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Cultura Pop

Resolveram comemorar os 40 anos da Disco Demolition Night

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Não achamos que vale a pena comemorar isso, mas vamos lá: em 12 de julho, a Disco Demolition Night completou 40 anos.

Foi um dos eventos mais bizarros e escrotos da história da cultura pop, e uniu situações que mais parecem tiradas de um exercício de análise combinatória: a paixão pelo rock, o amor pelo beisebol (!) e o ódio à música disco – que começava a ficar em baixa naquele ano de 1979.

O fato é que, no fim de uma partida entre os Chicago White Sox e os Detroit Tigers, no estádio Comiskey Park, em Chicago, explodiram um caixote cheio de álbuns de disco music (!). Uma ideia que acabou ganhando (é a opinião de muita gente séria) contornos racistas e homofóbicos, dado o caráter libertário e diversificado da música disco. Vários desses álbuns explodidos foram doados pelo próprio público – que, se levasse LPs do estilo musical, ganharia desconto na entrada.

A novidade a respeito do assunto é que fizeram um compilado nunca visto de imagens do evento, incluindo o antes, o durante e o depois da história. Além de imagens e sons da turba berrando “disco sucks!” (espécie de grito de guerra do evento).

A Disco Demolition Night foi uma ideia dos White Sox, time que vinha fazendo uma campanha apagada naquele período, e que costumava criar “acontecimentos” durante as partidas para aumentar as vendas dos ingressos. E garantir que os fãs teriam alguma experiência além dos jogos. Em busca de um nome para ajudar, o time contratou um radialista e comediante chamado Steve Dahl para promover o tal rally anti-disco. É o cara da foto aí de baixo.

Resolveram comemorar os 40 anos da Disco Demolition Night

Dahl tinha razões pessoais para aderir à ideia: tinha sido demitido de uma emissora de rádio quando ela resolveu parar de tocar rock e focar só em sons dançantes. Recontratado por outra estação, Dahl e o parceiro Garry Meier passavam boa parte do tempo zoando impiedosamente os hits da disco. Dahl chegou a gravar uma paródia de Do ya think I’m sexy, de Rod Stewart, chamada Do ya think I’m disco.

A disco music tinha um papel libertador real – durante os anos 1970, colocou vários artistas negros e cantoras nas paradas, deu uma bela revitalizada na soul music, pôs novos contornos no que se conhecia como “música para dançar” (com canções que ultrapassavam os dez minutos e LPs de “som contínuo” que se tornavam verdadeiros módulos dançantes). E foi a música-tema de várias comunidades oprimidas ao redor do mundo: gays, latino-americanos, afrodescendentes, etc. O que alegadamente fazia uma turma enorme odiar (a ponto de mandar incinerar LPs de) disco music era que aquela magia do começo havia acabado, e que o estilo musical espalhava-se feito praga, com vários diluidores transformando tal sonoridade numa caricatura. E, claro, rolava uma dor de corno violenta dos fãs e DJs de rock.

O tal evento foi forte o suficiente para atrair cerca de 50 mil pessoas – entre torcedores e não-fãs de disco music. E a ponto de rolar uma invasão monstra de pagantes ao gramado do estádio na hora da tal incineração dos LPs. As pisadas dessa galera danificaram (muito) o gramado. Funcionários negros do estádio alegam terem sofrido racismo de alguns pagantes. Um deles afirmou que havia pessoas destruindo LPs de black music, não exatamente de disco, e que os trabalhadores negros eram brindados com piadas e sorrisinhos irônicos enquanto os álbuns eram quebrados.

Volta e meia aparece escrito por aí que a incineração de LPs no estádio ajudou a tirar a disco music das paradas. O estilo já vinha perdendo terreno. E estava (de fato) diluído a ponto de artistas totalmente alheios ao clima das boates terem feito crossovers com o gênero. Teve gente pra burro (inclusive jornalistas da Rolling Stone) que publicou em tempo real artigos apontando o evento como “limpeza étnica nas rádios”. Nile Rodgers, do Chic, resumiu da melhor maneira, comparando o evento com a queima de livros feita pelos nazistas.

Dahl, que hoje ainda trabalha como radialista (e podcaster), contou seu lado da história em 2016 num livro chamado Disco demolition: The night disco died. Negou que o evento fosse racista e anti-gay e alegou que a tal destruição de discos surgiu por causa da faceta eminentemente roqueira de Chicago, um lugar bem diferente de Londres e Nova York, onde basicamente (no testemunho dele) só havia fãs de rock. Admitiu que rolava ali também o lado pessoal, de ele ter sido demitido de uma rádio quando ela deixou de tocar rock (parte das argumentações de Dahl surgiram num artigo que ele fez para o Medium).

E para todo mundo esquecer dessa ideia imbecil de destruir LPs de disco music, pega aí um som do Chic.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Donna Summer e a era de “I feel love” e “Bad girls”

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No nosso podcast, Donna Summer e seus hits entre 1977 e 1979

Tem uma rainha do pop vindo ao Brasil, como todo mundo já sabe. Mas o pop é tão amplo (e tão repleto de súditos) que tem um reinado beeem grande, no qual cabem vários reis e rainhas. E a nossa rainha do pop é aquela que, acompanhada de seu time preferido de parceiros, ajudou a construir a música do futuro em 1977. Foi quando Donna Summer lançou I feel love, uma peça disco que, dizem várias testemunhas, mudou a maneira como as pessoas ouvem música.

Hoje no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, o assunto é aquela época em que Donna Summer, que já era “a rainha do amor” graças a hits como Love to love you baby, foi além do estilo musical e da imagem que a consagraram. Lançou álbuns conceituais, promoveu uma viagem no tempo (no álbum I remember yesterday, de 1977) e promoveu flertes entre disco e new wave (no duplo Bad girls, de 1979).

Século 21 no podcast: Girl Ray e Dani Vallejo.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Relembrando: Johnny Thunders, “Stations of the cross” (1982/1987)

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Relembrando: Johnny Thunders, "Stations of the cross"

Até mesmo um sujeito com uma vida bem louca como Johnny Thunders (1952-1991) tinha direito a momentos de (suposta) calmaria. O ex-guitarrista dos New York Dolls não teve uma carreira solo das mais constantes – ressurgiu em 1978 no mercado com So alone, um disco entre o punk e o rock básico, com produção de Steve Lillywhite. Entre vícios, retornos e situações de baixa, chegou a morar na Suécia com esposa e filha.

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Foi depois desse período de (vamos dizer assim) calma que surgiu o álbum duplo Stations of the cross, gravado em 1982 durante duas noites no Mudd Club, em Nova York, mas que só chegou às lojas em 1987 – e inicialmente apenas em K7, como parte da série de lançamentos em fitinhas pelo mitológico selo ROIR. Só depois de um tempo, o disco foi lançado em LP e CD (em vinil, saiu uma edição dupla na França em 1991). O disco na verdade traz mesmo é um show de sua banda punk pós-Dolls, os Heartbreakers – já que tem Thunders (voz e guitarra), Walter Lure (guitarra) e Jerry Nolan (bateria), além de um tal de Talarico no baixo.

Stations of the cross quase foi um filme, ou pelo menos a trilha sonora de um. Lech Kowalski, diretor do documentário punk DOA – A rite of passage, e que depois faria Born to lose: The last rock and roll movie sobre a vida do próprio Thunders, queria ter incluído as músicas como trilha do seu filme Gringo – História de um viciado (1987), do qual Johnny teria participado, fazendo o papel nada ambicioso de Jesus Cristo.

Num textinho publicado justamente no encarte de Stations, Lech relatou o quanto foi complicado trabalhar com Johnny. O diretor foi procurar o músico em sua casa e deparou com um apartamento que vivia com a porta permanentemente aberta, com Johnny em estado permanente de torpor. Ao propor o papel a ele, ouviu de Thunders que o único script do qual precisava era uma Bíblia.

Johnny ainda era viciado em drogas – com as filmagens iniciadas, chegou a sair em busca de cocaína e desapareceu por alguns dias do set. Numa ocasião, recusou-se a tocar uma música duas vezes. Ao gravar ao vivo o material que geraria este Stations of the cross, não quis seguir a ordem estabelecida ao lado de Lech. “De fato, ele nunca nem chegou a gravar as canções que eu precisava para o filme”, reclamou o diretor.

A aventura terminou com Thunders, drogado e semi-nu, sendo atendido por paramédicos. A Lech, só restou lamentar: Gringo saiu, mas o diretor desistiu de incluir as passagens de Thunders e decidiu reservá-las para um filme que nunca foi lançado, Stations of the cross. O disco em questão – produzido pelo próprio cineasta – fica então mais ou menos a trilha sonora de um filme que nunca foi lançado, e como uma trilha alternativa de Gringo.

O som de Stations of the cross é básico, formado por uma mescla de clássicos do próprio Thunders, com regravações como (I’m not your) Stepping stone (Paul Revere & The Raiders), Pipeline (The Chantays), Do you love me (Dave Clark Five). Tem também Chinese rocks, canção dividida entre Ramones e The Heartbreakers, cuja autoria costuma ser reclamada pelas duas bandas, e que surge aqui cantada com uma desafinação considerável. O material é complementado por conversas de bastidores e o que parecem ser trechos falados das filmagens.

Nesse papo aqui, Lech detalha um pouco sobre como foi trabalhar com Johnny, um sujeito que ele teve como fonte por alguns anos, e um personagem pelo qual se interessava, mas de quem pessoalmente ele não gostava de jeito nenhum. Quando decidiu fazer Born to lose, sobre Thunders, havia tido um contato rápido com uma das esposas do músico, e conheceu um dos filhos do artista – o garoto estava preso, na ocasião. O lado escroto e babacão de Thunders fica claro em atitudes, imagens e até em letras de músicas (inclusive nesse Stations of the cross, vale informar). Quando acerta, é um clássico do rock.

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Relembrando: Public Image Ltd, “The flowers of romance” (1981)

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Relembrando: Public Image Ltd, "The flowers of romance" (1981)

Keith Levene, guitarrista que se dividiu em vários instrumentos nesse The flowers of romance, chegou a afirmar que o terceiro álbum de estúdio do Public Image Ltd é “provavelmente o disco mais anti-comercial já entregue a uma gravadora”. Faz sentido: The flowers mal pode ser chamado de punk ou pós-punk. Está mais para uma aventura experimental e percussiva, com músicas compostas apenas de voz e bateria (a claustrofóbica Four enclosed walls), voz, percussão, sinos e ruídos (Phenagen), voz, bateria e sons orquestrais tirados com virulência punk (a faixa-título), voz, bateria brutal e ruídos (Under the house).

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O som vai do mais assustador e climático ao mais documental, com sons ciganos e flamencos unidos a uma espécie de “música de selva”, dada pelo som da bateria e pelos vocais de John Lydon. Hymie’s him, com sintetizadores, percussões e batidas de latão, soa “industrial” anos antes de tal termo ficar famoso. Banging the door é um quase reggae que destaca o uso de sintetizadores Moog. Francis Massacre é literalmente um massacre sonoro, trazendo vocais lamentosos, batidas tribais e sons de guerra. A associação com a música e o imaginário hispânico surgem já na capa, que traz Jeannette Lee, empresária, gerente e melhor amiga da banda (e hoje sócia da gravadora Rough Trade), com uma flor na boca, e ameaçando o fotógrafo (e o/a ouvinte do disco) com um pilão.

Curiosamente, mesmo sendo um disco tão anti-pop, The flowers of romance (o nome é o mesmo de uma banda cata-corno punk que surgiu antes dos Pistols, e da qual Keith Levene e Sid Vicious fizeram parte) acabou tendo lá suas dimensões pop. O som da bateria já foi elogiado por Phil Collins (que trabalhou depois com o produtor do disco, Nick Launay), e soa quase como se tivesse sido produzido para cinema, e não para um álbum.

Esse som cinematográfico não rolou por acaso. A turma do PiL (na época, os inimigos íntimos Lydon e Levene, mais o baterista Martin Atkins) aproveitou todos os recursos de um novo brinquedo do empresário Richard Branson: o estúdio The Manor, literalmente um estúdio de ponta construído numa mansão histórica. Antes de começar, foram sete dias (de um total de dez dias agendados) “curtindo” um bloqueio de compositor que travou toda a banda. Jah Wobble, baixista do PiL e sujeito cheio de ideias, saiu pouco antes da gravação, o que piorou um pouco as coisas – por acaso, só duas faixas de Flowers (Track 8 e Banging the door têm o instrumento.

The flowers of romance marcou um período de bons investimentos na banda ainda que não vendessem tanto – 1983 foi inclusive o ano do duplo Live in Tokyo, gravado no Japão, e que rendeu até um homevideo, mania da época. Daí para a frente, era o PiL virando algo mais próximo daquele som que pode até tocar no rádio, mas assusta. E muito.

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