Livros
Um papo com Dave Thompson, autor do livro Dangerous glitter

O Facebook me acordou hoje me lembrando que, há quatro anos, nesse mesmo dia, chegou na minha mão o livro Dangerous glitter — Como David Bowie, Lou Reed e Iggy Pop foram ao inferno e salvaram o rock’n roll, do jornalista britânico Dave Thompson (ed. Veneta, 400 págs., na época custava R$ 79,90). Foi enviado pela própria editora, o que significa que há quatro anos ele era lançado aqui.
Se você nunca leu, busque por aí e leia: é uma obra interessantíssima e indispensável para fãs de rock. Detalha todo o antes, durante e depois da invasão glitter. Thompson escreveu livros sobre Sylvain Sylvain, Kurt Cobain, Phil Collins, Alice Cooper, Joan Jett, David Bowie e vários outros. Especificamente sobre Bowie, pesquisa a vida dele há tempos. No livro, vi um monte de informações que eu nem sabia, como as histórias por trás dos filmes de Andy Warhol, as estranhas declarações racistas de Nico (ela chegou a ser chutada da Island, gravadora que tinha Bob Marley como topo de linha, por causa disso), a relação tensa entre Bowie e Marc Bolan, e o limbo no qual a carreira de Mick Ronson, guitarrista de Bowie, entrou após ele se lançar como artista solo.
Para comemorar a data nada redonda do lançamento do livro, desencavei a íntegra de uma entrevista que fiz com Thompson. Esse bate-papo gerou uma matéria que fiz pro jornal O Dia.
Como você começou a escrever Dangerous glitter? Bom, meu objetivo era contar uma história ímpar sobre três artistas que eram visivelmente diferentes, que trabalhavam em áreas bem diversas do rock. E sobre como eles eram unidos não apenas pela admiração mútua, mas pelo fato de estarem na crista da onda dos movimentos que fizeram sucesso na cena musical dos anos 70. Claro que alguns elementos da história se repetiam, mas havia toda uma gama de elementos não explorados que seria muito fascinante de apurar.
Houve algum problema ou dificuldade com algum entrevistado? Ou alguma reação negativa? Não, nada disso.
Qual você acredita que seja a maior contribuição do glam rock para a história do rock? O glam rock lembrou às pessoas que elas poderiam ser elas mesmas, mas sem que tivessem que mostrar suas verdadeiras faces para o mundo. É aquela coisa do “não sonhe em ser, seja!”, que se falava na peça Rocky Horror Show.
Nos anos 70 para lançar um artista como David Bowie ou Iggy Pop gastava-se uma montanha de grana em divulgação, shows mirabolantes, etc. Você diria que a indústria está hoje pagando pelos excessos dessa época? Bom, é custoso lançar um artista, mas havia um monte de dinheiro rolando naquela época de qualquer jeito. As gravadoras nem esquentavam a cabeça ao gastar o que achavam necessário… o que levava naturalmente a uma baita perda de grana e a muitos excessos. Mas isso também permitia aos artistas que se expressassem, musicalmente e visualmente, numa proporção inimaginável para as novas gerações. Quanto a isso que você falou, de “pagar pelos excessos”… Acho o contrário disso, acredito que a indústria ainda esteja colhendo os lucros desse período. O começo dos anos 70 foi uma época de ouro, durante a qual emergiu uma geração inteira de futuros superstars. Esses artistas que hoje são saudados como grandes “patrimônios”, nomes de prestígio. E que continuam a vender inúmeros produtos muito tempo depois de até mesmo as bandas que os seguiram terem sido esquecidas.
Nessa época, aliás, o lançamento de um disco era um grande acontecimento: incluía pôsteres, álbuns com capa dupla e cartas auto-endereçadas a fãs-clubes, encartes especiais, singles com sobras da gravação, etc. Você imaginaria um movimento como o glam, que incluía isso tudo, na era do streaming? Olha, eu adoraria acreditar que sim, mas estamos ainda esperando por uma maneira de reproduzir o encarte de um disco no formato digital… Acho até que é uma das razões pelas quais o vinil está voltando à moda. Tem um lugar lá para todos esses pequenos extras, e o público adora isso. Agora, sobre uma volta do glam hoje… Bom, o glam rock era bem mais do que só embalagem. Foi importante porque permitia uma olhadinha naquilo que, à época, era considerado um estilo de vida “proibido”. As pessoas sempre precisaram fazer recriações da música. Mas sem o embasamento cultural, tudo vira uma imitação barata.
Lady Gaga tem o mesmo lado extravagante do glam, além dos shows grandiosos, da disposição para manter os fãs sempre abastecidos, da obsessão pelo controle da própria carreira… Acredita que ela tenha algo a ver com o glam rock ou é tudo estratégico demais? Olha, boa pergunta, porque ela traz uma das belezas do glam rock. Parecia que naquela época, as pessoas estavam fazendo as coisas por conta própria, sem pesquisa de mercado, estratégia ou qualquer tipo de planejamento. E essa era uma das coisas que tornava tudo mais excitante. Você não sabia o que esses artistas fariam depois, porque nem mesmo eles sabiam. Hoje, parece que todo mundo está envolvido num plano de sete anos que não permite nenhum tipo de desvio de rota.
Muitas bandas daquele período, como o T Rex, tiveram muito sucesso e depois sumiram. Mas David Bowie, Iggy Pop e o Lou Reed continuaram. A obra deles resistiu ao tempo. O que você acha que contribuiu para isso? Talvez a capacidade deles de promoverem encontros com diferentes estilos de arte… Acho que isso aí que você falou é parte disso. Mas lembre: Bowie era o único nome desses que você mencionou que virou mesmo um superstar naquela época. Lou e Iggy estavam bem longe disso, em termos de música e de reconhecimento público. Bowie era excepcional porque, já no começo dos anos 70, ele estava apto para se atualizar, e de forma que tudo parecesse natural. Outras bandas – como T Rex, Slade, The Sweet – fizeram as mesmas mudanças, mas em torno de coisas que nem eram tão importantes quanto parecia a elas.
Uma outra coisa que Lou, Bowie e Iggy têm em comum é que todos os três eram considerados casos perdidos quanto iniciaram suas carreiras solo. E eles ainda tiveram diferentes fases e tomarem diferentes decisões em suas carreiras – muitas deles podem até ser consideradas verdadeiros suicídios comerciais, como o disco Metal machine music (1975), de Lou Reed. Você acha que isso seria possível hoje? É difícil de entender, mas a maior diferença entre a indústria musical dos anos 70 e a de hoje em dia é que, num passado distante, artistas eram autorizados a cometer erros e tentar coisas diferentes. Hoje, se seu primeiro disco não faz sucesso, ele é esquecido e não há uma segunda chance. E há um espaço de três, quatro anos entre os discos de um artista. Em 1972, se seu primeiro disco fracassasse, não havia problema: era só fazer mais um seis meses depois. Já hoje, quem iria querer esperar metade de uma década por um novo disco depois de um fracasso?
https://www.youtube.com/watch?v=XIMSbKU2oZM
Como você começou a escrever e quando começou seu interesse pelo glam rock? Cresci com o glam. Eu tinha 12, 13 anos e adorei o movimento desde o início. Foi nessa época que comecei a escrever, primeiro para mim mesmo, depois para fanzines.
Você lançou o romance To Major Tom: The Bowie letters (sobre um cara que é fã de Bowie e escreve várias cartas para ele durante 20 anos). Soube se David Bowie leu o livro? Houve algum tipo de autorização ou não-autorização para que o nome dele fosse usado? Nem sei se ele leu, mas ele acaba de ser relançado no Reino Unido e estou muito orgulhoso. É meu primeiro romance!
Mais da obra de Thompson aqui.
Lançamentos
Livro do DJ Zé Pedro, “Mela cueca” resgata clássicos do pop triste

“Mela cueca” é um termo que, lá pelos anos 1970/1980, era usado para definir um estilo de música romântico, melodramático, com letra geralmente falando sobre amores perdidos, ou qualquer tema que não fosse muito pra cima. Tim Maia costumava dizer que seus discos tinham lado A e lado B divididos entre “esquenta sovaco” e “mela-cueca”, mostrando o quando o termo ficou popularizado. Dessa vez, é o DJ Zé Pedro que relembra o termo em seu livro Mela cueca – As canções de amor que o mundo esqueceu (Ed. Garota FM Books), que ganha duas festas de lançamento, no Rio de Janeiro (31 de outubro, no Manouche) e em São Paulo (06 de novembro, no Bona), ambos marcados para as 20h, com entrada gratuita. O prefácio do livro é de Lulu Santos.
Mais conhecido como DJ e como curador (é criador do selo Joia Moderna, voltado para projetos da MPB que não encontram espaço em grandes gravadoras), Zé Pedro comenta no livro clássicos do pop dos anos 1970 e comecinho dos 1980, cabendo também um guia com faixas e comentários, além de textos bem confidenciais assinados por Júnior do Leme, codinome inventado pelo apresentador Carlos Imperial quando Zé Pedro participou de seu programa na TV Tupi. Ele também escreveu outro livro, Meus discos e nada mais, lançado em 2007.
O livro foi trabalhado pelo DJ durante três anos, até que teve uma troca de mensagens com Chris Fuscaldo, da editora Garota FM. Depois de um papo, a forma final do livro foi alcançada, com uma introdução vinda de vários relatos do escritor. A seleção do livro vai até 1980, quando saiu a trilha internacional da novela Água viva, “última grande trilha internacional de novelas”, segundo Zé Pedro. “De lá para cá, o som mudou, tudo ficou muito programado”, disse ao jornal O Globo.
Serviço:
RJ:
Dia: 31/10/2023 (terça-feira)
Horário: 20h
Local: Clube Manouche (Rua Jardim Botânico, 983 / basement, Rio de Janeiro)
Entrada Franca.
SP:
Dia: 06/11/2023 (segunda-feira)
Horário: 20h
Local: Bona (Rua Paulo Vieira, 101, Sumaré, São Paulo)
Entrada Franca
Nos dois casos, o livro estará á venda no local
Foto: Divulgação.
Agenda
Livro de terror do ex-vocalista da Maldita ganha lançamento no Rio neste sábado (5)

Lembra da banda carioca Maldita, que fazia um som entre o metal e o gótico e chegou a abrir shows de Marilyn Manson no Brasil? Erich Eichner, vocalista do grupo, retorna agora, mas como escritor. Ele vai lançar neste sábado (5) o livro Contos de aduana (Ed. Ilustre), reunindo quatro contos inéditos de ficção e terror. Erich é fanático pelo estilo desde criança, quando leu uma antologia que tinha os clássicos Frankenstein (Mary Shelley), Drácula (Bram Stoker) e O médico e o monstro (Robert Louis).
“Passei a frequentar livrarias atrás de tudo que poderia encontrar”, relembra o autor, que, no livro, criou personagens que foram inspirados em pessoas reais, que estão sempre em ambientes ligados a uma atmosfera musical. Transtornos afetivos, rejeição e sexualidade estão entre os temas do livro, e nomes como Leonard Cohen, David Bowie, The Doors e The Cure, admirados por Erich, surgem como referências a cada conto.
O lançamento rola neste sábado (5), às 21h, no Estação NET Rio, em Botafogo, junto com a exibição do curta Pedaços, de Erich e Pedro Punk, dentro da Mostra 26 Anos Cavideo. Tendo como locação lugares clássicos da Zona Sul, como a Praia de Ipanema e o Baixo Gávea, o filme produzido pelo Studio Contra foi feito com recursos próprios e finalizado em 2015. No papel principal, o elenco conta com o ator Carmo Dalla Vecchia, e a trilha sonora foi produzida por Scott Puttesky, mais conhecido como Daisy Berkowitz, guitarrista de Marilyn Manson. Por sinal, Erich sonha em ver seu livro levado para a tela grande.
“Uma das principais influências na minha vida é Stephen King, autor de vários best sellers adaptados para o cinema. Quem sabe Contos de Aduana vire um filme?”, conta ele, fã também de Dario Argento (Inferno). Gaspar Noé (Climax), Tobe Hooper (Poltergeist), Wes Craven (A hora do pesadelo). A editora Ilustre, por sua vez, é do jornalista e escritor Pedro de Luna, e lançou livros como Champ – a incrível história do baixista Champignon do Charlie Brown Jr, do próprio Pedro.
Exibição do Filme Pedaços
Horário: 21h na Mostra 26 Anos Cavideo
Estação NET Rio – Rua Voluntários da Pátria 35 | Botafogo | RJ
Entrada: R$ 14
Informações: 21 – 2226-1986
Cultura Pop
Conheça “Avalanche – A revolução do streaming”, livro que mapeia a nova música brasileira, e está sob financiamento

400 páginas, 51 perfis, 31 entrevistas, 200 fotos + gráficos e análises, quatro anos de pesquisa. Avalanche – A revolução do streaming (2010-2020): 51 nomes para conhecer a novíssima música brasileira, do jornalista Marcelo Monteiro, lança mão desse material, e desses números, para destrinchar o que vem acontecendo com a MPB da década passada para cá – a era em que os CDs passaram a fazer menos sentido do que a música lançada nas plataformas digitais, e o tempo em que os clipes se tornaram material para ser assistido no YouTube.
O livro está na reta final do seu financiamento coletivo, pelo Catarse (vai até dia 22 de julho), e são só mais poucos dias para quem quiser adquirir uma cópia da primeira impressão do livro, com direito a brindes especiais. Entre os nomes abordados pelo livro, estão Céu, Criolo, Emicida, Luedji Luna, BaianaSystem, Metá Metá, Boogarins e Francisco El Hombre, entre várias bandas e artistas que se tornaram ilustres (ou mais ilustres) dos anos 2020 para cá. Para o livro, Marcelo pesquisou sobre o que viu de bem perto, como jornalista (do portal Globo.com e do antigo blog Amplificador, do jornal O Globo) e como chefe de selo (o Novíssima, da Sony). O livro sai pela editora Numa.
“Avalanche apresenta levantamento inédito em livro da revolução do streaming na indústria fonográfica, impactos na música contemporânea brasileira e no mercado independente e mapa das principais revelações e festivais; vai fundo nas análises com depoimentos de personagens marcantes da indústria e dados e gráficos dos principais centros de pesquisa do Brasil e estrangeiros”, diz texto de lançamento do livro no Catarse. O prefácio é de Pena Schmidt, engenheiro de som desde os anos 1960, ex-executivo de gravadora e produtor (de Rita Lee a Titãs). Quem ler o livro, vai ganhar um bom conhecimento do que vem rolando com a indústria musical na era pós-streaming.
Em conversa com a jornalista Kamille Viola na Veja Rio, Marcelo comentou que procurou equilibrar o espaço entre estilos musicais no livro, e que seguiu o critério do “impacto, relevância, representatividade na cena contemporânea e peso dentro do gênero musical”. Os artistas selecionados foram os que mais frequentaram as listas de melhores do ano, em sites e blogs de música. Como além dos perfis, há uma lista bem grande de artistas recomendados, foram 255 nomes citados no livro.
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