primeiro lugar num concurso de nomes bizarros dados a álbuns (“deixa rolar… pelado”??). Lançado em 17 de novembro de 2003 pela Apple, o disco traz o álbum Let it be (1970) teoricamente desprovido de algumas das características que o tornaram um item controverso na discografia dos Beatles. Paul McCartney tinha ficado insatisfeito com a produção original feita por Phil Spector. O chefe do estúdio usou muito de sua técnica de “wall of sound” (vários overdubs e ecos) para tratar as músicas.

Originalmente, Paul tinha pensado num projeto fodástico que envolveria a volta dos Beatles às raízes rock’n roll, além de um provável retorno aos palcos (George Harrison, diga-se, não era favorável nem à ideia do concerto no telhado da Apple). Phil, após várias tentativas da banda de mexer no disco, ficou responsável por formatar o material que originalmente tinha sido gravado pelos Beatles sob o título de Get back (um nome bem melhor, por sinal). Acabou transformando o álbum “apenas” na trilha sonora de um filme mais controverso ainda na história da banda, Let it be. No LP que deixou Paul puto da vida, os fãs ouviam uma versão não-oficialmente acabada de Across the universe, a balada de piano The long and winding road com glacê de orquestra e coral, além de conversas de estúdio e improvisos.

O ORIGINAL JÁ DAVA PROBLEMAS…

Let it be tinha deixado uma impressão ruim em alguns críticos. Aliás, mesmo os fãs ardorosos da banda não escondiam a decepção. Paul McCartney e John Lennon tinham opiniões discordantes quanto ao resultado. O primeiro sempre falava mal do álbum e o segundo defendia Phil Spector – que inclusive produziria discos solo dele. Quanto ao filme resultante das sessões, também era deprimente e, àquela altura, tinha final previsível.

Aliás, George Harrison e Ringo Starr também costumavam defender Phil Spector, dando a entender que, para irritar o ex-colega e autor de Yesterday, valia de tudo. O rolê de Let it be deu pulga na cama de Paul por vários anos, mas ficou de lado. A história só era desenterrada quando aconteciam banalidades como o esquecimento do álbum na discografia americana dos Beatles, após a década de 1970. Let it be chegou a ficar fora de catálogo nos EUA por alguns anos.

MANDA NUDES

Em 2002, tocou o telefone no Abbey Road Studios e era Neil Aspinall, da Apple, encomendando um serviço. O executivo queria um redesenho completo nas mixagens de Let it be, a pedido de Paul.

O ex-beatle tinha encontrado com o diretor de Let it be, Michael Lindsay-Hogg, e o papo tinha sido um provável relançamento do filme, com trilha sonora remixada. A partir do projeto novo, a equipe do estúdio reeditou músicas, substituiu faixas (Don’t let me down foi recriada a partir de duas versões diferentes) e cortou coisas (Dig it e Maggie Mae, dois improvisos que só faziam sentido no contexto de trilha sonora de filme, sambaram fora sem dó nem piedade). The long and winding road ficou (finalmente!) sem as cordas e os corais.

Foi nessa que a versão “naked” de Let it be veio ao mundo, com Paul finalmente resolvendo, após mais de três décadas, um rancor digno de letra de bolero. Houve quem curtisse e houve quem odiasse o que o ex-beatle fez, até porque os fãs estavam devidamente acostumados com o Let it be original. Muita gente viu aquilo como um capricho de Paul e como uma perda de tempo, já que os fãs queriam mesmo era ver o filme em DVD.

De qualquer jeito, quando a discografia da banda foi remasterizada em 2009, veio à tona que Let it be… naked era o item menos procurado do catálogo beatle. A resposta do público, enfim, era bem clara. Hoje, ele pode ser ouvido tanto no YouTube quanto em outras plataformas.

E O FILME?

Bom, o filme Let it be está sendo retrabalhado para lançamento em 2021, sob o comando de Peter Jackson, diretor de O senhor dos anéis (por acaso, como você já até leu no POP FANTASMA, os Beatles quase fizeram uma versão cinematográfica da história de J.R.R. Tolkien). Por causa da pandemia (que atrasou todo o trabalho em um ano), a equipe mudou-se para a Nova Zelândia, menos castigada pelo vírus, e tem à disposição 56 horas de filmagens dos Beatles nunca antes vistas.

O primeiro vídeo do material mostra um clima bem diferente do filme original, com os Beatles parecendo bem mais felizinhos em estúdio – John Lennon em especial. O diretor faz questão de afirmar que não se trata de um trailer, mas de uma pequena amostra do “espírito” do filme. Aparentemente, é o Let it be peladão que os fãs merecem.

Veja todos os Discos da Discórdia aqui.

Tem conteúdo extra desta e de outras matérias do POP FANTASMA em nosso Instagram.

Cultura Pop

No nosso podcast, os últimos dois anos do Nirvana (e de Kurt Cobain)

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Não é uma história fácil de ouvir – já avisamos. O final é triste, as atitudes foram impensadas, o entorno era completamente tóxico. Em seus últimos dois anos, o Nirvana teve mais “acontecimentos” em sua carreira e nas vidas pessoais de seus integrantes do que em dez anos de várias bandas. Foi uma banda que vendeu quase tanto jornal quanto disco e ingresso para show -não houve ser humano vivo que não acompanhasse de perto a vida do vocalista Kurt Cobain. No meio do caminho, um disco que se tornou um sonho e um pesadelo para todos os envolvidos, In utero (1993), o último do grupo.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast. a gente dá uma olhada em como andavam as coisas com Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl entre 1992 e 1994. E aproveita para dar uma olhada no mundo no rock alternativo, no fim da “onda grunge” e em como bandas como Nirvana e Sonic Youth foram criando uma nova onda de interesse pelo rock, a partir dos sons do submundo.

Século 21 no podcast: Mannequin Pussy e Morcegula.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o R.E.M. de “Automatic for the people” e “Monster”

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No nosso podcast, o R.E.M. de "Automatic for the people" e "Monster"

Já pensou que legal vender milhões e milhões de cópias de um disco? Tem gente que depois de alcançar números muito altos,  entra numa onda de “preciso vender mais que isso”. E tem gente que simplesmente finge que não liga – afinal, depois de conseguir tanta fama e grana, pra que se preocupar? E tem gente que pira. O R.E.M., por sua vez, depois de vender 9 milhões de cópias – que depois evoluíram para 18 milhões – de Out of time (1991), simplesmente já se enfiou num estúdio para preparar outro disco. E permaneceu sumido do universo das turnês, focando apenas em aparições na TV e shows ocasionais.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast, a gente dá uma olhada nos bastidores dos discos Automatic for the people (1992) e Monster (1994) e observa tudo o que estava acontecendo com uma das maiores bandas de rock do mundo, numa época em que parecia que Peter Buck, Michael Stipe, Bill Berry e Mike Mills eram ouvidos até por gente que nem tinha o hábito de ouvir música.

Século 21 no podcast: Dolly e The Parking Lots.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas!

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Crítica

Ouvimos: Pavement, “Cautionary tales: Jukebox classiques”

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Ouvimos: Pavement, "Cautionary tales: Jukebox classiques"
  • Cautionary tales: Jukebox classiques é o novo box retrospectivo do Pavement, com músicas dos lançamentos da banda em 7 polegadas, além de algumas outras coisas, como as versões alternativas das faixas Black out e Extradition, lançadas em 2006 para quem fez a pré-encomenda da nova versão do disco Wowee zowee (1995).
  • A caixa já está disponível nas plataformas – mas em formato físico, Cautionary tales sai apenas no dia 12 de julho. O pacote inclui reproduções dos singles originais de 7″ e um livreto de 24 páginas.

Blur, Cate Le Bon, Parquet Courts, Nirvana, Weezer, Super Furry Animals, The Coral e até o R.E.M. Todas essas bandas/artistas, em algum momento da carreira, foram comparadíssimas a um verdadeiro gigante do indie rock, o Pavement. Ou se deixaram deliberadamente influenciar pela banda criada pelos guitarristas e vocalistas Stephen Malkmus e Scott Kannberg. Um grupo que, vindo da Califórnia, estava mais para projetinho lo-fi e barulhento vindo de Nova York ou de algum canto ensimesmado de Seattle, embora fizesse sentido no cenário de um estado norte-americano bastante diversificado.

No caso do Nirvana, passou para a história o quanto a música do Pavement inspirou a composição de In utero (1993), último álbum do trio liderado por Kurt Cobain. Dando uma ouvida nas primeiras faixas desse Cautionary tales: Jukebox classiques, caixa (por enquanto apenas virtual) reunindo todo o material de 7 polegadas lançado pelo grupo, fica evidente que sem o ruído berrado dos dois primeiros EPs do Pavement, Slay tracks: 1933 – 1969 (1989) e Demolition plot J-7 (1990), porradas do álbum do Nirvana como Scentless apprentice não teriam sido feitas.

As onze faixas desses dois EPs (incluindo pérolas como Box elder e You’re killing me!) perfazem a primeiríssima fase da carreira do Pavement, uma banda que, por ter vindo de uma cidade pequena na Califórnia (Stockton), parecia se sentir mais à vontade para zoar tudo o que via de longe, e ainda falar do dia a dia de seus conterrâneos nas letras. O próprio grupo não parecia perceber o quanto seu som, apesar de focar no ruído, era sociável – caíram até nas graças do DJ inglês John Peel, que descobriu a banda e passou a divulgá-la.

Slanted and enchanted, álbum de estreia (1992), provocou inveja em boa parte dos grandes nomes do rock da época, Kurt Cobain incluso: era porrada musical elaborada, com uma ou outra canção com tendência a grudar no ouvido – Summer babe, incluída no box, era desse disco, e Cautionary tales resgata também lados B como Baptist blackstick e raridades como Sue me Jack, rock suingado e elegante para os padrões do grupo na época.

De Crooked rain, crooked rain (1994, o segundo disco) em diante, o Pavement ficaria mais elegante, inclusive. Traria barulhos incluídos de modo dosado, em meio a canções mais formais, influenciadas por country, power pop, Beach Boys, Neil Young. A banda juvenil dos primeiros EPs estava se tornando um The Cure bem mais indie, um Television dos anos 1990 ou quem sabe um Grateful Dead da mesma década – misterioso, cultuado e com um séquito de fãs.

Essa história é contada por intermédio de músicas que fizeram o grupo ganhar um número bem grande de fãs no Brasil, como Cut your hair e a bela e quase radiofônica Gold soundz. Ou Range life, canção que, em sua letra, espalhava brasa para Smashing Pumpkins (“eles não têm nenhuma função, e eu não entendo uma palavra do que eles dizem”) e Stone Temple Pilots (“eles não merecem nada mais do que eu”). Billy Corgan, dos Pumpkins, agarrou ódio do Pavement por causa disso – já se recusou a dividir palco com eles em festivais.

Lados B dessa época, como a vinheta instrumental Kneeling bus, com bateria desencontrada e tom dado por riffs de guitarra e solos de piano elétrico, são as boas descobertas da caixa. Daí para diante, o Pavement já fazia parte do cenário indie oscilando entre canções contemplativas e melodias que sequestravam a atenção – além de letras que os fãs, antes de tudo, gostavam de discutir. I love Perth, referência à maior cidade da Austrália Ocidental, faz os fãs australianos da banda debaterem em fóruns na internet até hoje.

A referência irônica à psicodelia californiana de Gangsters and pranksters também despertou a atenção de muita gente. Unseen power of the picket fence, feita pela banda para aparecer na coletânea No alternative (1993), é cara de pau: a música pinta um retrato bem estranho do R.E.M., a ponto de muita gente se perguntar até hoje se ninguém da banda ficou ofendido ou grilado com versos como “o cantor tinha cabelo comprido/o baterista sabia como se restringir/o cara do baixo tinha os movimentos certos/o guitarrista não era nenhum santo”, em meio a referências a discos e músicas do quarteto (“Time after time era a música que eu tinha como menos favorita”, cantam).

O slacker rock (sinônimo de rock blasé e garageiro) do Pavement foi se tornando cada vez mais palatável e de longo alcance à medida que novos álbuns surgiam: Wowee zowee (1995), o ultra-trabalhado Brighten the corners (1997) e finalmente o controverso Terror twilight (1999) – este, produzido por Nigel Godrich (Radiohead), que tentou colocar o espírito livre do Pavement numa redoma, embora a banda tenha soado fora de tempo e espaço como sempre, em Spit on a stranger e Carrot rope, além do B side Harness your hopes, tudo isso presente em Cautionary tales. Uma história bem legal de ouvir, e de contar.

Nota: 10
Gravadora: Matador.

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